vocês estão bem próximos, né?

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Meus joelhos dobram e meu corpo despenca no couro áspero do sofá. Checando exatamente nada no meu celular, fico pensando em ligar para Doyoung. Não tenho mais nenhum cais, nenhum farol senão ele. Então disco seu número. Respiro fundo. Me afundo no sofá.

— Eai, como foi? — seu tom malicioso desperta-me para o que está se referindo. Ah, ontem. Claro. Sinceramente, estou demasiadamente cansado e sinto que ficar uma semana em casa sem olhar a cara de um ser humano sequer me fará bem ao coração.

— Fale de tudo, menos disso — apresso-me a responder, virando meu corpo para a direção da televisão desligada.

— Nossa, Taeyong. Acho que você precisa é de cachaça — lá vem ele com as soluções nada surpreendentes. — Na verdade, estou fazendo a egípcia. Eu sei mais ou menos do que aconteceu.

— Como? — pergunto por perguntar. Está na cara a resposta.

— Ten me mandou uma mensagem meio pistola, tipo perguntando qual era a sua — Doyoung explica.

— Qual é a minha? — suspiro e fecho os olhos com força. — Bem, já nos resolvemos quanto a isso.

— Tem certeza? Vocês estão bem próximos, né? Acho que as coisas estão meio conturbadas.

— É, mas conseguimos nos resolver rapidamente. Pelo menos eu acho. Acabei de chegar em casa, estava acompanhando ele num photoshoot — travo a mandíbula ao esperar a resposta dele. Mas Dodo não diz nada. — E você respondeu o quê quando ele estava pistola?

— Eu só perguntei o que tinha acontecido, Taeyong — meu amigo respira fundo do outro lado da linha. — E ele me respondeu que você não sabe o que quer e fica confundindo ele. E que agora ele não liga mais pra isso. Mas acho que foi uma coisa de momento.

— Ele foi legal comigo o dia inteiro. E disse que sou mais do que ele merece, o que realmente não faz nenhum sentido. Pra onde foi o ego? — sento-me no sofá e arranco o tênis dos pés. Acho que vou descansar a noite inteira.

— Ele me falou sobre isso de manhã bem cedo — silêncio após isso, provavelmente ele esteja procurando a mensagem. — Ah, ele disse que você merece alguém que vá te dar o que você precisa e tanto ele quanto você sabe que esse alguém não é ele. E que... Epa, essa não posso ler.

Me levanto do sofá, pronto para gritar no telefone.

— Não pode ler por quê?

— Porque é algo que ele não quer que você saiba e eu não sou caguete — isso me deixa com mais raiva ainda. Saber que temos coisas que escondemos um do outro. Mas eu tenho o quê? Tudo transpareço, mostro a ele. Ele não faz isso por mim. Ele nunca faz.

— Como você não é, Doyoung? Você já me contou tanta coisa! — ando de um lado para o outro, esfregando as meias no tapete da sala.

— É, mas há limites. Ele vai ter que falar contigo. Enfim, foi isso que ele me falou — ele dá por encerrado o assunto e isso me deixa extremamente chateado. Dodo é meu melhor amigo e normalmente ele me contaria, pouco se importando com o fato de tratar-se de segredos de outrem.

— Bom pra você — termino com um palavrão e passo a cutucar o cós da calça emprestada de Ten. — Poxa, Dodo, você sabe que isso de segredo não vai fazer bem a mim.

— Eu sei, meu anjo, mas não posso simplesmente me meter na vida pessoal dele assim. E eu acho que vocês formam um belo casal, sabe? Só que você precisa ter mais cuidado, porque o Ten é meio maluco, ninguém entende ele — ele suspira. Eu fico escutando sua respiração em silêncio.

É irônico o modo o qual ele diz essas coisas como se eu não soubesse de nada disso. Como se eu não tivesse a consciência da maluquice ideológica dele, das dualidades confusas que só servem para fazer-me criar esperanças em algo utópico. Porque, sim, às vezes acho a nossa reciprocidade utópica. E nem eu sei o que quero dizer com isso.

