IV. Exaurido emocionalmente

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Robin

Eu necessitava de tempo para recapitular o que havia acontecido nos últimos meses, por isso, pedi um tempo a Hoseok para planificar meus pensamentos.

Em um dia, Jungkook e eu estávamos no farol em completo silêncio, afogando-nos em nossos próprios demônios quando ele disse que deveríamos abandonar cada memória de Ardoch City e viajar pelo estado, aventurando-nos como verdadeiros forasteiros.

Não que neurônios me faltassem, entretanto, a ideia foi, ao mesmo tempo, tentadora e inconcebível, além disso, o que eu tinha a perder? A desavença com minha mãe estava cada vez mais palpável e a repulsa em relação ao meu padrasto era mais forte do que qualquer sentimento que nutria pelo homem.

Meu pai morreu em consequência de um acidente de trabalho e, ainda que estivéssemos em um profundo luto, minha mãe depositou todas as suas consternações no investigador. Em um primeiro plano, não apresentei qualquer reação: era a sua forma de lidar com a perda; porém, após a entrada definitiva de Hughes em nossa casa e comandar cada canto dela como se fosse seu lar, mais do que rapidamente recolhi meus pertences e tentei a sorte começar uma vida solitária.

Juntamente com a procura de um emprego repercutindo em meus pensamentos, eu recebi uma carta referente ao meu ingresso em Anthurium University e, mais do que sorte caindo em minhas mãos, conquistei uma bolsa que iria me ajudar a enfrentar minhas futuras despesas. No entanto, mesmo morando no dormitório que a universidade oferecia, tive de gastar meu período noturno em empregos duvidosos.

Até um certo dia, minha bolsa ser cortada e eu ser obrigada a me retirar mais do que imediatamente do curso: não havia nenhuma maneira em que eu conseguiria me manter naquele ambiente. Sorte no azar, um pequeno fundo de economia estava guardado em meu porquinho e o usei para dar entrada a um loft um pouco distante do centro da cidade.

Encarando os ponteiros do relógio se movimentarem vagarosamente, concluí que ainda havia um certo tempo para refletir antes de iniciar o meu primeiro expediente do dia: servir de garçonete em uma lanchonete de temática pirata.

Ao terminar de fechar os botões de minha calça jeans, sentei-me em minha cama enquanto decaía meu olhar sobre os pertences abandonados preguiçosamente em cada canto do mezanino. Quando percebi que ninguém mais mexeria um dedo para continuar as buscas por Jungkook, decidi que iniciaria minha própria investigação.

A incorporação do Sherlock Holmes foi um iminente desastre: em semanas de procura, eu somente consegui reunir a mochila de JK e seus gravadores. Fora isso, andava em círculos e a cada vez que concluía absolutamente nada em minhas investigações, sentia-o se distanciar de mim.

O que me mantinha conectada com Jungkook era seu relógio, em que eu sempre o via carregar em seu bolso ou preso em seu pescoço. No fim, deduzi que o objeto era mais um amuleto do que um artificio para consertar os problemas do passado. Quando Hoseok apareceu com o relógio pela primeira vez, pensei em extorquir, porém, também, pela primeira vez, percebi o peso da perda sendo retirado de meus ombros, como se a responsabilidade por uma pessoa fosse desvanecida.

Mesmo com o distanciamento conforme os anos se passaram, eu reconhecia os traços mais diáfanos de Hoseok e sabia que as chances de ele brincar com o relógio eram mínimas, quase nulas. Por mais que aparentasse negligência em nossa amizade, ele tinha um grande poder de confiança e fazia jus a essa característica.

Então, meus olhos declinaram para minhas mãos. Um curativo feito de maneira relapsa tentava disfarçar a queimadura que preenchia a extensão da minha palma e, ao fazer o movimento de punho, senti o ardor percorrer rapidamente e murmurei um xingamento, amaldiçoando-me por crer que seria capaz de vencer um relógio e quebrar seu paradigma.

ResfeberWhere stories live. Discover now