A Noite Ainda Será de Poesia [LGBT]

Rua dos Inválidos, Lapa.

Acordamos de manhã. Não dormimos próximos. A cama parecia ter triplicado de tamanho e nos mantivemos a noite toda nas pontas. Acordei assim que a luz do sol começou a surgir pelas frestas da cortina mal fechada. Fui olhar o celular e havia uma ligação perdida da Caroline. O horário da ligação marcava 04h37min AM. Eu não conseguia mais responder as mensagens dela e confesso que desviava a rota quando a encontrava pelo campus.

— Já está na hora da aula? — Peter resmungou ao perceber que eu já estava sentado na cama.

— Não, mas não consegui dormir direito.

— O nome disso é peso na consciência. — Falou misturando com um bocejo e se ajeitando na cama.

— Bom dia para você também!

***

Não sei se era certo eu e o Peter não conversarmos sobre o ocorrido. Mas acho ser a melhor opção por enquanto.
O dia foi seguindo até que o reitor entrou no meio da aula de Gramática para dar um recado.

— Turma, trago notícias. Como vocês sabem, estava em obras o primeiro shopping do bairro, o Guiana Mall. Alguns já devem saber, mas nosso colégio é um dos apoiadores do shopping e nós ficamos responsáveis pelo evento de inauguração. Por isso, alguns alunos receberam em seus e-mails um convite para se apresentar no evento. Ele foi enviado nessa madrugada, então estou passando nas turmas para avisar os nomes dos alunos.

Alunos dos Cursos Técnicos:

Canto:
Bruno Henrique
Caroline Dias
Renan Dias

Curso de Teatro:

Pedro Gomes
Ronan da Cunha
Hércules Aguiar

Curso de Poesia:

Não incluso.

Curso de Artes Plásticas e Visuais:

Exposição artística das turmas.

— Abaixem os dedos, já sei a dúvida de vocês. O curso de vocês não está incluso, mas somente o curso de Poesia poderá se inscrever para ser monitor do evento e ajudar na produção. E para recompensar, será o único curso que receberá pontuação acadêmica pelo seu trabalho. Para se inscrever é só procurar a coordenação do seu curso. Obrigado, professora, pelo tempo tomado. Espero que todos possam ir para essa festa incrível. Boa aula.

Agora faz sentido! A Caroline é uma coruja! Provavelmente ela estava acordada na hora que recebeu o e-mail e me ligou para dar a notícia. Eu preciso parabeniza-la, mas meu coração é fraco demais para olhar nos olhos dela e fingir que nada daquilo foi real. Mas era o certo, eu devia pelo menos me esforçar!

No intervalo eu fui para o bloco D em busca da Caroline, mas quem estava passando pelo portão do colégio (e atrasada)? Exatamente. A minha namorada!

— Thomas, meu amor! Desculpa o atraso, eu estava fazendo o cabelo. — Era apenas uma pranchinha.

— Ah... Oi... — Falei tentando forçar um sorriso.

— Está chateado com alguma coisa? Anda! Eu te conheço! — Não, ela não me conhecia.

— Não é nada, eu só tenho que resolver um problema e já volto.

Ela concordou com a cabeça e me roubou um beijo rápido. Não retribuído, é claro.

Voltei com a minha busca e perguntei para uma garota da turma dela se ela havia visto a Caroline. Ela me disse que estava logo virando o corredor. Fui correndo, mas assim que virei para a direita, o Steven e a Caroline estavam se beijando sentados no banco do corredor. Eu teria tempo suficiente de fugir se a minha freada brusca não tivesse feito meu sapato engraxado fazer um barulho alto e agudo ao arrastar no chão.