悲しみ「𝐒𝐀𝐒𝐔𝐒𝐀𝐊𝐔」

𝐕𝐈𝐈𝐈.

sasuke's point of view

Tenho treinado todo dia de manhã. À tarde, eu vou para trás das montanhas de areia.

Viver abaixo do solo é como estar vendado o tempo inteiro e, sinceramente, não tem o que fazer aqui. Eu não procuro diversão, e também, mesmo que eu procurasse, sorrir é como uma ameaça pra Orochimaru.

Aprendi isso vendo-o sorrir várias vezes para mim – nenhuma sincera, só o olhar venenoso de uma cobra. E tenho quase certeza que já vi veneno escorrer da boca dele.

Estar aqui embaixo é sufocante e aterrorizador, mas preciso agir como se isso não me afetasse. Como se tornar "traidor" da Vila da Folha não fosse nada.

"Eu não traí ninguém", eu queria dizer. "Eu vou fazer o que todo mundo anseia por anos: matar Itachi", mas ninguém me escutaria. É claro que as notícias correm, e é claro que Orochimaru ia jogar isso contra mim. Eu percebo o jeito como ele cutuca a ferida; vendo o quanto eu posso aguentar.

Uma pena que ele não sabe a metade do que pretendo fazer.

Estou indo em direção à saída – uma única escadinha que dá para uma passagem escondida no meio do deserto – quando passo pelo quarto dele. O cheiro, os sons a noite... lembrar me causa arrepios.

Me aproximo devagar do quarto e nem de longe é possível imaginar uma cena como essa: Orochimaru tão pálido quanto a neve... e também frágil.

— Entre... garoto.

Por um segundo, pensei em me afastar e fingir que não estive ali. Ele não me viu ainda, certo? Mas soube que eu estava ali. E considerando as escolhas de palavras... sabia que era eu. "Não posso teme-lo mais do que eu já temo", pensei comigo mesmo. Se tiver que enfrenta-lo sozinho, assim o farei.

Deixei que a porta se abrisse devagar, não tendo certeza do que esperaria receber. Um total silêncio? Boas vindas? Mais uma de suas provocações?

No entanto, Orochimaru não moveu nenhum músculo. Seguiu me encarando nos olhos que eu evitava encarar; minha marca começara a coçar, mas não tocaria nela até que estivesse longe desse quarto.

— Garoto – ele sibilou. Toda palavra que saia pela boca dele tinha um som parecido como de um cobra.

— Não parece tão bem, Orochimaru. - Sem nomes honorários como Kabuto faz; quero que ele saiba que não sinto um pingo sequer de empatia por ele.

— Estou me preparando pela próxima transição.

— Transição? – eu indago. Ele sorri.

— O corpo de quem pretendo usar.

Isso me deixa em alerta. Sinto minha marca arder como fogo e toda minha postura fica ereta. As peças se encaixam como se estivessem ali o tempo todo.

Penso que se agir indiferente, talvez ele me deixe ir. Não ligará se eu não mostrar interesse, ou fingir que não sei do que está falando. E realmente considero isso, mas essa cobra consegue ser mais ágil.

A porta não tinha fechado quando passei, mas sua cauda a fechou por mim. Agora percebo sua presença. Ele rispa e ri sem vontade. Uma ameaça. "Pra onde pensa que vai garoto?", não sei se essa frase vem de dentro ou fora da minha cabeça. "Você não tem lugar nenhum nesse mundo"