Ao olhar-me no espelho, poderia pensar que era a mesma Jennie Kim de sempre. Contudo, eu não era mais a mesma. Havia descoberto essa parte de mim, no centro do meu ser, que me fazia sentir genuína e viva. Mais consciente do meu lugar em relação aos outros. Em relação à Lisa, claro, mas também ao restante do mundo. Consciente do que o mundo pensava de mim e do que poderia fazer comigo.
Lisa tinha razão… De repente, desabou sobre mim a percepção da minha vulnerabilidade. Porque importava o que as pessoas pensavam.
Da minha cabine de estudo, nos fundos do centro de mídia, vi um carro abarrotado de gente fazendo a curva e acelerando. Provavelmente, indo para o McDonald’s ou o Taco Bell. Fechei os olhos e suspirei. Meu isolamento autoimposto estava começando a me desgastar.
Sentia falta dos amigos, da Chaeyoung, da Jisoo e até do Kai. Sentia saudades do bate-papo, das risadas. Sentia falta de sair para almoçar, para patinar ou ir a qualquer lugar em grupo. Não é que Lisa não preenchesse minhas necessidades. Ela preenchia. Eu só queria que mais pessoas participassem da minha vida.
— Você está guardando este lugar para alguém?
Minha cabeça girou.
— Chae, oi. — Eu me animei. — Não. Senta. — Virei-me e gesticulei para que ela viesse se sentar na cadeira ao meu lado.
Ela se acomodou.
— O que está acontecendo com você? — Ela perguntou.
O sangue subiu ao meu rosto.
— O que quer dizer? — Abaixei a cabeça, fingindo uma tentativa de achar a página onde havia parado em Os Contos da Cantuária.
— Liguei pra você quatro vezes esta semana e você nunca me ligou de volta. O que eu fiz? Você está brava comigo?
— Não, não estou.
O olhar dela me prendeu. Havia mágoa em seus olhos.
— Rosie, você não fez nada. Não estou brava com você. Juro. — Cruzei os dedos sobre o coração duas vezes, como costumávamos fazer quando crianças.
Chaeyoung me estudou por um bom tempo.
— A gente nunca mais viu você. Eu nunca vejo você. É como se você tivesse deixado o planeta. Parou de almoçar conosco, nunca vem à minha casa, nem me liga.
— Só estou com coisas demais a fazer — contei a ela. — Coisas demais. — Para provar, comecei a descarregar a mochila sobre a mesa da cabine. — Estou tão soterrada neste semestre que vou ficar louca.
Chae examinou meu rosto. Eu não conseguia nem encará-la. Em uma voz mais baixa, ela perguntou:
— Você quer conversar sobre isso, Jennie? Porque, você sabe, eu sou sua amiga, não importa o que aconteça. Você pode me contar qualquer coisa.
Uma pontada de medo se alojou na minha espinha. Ela não estava se referindo ao Kai. Ela sabia. Será que ele havia contado a ela? Ou era minha imaginação correndo solta? Por que me assustava tanto a possibilidade de Chae saber?
Mais do que tudo, eu queria contar a Rosie que meu coração estava à beira de explodir com o amor que sentia pela Lisa. Mas eu não podia. Não iria.
— Não tenho nada pra contar. — Fingi um sorriso alegre e dei de ombros.
— Certo, tudo bem. — Chaeyoung se levantou para ir embora.
— Rosie…
Ela enganchou a bolsa no ombro.
— Sinto muito — eu disse às costas dela, retirando os óculos e esfregando os olhos. — Não é você. Sou eu. Eu só… não posso.
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Nosso segredo •Jenlisa•
Ficção Adolescente[Concluída] Com o namorado dos sonhos, o cargo de Presidente do Conselho Estudantil e a chance de ir para uma Universidade de Ivy League, a vida não poderia estar mais perfeita para Jennie Kim. Ao menos, é o que parece. Até que Lalisa Manoban chega...