VII. Tiro no escuro

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Hoseok

Meu sonho se passara como breu em minha visão, contudo, encontrava-me em uma das últimas camadas de meu sono quando o som de dedos martelando contra um teclado invadiram minha audição e, no mesmo instante, ao me lembrar dos acontecimentos dessa mesma madrugada, abri os olhos em desespero.

A cena que surgiu à minha frente causou frêmitos de angústia e de dor: Robin estava sentada no chão com o meu notebook em seu colo enquanto massacrava as teclas de meu presente que recebi quando ingressei em Anthurium. Levantei-me rapidamente e peguei o meu computador, abraçando-o e o protegendo dela.

— Você quer um martelo por acaso?! — Indaguei com a voz rouca. — Porque acho que ele é um pouquinho mais pesado do que sua mão de ogra!

Em resposta, Robin impulsionou seu corpo para frente e se pôs de pé, encarando-me com um semblante circunspecto. Em seguida, ela andou até mim e virou o notebook em minha direção. Na tela de início, havia uma janela que exigia uma senha para ter a possibilidade de visualizar algum arquivo e, tentando compreendê-la, corri meu olhar sobre o aparelho até estancá-lo ao perceber o pen-drive de Chin Mae acoplado em uma das entradas USB.

— Eu tentei todas as senhas possíveis. — Falou. — Desde "1234567" até "coelhinhodaGeni".

Eu inclinei minha cabeça para o lado, confuso. Geni era a esposa de Chin Mae. Robin, mantendo-se em seu costumeiro nível de paciência inexistente, rolou os olhos e bufou.

— Geni o chama assim quando quer alguma coisa.

Segurei uma risada entre meus dentes e retornei minha atenção à Robin. Sua aparência estava visivelmente derreada: grandes elipses escuras se formavam abaixo de seus olhos e suas palavras se arrastavam em uma demora prolongada. Eu franzi meu cenho à medida que seus dedos apertavam contra o notebook.

— Você ficou a madrugada toda tentando decifrar? — Perguntei e ela levantou o olhar, abatida; em seguida, concordou com a cabeça e sorriu, consternada.

Eu tentei acertar... Mas, sequer sei o que tem nesse pen-drive. — Desabafou ao curvar seus ombros. — Meu maior medo é saber que perdi dias por conta dessa besteira de procurar os filhos do Davion. — Tentei me aproximar dela, porém, ela recuou um passo. — E se estivermos nos confundindo? Você tem certeza de que escutou certo? Era um Green mesmo? Hoseok, eu...

Eu a interrompi ao retirar o notebook de seu braço e o depositei em minha escrivaninha. Logo, encarei-a a um custo de encontrar palavras de conforto: Robin estava cansada de tudo isso e era tangível. Por um longo período, trabalhou sozinha para buscar o paradeiro de Jungkook e, agora, além de precisarmos achá-lo, havia uma crescente necessidade de encontrar o atirador do beco. Ele poderia ser um perigo alarmante se fosse um dos filhos de Davion.

No entanto, outro problema suscitou em sua fala: estávamos caminhando realmente no caminho certo? Eu não tinha uma resposta certa, tudo era uma nódoa espessa e nós tentávamos trazer alguma claridade para desvendar todo o mistério que nos rodeava.

Segurei-a pelos ombros e os apertei sutilmente. Entreguei-lhe meu melhor sorriso e levantei com meus dedos o seu queixo, permitindo que ela me encarasse de volta. No instante seguinte, imagens da madrugada se originaram em minhas lembranças apagadas e eu senti o sangue ferver sob minha pele.

Robin e eu havíamos nos beijado?, questionei minha sanidade. A adrenalina causada no momento que senti meu corpo ir de encontro ao arbusto poderia ter interferido em minhas memórias, correto? Afinal, Robin era minha melhor amiga de infância. E melhores amigos não se beijam.

ResfeberWhere stories live. Discover now