— Quer saber? Se arrume, já já chego aí — escuto-o dizer, com a voz meio fraca no início, cortada no final. A ligação encerra, eu fico segurando o aparelho na mão pensando no que fazer. Talvez eu deva me arrumar e esperá-lo. Talvez eu deva ligar pro Ten e perguntar qual é a dele. Qual é a dele. Isso é engraçado.

E bem, o que devo fazer senão realizar o pedido de Dodo? Me visto com minhas próprias roupas, mas só depois de um banho quente. Eu sei do que se trata, então como um lámen para dar uma tapeada no estômago antes de jogar os litros de bomba que irei tomar. Mas, por incrível que pareça, quando estou prestes a amarrar o cadarço, adivinha quem me liga? Gostaria que fosse o Harry Styles que houvesse errado o número da mãe e acabasse por me telefonar sem querer. Mas é só o Ten. E talvez eu esteja fingindo que não é nada de mais. Talvez.

Na verdade, eu estou surtando.

— Alô? Quem é? — finjo desconhecer o número.

— Oi, Taeyong. Está bem? — indaga-me. Que ele quer? Passamos o dia inteiro juntos e mais isso? Pensava que ele não gostasse de grude.

— Uhum e você?

— Também. Eu só te liguei pra dizer que não se preocupe com suas roupas, eu vou lavá-las e te entregar segunda — ah, era só isso o que ele queria falar.

— Ok. Qualquer coisa é só me mandar mensagem — aviso, pois a sensação de escutar a voz dele me faz querê-lo por perto e acho que ele já deve estar cansado de mim. Eu não tenho mais autoestima para dizer que vou conquistá-lo. — Vou indo, tchau.

— Eu tenho outra coisa pra te... — ele nem consegue terminar a frase, pois acabo de encerrar a ligação. Foi sem querer, não sabia que ele iria dizer algo a mais. Só dei tchau e desliguei. Merda.

Mas ele me manda mensagem no mesmo momento, perguntando se quero passar um dia desses aí na sua casa, que ele tocaria piano e prepararia coisas gostosas para comermos, e que nos divertiríamos bastante. Isso me anima bastante, então concordo e marcamos: próxima sexta voltarei com ele pra casa e sábado seria nosso dia juntos. E assim que bloqueio o telefone, alguém toca a campainha.

— Olá, querido! — o primeiro a entrar é Yuta e, ainda que Dodo não tenha mencionado-o na chamada, isso não me surpreende. Nada de novo por aqui. — Como estás?

— Estava bem, antes de você aparecer — reviro os olhos e cruzo os braços, fitando Doyoung por cima do ombro do japonês.

— A gente deveria era levar esse menino para aquelas competições de corrida de cavalo. Credo, quanta ignorância! — Nakamoto reclama e se aproxima de mim. — Sim, eu fui puxado pra cá e não soube o desenrolar de ontem.

— Estudamos italiano e só — resumo tudo e já vou saindo, puxando Yuta pela manga da camisa. Tranco a porta e caminhamos nós três escada abaixo. Nunca costumamos pegar elevador algum.

— Só? — Yuta olha para Dodo, querendo confirmar a informação. O moreno aquiesce com um movimento da cabeça. — Não creio.

— Moto Moto, nem todo mundo é biscoiteiro como você, não — Doyoung revira os olhos e eu e Yuta ficamos analisando ele. Quando Doyoung vai se assumir mesmo?

— Pois deveriam — responde o Nakamoto. — Hoje somos os três mosquiteiro: TaeTae, Dodo e Moto Moto!

— Mos-que-tei-ros — divido as sílabas para fazê-lo perceber o erro. — Sinceramente...

— Não está fácil pra ninguém — Doyoung abre o portão e nós três saímos.

Caminhamos trocando farpas até o carro e passamos o caminho inteiro até Hongdae com o som alto e pagando mico. Na verdade, tudo que envolve bebida, eu, Doyoung e Yuta sempre acaba sendo pagação de vergonha. E hoje não poderia ser diferente.  

café et cigarettes༶✎༶tae•tenOnde histórias criam vida. Descubra agora