você me ama?

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Um erro, dois erros, três erros. Minha existência é duvidosa. Eu estou em conflito comigo mesmo. Postura curvada, encaro a tortinha de nozes que me encara de volta, por sua vez. Ainda escuto as cordas tangendo, então fecho os olhos e deixo a canção espancar-me com o que deveria ser doce e gostoso como mel, porém tornou-se sórdido e lascivo. Meu coração implora, jorrando sangue, enviando oxigênio para o ventrículo errado e confundindo tudo. Ele pede pra parar, não está dando conta. Não está dando conta de alguém como ele para guardar. E eu entendo. Eu entendo completamente.

- Desculpa, se você não gostou - explica-se ele, recolhendo as partituras e virando o rosto para mim.

- Eu amei - enfim, digo-lhe. - Me senti tocado. De verdade. Mas foi como se... Se a canção fosse uma pessoa, e ela tivesse me machucado. Me machucado profundamente e eu tivesse gostado disso.

Ten ri tristemente, pois sei que não é um riso de dar graça. É um riso de dor.

- Meio masoquista, não? Um masoquista sentimental - bate com os papéis na madeira, alinhando-os. Puxo minhas pernas e abraço-as, encolhendo-me completo.

- Talvez eu seja um pouco - estico a mão direita para apertar sua bochecha, porém ele se afasta antes de eu pressionar. - Sabe tocar Can't take my eyes off you?

- Sei, mas não quero - ele gira os ombros e eu observo esse movimento. Seu cordão brilhante desliza pelo seu peito e eu estico minha mão para segurá-lo e enxergar o pingente. - Taeyong, eu acho que estou a...

Ele não termina. Meus dedos congelam sobre a pecinha brilhante, seus lábios ficam parados e nada da continuação. O pingente gelado esfria meu coração. Não sou réptil, mas meu sangue muda de temperatura tão rapidamente que o choque térmico me deixa trêmulo. O colar escapa da minha mão, meu estômago dando piruetas, eu sinto que vou vomitar algum órgão. Vou vomitar meu coração. Ficou pesado aqui dentro.

- Perdão? - inclino-me em sua direção. - Que ia dizendo, Ten?

Surpreende-me com um abraço forte vindo dele. Tão repentino e apertado que me desequilibro e, se não fosse por ele me segurando, teria caído de bunda no chão. Seu peito nu contra a camiseta fina que estou usando, seus braços macios ao redor do meu corpo, me espremendo contra o teu como se fôssemos um só. Somos um só? Somos um só só hoje. Agora. Neste momento.

- Ten - sussurro, não querendo que ele me largue. - Você me ama?

- Isso realmente importa? - sua resposta não me surpreende. Não mais. Não é rude, é apenas ele.

- Não.

E assim aceitamos nossas respostas. E assim compreendo que não importa se eu perguntar, se ele responder ou me ignorar. Não vai mudar nada. Ele não vai falar que me ama. Talvez ele não me ame. Eu não me importo se ele não me ama. Eu só quero que ele fique aqui comigo, me abraçando, fazendo carinho na minha nuca e respirando no meu pescoço para me arrepiar. Eu só quero ele assim mesmo, do jeito que está, pois está bom. Não quero afastá-lo. Mas quero que ele saiba que quero estar com ele.

- Você se sente como se fosse meu? - pergunta-me de repente. Eu nem sei o porquê da pergunta, mas talvez nós ficamos tanto tempo em silêncio que acabamos pensando demais nas coisas.

- Honestamente, sim - digo-lhe, arrastando a voz rouca como se estivesse com preguiça de falar. - Mas eu não quero ser seu pra sempre.

- E eu não acredito em pra sempre - sinto seus lábios deitarem um terno beijo na minha mandíbula.

- Tudo muda - respondo. - Eu queria ser sincero com você. Ser mais sincero. Mas você não vai dar atenção o suficiente.

- Não seja tão sincero comigo, se sente assim. Eu não sou o que você merece, eu já te disse. Eu não sei o que fazer quando te vejo. Eu gosto muito de você. Mas você dá demais para mim. Eu não mereço isso. Você não merece isso.

café et cigarettes༶✎༶tae•tenOnde histórias criam vida. Descubra agora