você me assusta

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— Vocês o quê? — grita Doyoung, exagerado, batendo no tampo da mesa.

Talvez eu esteja um pouco arrependido de ir para o seu condomínio de rico ao invés de ter falado tudo por telefone mesmo. Cruzo as pernas e acendo meu cigarro.

— Quando for virar a mesa, me avise, para que eu tire minha bebida daqui — resmungo com o cigarro na boca.

Seus olhos parecem que irão saltar da cara. Eu gosto da varanda do seu triplex. É arejada, iluminada, livre. O lugar perfeito para um cigarro.

Dei tchau a Ten há duas horas atrás. Passamos um tempo no sofá. Ele de um lado, eu de outro. Nunca pensei que o lado esquerdo viesse a ser preenchido algum dia, com tuas pernas dobradas, seu corpo pequeno, o seu foco no livro, os óculos que eu nem sabia que havia chegado dentro de casa. Sempre gastamos nossos tempos em casa assim: lendo. E de repente, ele sempre ergue o rosto e pergunta, com tua voz baixa e calma: Taeyong, o que acha disso? E no final, acabamos fazendo uma discussão.

Mas hoje ele teve que ir. Disse que precisava resolver uma coisas, ajeitou tudo, saiu com meu coração debaixo do braço, deixou-me o brilho do teu sorriso e um beijo na testa. Eu disse que isso era brega, respondeu-me que era terno. E foi-se embora ele. E da janela eu acompanhei teu carro dobrar a esquina e sumir.

— Eu creio em milagres! — Doyoung praticamente grita. Agita o telefone no ar, não para de rir. — A gente precisa contar pro Yuta.

— Que Yuta tem a ver com isso?

— Ele foi teu mestre, mal agradecido — Doyoung faz cara feia ao desbloquear o telefone e mandar inúmeras mensagens ao japonês.

Eu respiro fundo. Abraço meus joelhos e curvo minha coluna.

— Você está exagerando — chacoalho o cigarro no ar, para então esperar as cinzas caírem no cinzeiro sobre a mesa.

— Mas... E como foi?

— O quê?

— Vocês dois, Taeyong — Dodo revira os olhos. Admiro sua capacidade de animar-se tanto com a minha vida. — Usaram camisinha?

— Claro, né.

— Quantas?

— Amado... — rio sem querer. Ponho o cigarro na boca, mas nem por isso paro de sorrir com a cara dele. Eu amo tanto Doyoung e suas coisas bestas, que minha vontade é de bater na sua cara até ele tomar vergonha.

— Eu não tô brincando, não.

— Eu sei disso, e é por isso que você me assusta — o vento viola o tecido da camisa e entra sem permissão na parte superior do meu corpo. Inspiro, trago ao calor do meu pulmão a nicotina entre meus dedos. — Nada de detalhes, Doyoung.

— Ah, pois você vai dizer tudo!

— Não mesmo — solto uma lufada na tua cara. Sou esquartejado com um único olhar vindo dele.

— Me dê um motivo não mandar te matarem agora — ele está prestes a levantar e tentar me esganar.

— Somos versáteis — anuncio. — Eu e Ten.

— E o que isso quer dizer? — sua expressão suaviza.

— Podemos ser passivos ou ativos — estico meu braço esquerdo para pegar o copo com a limonada e bebo metade do líquido de uma vez enquanto Doyoung surta.

— Eu quero detalhes, menino. Conta! — outra vez, ele bate na mesa. Eu deixo o copo no mesmo lugar de antes, sua marca circular úmida decorando o tampo.

café et cigarettes༶✎༶tae•tenOnde histórias criam vida. Descubra agora