Eu acordei de manhã com uma tremenda dor de cabeça. Os sentimentos de ontem ainda rodeavam minha cabeça e eu pude lembrar que aquele beijo aconteceu em meu sonho diversas vezes.
O lençol bagunçado da minha cama com metade do colchão visível deixava claro que partes do sonho que eu não lembrava, não tinham sido muito boas.Lavei o rosto e estalei as minhas costas (um costume meu). Ao parar no meio do quarto, lembrei do que o Steven disse sobre a minha mãe. Era difícil para eu acreditar que minha mãe iria intervir na minha relação com o ele. Ela sabia como ele sempre foi importante para mim.
Desci as escadas com passos fortes, a ansiedade queimava meu peito em angústia e a escada ficava cada vez mais longa.
Minha mãe estava sentada em sua poltrona de brechó enquanto lia uma revista de fofocas. Como ela estava perto da janela, o vento frio como se fosse dar início à uma chuva de verão, passava por seus cabelos cacheados na altura do ombro.— Mãe... - a transpiração em minha mão, deixava claro o que eu estava sentindo.
— O que foi, Tomy? - ela não tirava o olho da revista - Eu estou sem dinheiro aqui, tenho que ir ao banco amanhã para sacar dinheiro. Depois eu vou no mercado e seria bom que você fosse, sabe como meu ombro está horrível.
Não pude nem ver sua boca mexer, pois a revista impedia a visão do seu rosto.
— Você foi falar com a mãe do Steven? - podia ver a fumaça sair da minha boca junto das palavras.
— Thomas, não estou te entendendo. - Ela fechou a revista, desceu os pés que estavam na poltrona e passou um cacho pela orelha. Aparentemente sabia que a conversa ia ficar séria.
— Você foi conversou com a mãe do Steven quando nós éramos pequenos... - minha voz aumentava cada vez mais - eu quero saber o que vocês duas conversaram!
— Não grita comigo que eu sou sua mãe! - ela levantou furiosa - Pelo visto você já sabe muito bem...
— Como você teve coragem de deixar isso acontecer? - meu olhar de fúria caia em tristeza neste momento.
— Eu concordei com a mãe do Steven sim, pois vocês nunca dariam certo juntos!
— Ah é? - soltei um riso de surpreso enquanto tapava a boca com a mão - E você e o papai? - meu tom de voz aumentava novamente - Ele te engravidou, abandonou e sumiu! Agora você fica aí correndo atrás de pensão na justiça! Ah, mas vocês eram o casal perfeito né?
— Cala a sua boca! - seu tom de voz superou o meu - Eu tomei a melhor decisão que eu pude! Você era uma criança, Thomas, uma criança! O mundo não gira ao seu redor, para de se achar o centro do universo. A mãe dele é uma preconceituosa e me xingou de diversas formas possíveis. Eu reconheci sim que vocês tinham uma amizade diferente, mas a minha separação com seu pai estava me trazendo muitos problemas. Sem contar que a decisão já estava tomada, não por mim, mas por ela!
— Mas é que...
— Não tem "mas", Thomas. - Ela sentou novamente na poltrona, abaixou a cabeça e pôs as mãos no rosto.
— Desculpa mãe... Eu me estressei. O Steven era muito meu amigo, e perder a amizade dele foi demais. Você e o pai só brigavam... Ele era a única pessoa que me fazia sorrir naquela época. Quando a gente brincava nos fundos, eu sabia que depois que eu entrasse em casa eu iria chorar novamente por causa de vocês. A saída dele da minha vida significou não ter mais sorriso, não ter mais brincadeira. Pois quando eu ia pro quintal sem ele, eu ainda ouvia sua briga com o pai. Não tinha ele para brincar de avião e fazer um enorme barulho para que eu não escutasse. Os vôos estavam cancelados...
Silêncio na sala.
—Thomas, seu pai vai voltar. Acredita em mim...
—Mãe, chega... Por favor.
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A Noite Ainda Será de Poesia [LGBT]
RomanceThomas sempre teve uma família conturbada, mas durante a infância a sua única salvação era o seu amigo Steven. So que em uma dessas brigas familiares, as duas famílias acabaram se afastando e a família do Steven mudou-se para outra cidade. Como será...