VIII. Tudo em vão

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Robin

Pelo resto do dia, mantive-me em uma carranca de cólera: não poderia acreditar que Jungkook realmente havia abandonado tudo e a todos sem ao menos colocar suas explicações — mesmo que fossem a mais injustificáveis possíveis — sobre a mesa. Ele desaparecera intencionalmente e, merda, como me machucava.

Jungkook prometeu que fugíramos juntos.

Porém, sumiu como um rastro de fumaça.

Todas as minhas investigações tinham sido em vão. Toda a dor que eu estava me submetendo para encontrar uma pessoa que não queria ser encontrada foi em vão. Postar abaixo da faixa da casa de minha mãe e medir com o olhar meu padrasto para retirar alguma resposta acerca da família Green foi simplesmente uma tentativa inútil de me ver diante de Jungkook mais uma vez; no entanto, deixei-me levar pela sensação de esperança.

Eu me sentei na cama e percorri meu olhar sobre o cômodo. Cada canto havia alguma presença de Jungkook, seja de sua mochila, de suas fitas, de seus desenhos ou de nossas fotos tiradas através de uma polaroid roubada de um aluno de Fotografia.

Cada maldito canto tinha o maldito JK.

— Filho da puta. — Grunhi de maneira gutural e impulsionei meu corpo. Em minha escrivaninha, passei meu braço sobre e derrubei todo o material abandonado. Anotações, garranchos e fotos a respeito de JK foram lançados escada abaixo.

Chutei o gravador antigo — outrora inerte no tapete vermelho desbotado — e foi arremessado contra a parede de tijolos. Caindo em um baque surdo, pensei que estaria ímpar diante da voz de Jungkook, que cresceu em meio ao meu silêncio dolorido. A risada, que uma vez foi uma melodia para meus ouvidos, pareceu me apunhalar como adagas e eu estanquei meus movimentos ao perceber que a sua voz provinha do gravador, que, de alguma forma, deveria ter sido ligado.

"Sabe, hoje foi um dia incrivelmente estranho, meio confuso, assustador... E bom? Conheci uma garota aqui do campus, ela estuda Química e, posso te dizer, em primeira e segunda... Talvez uma terceira impressão possa ser um pouco rabugenta; porém, ela é doida de uma maneira incrivelmente legal. Foi com ela que saí correndo de três homens grandalhões em uma festa... E, olha, eu me segurei tanto para não borrar minhas calças"

Eu fechei minha mão em um punho, sentindo-me como se ocorrido narrado tivesse acontecido anos atrás. Aos poucos, meu corpo começou a obedecer a voz de Jungkook e, mesmo relutante, sentei-me no chão a alguns centímetros de distância do gravador.

Ainda era transparente em minhas lembranças de como nos conhecemos. Era uma noite desnuviada, em meio a uma fazenda abandonada, uma banda de rock tocava — ou, talvez, arrebentava as últimas cordas dos instrumentos — e eu estava lá, a procura de uma maneira de me divertir e ganhar algum dinheiro.

Em uma desafortunada escolha, tentei roubar a carteira de um homem que parecia se encontrar em outro mundo enquanto se agarrava aos últimos goles de uma cerveja quente. Enganada por achar que ele se encontraria em um estupor irrompível, fui surpreendida quando segurou em meu pulso com uma força paranormal e mais dois homens se viraram, prontos para arrancar meus dentes.

"Eu não sei se faltavam alguns parafusos na cabeça daquela mulher, mas mesmo sendo tão pequena, queria brigar com os três brutamontes que a cercava. E, eu, com minhas medalhas de fuga e luta conquistadas pelas ruas de minha antiga cidade, tentei intervir, mas, os caras deveriam ter cachaça no lugar do cérebro... Não me ouviram e sobrou para eu desviar dos pontapés e socos dos hipopótamos." — Ele riu brevemente e sorri, de forma espontânea. — "Então eu tive a mais brilhante ideia: puxar a garota e correr desesperadamente em busca de um abrigo em meio ao bosque. Sou um completo tolo... Mas, para viver aquele momento novamente, enfrentaria os boçais quantas vezes fosse preciso. Eu gargalhava enquanto ela ficava cada vez mais brava e perguntava se eu era um desmiolado... E isso... Foi bom"

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⏰ Last updated: Jul 02, 2021 ⏰

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