VI. Chuva no campo de futebol

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Robin

Confiar em alguém era uma tarefa laboriosa durante os últimos anos. Eu ainda reservava minha desconfiança quando me via indecisa sobre contar ou não algo para qualquer pessoa que fosse. Confiar era como segurar água em mãos de concha: fácil derramar sobre o oceano de dúvidas e quase impossível de recuperá-la; entretanto, Hoseok quebrou esse paradigma. E, por algum motivo, meus dias pareciam ser mais coloridos.

Então, em frente à saída do prédio da reitoria, camuflada embaixo das sombras das árvores, eu retomei meus planos que desenvolvi com Hoseok nos últimos dias. Delineamos pequenos objetivos que poderiam se conectar ou serem completamente avulsos um do outro e um deles era descobrir qual dos membros da família Green havia atirado em mim.

Ademais, recordava-me vagamente de Jungkook iniciar uma procura incessante acerca de um mistério que os cingiam. Por que ele tinha tanto interesse naquela família lunática? Minhas respostas eram vazias e isso me afligia, não ter conhecimento a respeito de alguém que era tão próximo de mim era doloroso.

Não há necessidade de nós fazermos isso. — Hoseok protestou quando nos encontramos em minha casa. O mapa da reitoria estava estendido sobre a mesa e ele tinha um lápis em mãos, cujas extremidades apertavam o material em um medo palpável. — Jimin e Harris são inocentes. Harris é um idiota, mas ele jamais atiraria em alguém. E Jimin... Bem, é o Jimin. Ele não faz mal a uma mosca.

Você disse que um Green atirou em mim. — Retruquei e ele engoliu em seco.

É o que eu acho o que eu ouvi.

Segurei-o pelos ombros e o obriguei a me encarar. Seus olhos azeviches me remetiam à sua criança, no momento que nos arriscamos a assistir O Exorcista pela primeira vez; naquela noite, dormimos de mãos dadas e inteiramente estarrecidos com as filmagens que nos pareciam tão reais.

Atiraram ou não?

Sim...

Então, vamos checar cada um dos Green. — Anunciei. — Eu vou matar o cérebro de minhoca que fez isso. — Em seguida, meneei minha cabeça para o relógio pendurado em minha cozinha e lhe entreguei um sorriso galhofeiro. — Terça-feira. Uma da manhã.

Tão tarde?

Eu trabalho. E, nos filmes, eles sempre invadem os lugares à noite. — Hoseok expirou pesadamente enquanto passava a mão pelo cabelo, jogando-o para trás.

Só não nos mate, está bem?

Temos o relógio

O relógio não funciona se ninguém estiver vivo para apertá-lo.

Touché.

Agora, assistindo aos poucos as luzes do dormitório se apagarem uma por uma, inspirei profundamente uma última vez antes de me retirar do carro e cobrir minha cabeça com o capuz de meu moletom preto para, logo, depositar a alça da mochila em meu ombro. Eu nunca havia invadido um local tão bem protegido quanto o prédio da reitoria e, por isso, sentia minhas veias pulsando sob a epiderme. A adrenalina começava a dar seus indícios e eu sorri ao pular o muro dos fundos do campus.

Ao rabo dos olhos, procurei a primeira câmera que eu deveria desviar. Anteriormente, Hoseok ficou perambulando pelos caminhos divergentes e procurou cada vigia que poderia ser um problema para nós dois. Ele fez um bom trabalho., confirmei após me esgueirar para a única porta do prédio que não havia nenhuma câmera.

Sob a penumbra, Hoseok tinha as mãos no bolso de sua calça preta e olhava para os cantos em um nervosismo tangível enquanto mastigava sua bochecha interna em uma maneira de acalmar seus demônios. Assim que eu cheguei perto dele, Hoseok levantou uma máscara preta e cobriu a parte inferior de seu rosto, escondendo sua boca e seu nariz.

ResfeberWhere stories live. Discover now