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O relógio marca onze e meia da noite, mas não consigo dormir. Amanhã tenho aula o que significa que precisa acordar cedo, mas o sono não vem. A insônia resolveu me atingir e minha cabeça já começa a doer.

Um pensamento um tanto ousado vem em minha mente e pela primeira vez decido realizá-lo. Meus pais já estão dormindo e não vão perceber se eu sair.

Antes de me levantar, acendo o abajur que está sobre meu criado mudo ao lado da cama. Em silêncio, abro o guarda roupa e pego o primeiro moletom preto que vejo pela frente. Me abaixo para calçar meu all stars branco e, antes de sair do quarto, pego meu celular. Não me importo em trocar de calça, ninguém vai perceber que essa é de pijama.

Desço as escadas com cuidado, pego as chaves na mesa e vou até a porta da frente, destrancando a fechadura e encarando o vento frio.

Ando pelas ruas em silêncio.

Após aproximados dez minutos ouço uma música agradável vinda do bar que se encontra na próxima esquina; acabei por andar um quarteirão sem perceber. Isso acontece as vezes, fazer coisas no automático que se apagam da minha memória.

Diminuo a velocidade dos meus passos e entro no estabelecimento que estava praticamente vazio; ninguém quer perder a hora em um bar e se atrasar para o trabalho, ou colégio, na segunda. Me sento em um dos bancos em frente ao balcão e observo o lugar. Um casal está sentado em uma das pequenas mesas que se localizavam na parte direita, um homem que, pelas rugas em seu rosto, aparenta ter uns cinquenta anos, está encostado na cadeira brincado com a garrafa de cerveja e no lado esquerdo, no canto mais afastado do bar, está outro homem. Esse tem seu rosto coberto pela sombra do capuz de seu moletom, me impossibilitando de ver suas feições.

"Boa noite, o que a senhorita deseja?" A mulher que está do outro lado do balcão chama minha atenção, o que me fez levar um pequeno susto.

"Um refrigerante, por favor." Falo e a mulher vai até o freezer ao lado das prateleiras onde estão as bebidas, pega uma latinha de soda e logo em seguida um dos copos que estavam no suporte pendurado na parede.

"Se precisar de mais alguma coisa é só me chamar." Ela diz, sem ânimo, colocando o copo e a bebida na minha frente. Apenas concordo com a cabeça e acompanho seu andar em direção a uma porta, talvez o almoxarifado.

Não parece ser uma boa ideia beber refrigerante a essa hora, estando com insônia, mas eu li uma vez que para ter o efeito de uma xícara de café é necessário beber mais de uma latinha de refrigerante; o que não seria meu caso. Sendo assim, abro a lata, aplicando um pouco de força no lacre, e coloco o líquido borbulhante no meu copo.

Uma música termina e outra que eu não conheço começa, é um rock, provavelmente dos anos 80, mas é bem agradável.

"...Every time I call you on the phone
Some fella tells me that you're not at home
Unchain my heart
Set me free..."

Bato meus dedos no balcão enquanto a melodia entra em meu canal auditivo. A borbulha do refrigerante faz cócegas no meu nariz quando viro o copo para beber mais um pouco. A luz amarelada do lugar o deixarias mais charmoso se não fosse pelo verniz descascando na prateleira de bebidas e pelo cheiro de embriaguez do lugar.

"...Why lead me through a life of misery
When you don't care a bag of beans for me
Unchain my heart, oh please
Set me free
Alright..."

Pisco meus olhos e percebo que estava profundamente distraída. O casal assanhado já não está mais aqui e o homem parece ter dormido ali mesmo.

Entretanto, o homem de capuz e ele ainda está lá, na mesma posição. Tento ver o seu rosto mas não consigo. Ele parece estar olhando para mim, mas não tenho certeza. Talvez seja apenas paranóia.

Meus dedos ainda batem, agora no copo, no ritmo da música que chega ao fiz.

Deixo o copo em cima do balcão junto com o dinheiro que tinha acabado de tirar de dentro da capa do meu celular. Me levanto e dou uma última olhada para o homem que parece estar acompanhando meus movimentos com a cabeça. Passo pela saída e vou andando de volta para minha casa.

Viro a esquina e talvez tenha ouvido passos atrás de mim. O medo aperta meu coração, mas não olho para trás, apenas acelero minha caminhada. Confesso que fiquei um pouco receosa com o cara do bar, e o pensamento de que havia alguém atrás de mim só me amedrontava ainda mais.

Tento me acalmar, puxo uma respiração profunda e mentalizo que isso não passa de uma peça que minha mente está me pregando. Não deve ser nada. Só estou com medo porque estou sozinha nessa rua deserta. Esse último pensamento não foi muito útil e me esforço para pensar que já estou chegando.

Apresso ainda mais meus passos, com a intenção de chagar mais rápido em casa.

Eu não deveria ter saído, não é seguro andar sozinha a essa hora.

Logo vejo minha casa e um alívio percorre meu corpo. Pego as chaves que estavam no meu bolso para destrancar a porta e, dessa vez, olho para trás, mas não vejo ninguém. Entro em silêncio em casa.

Deito em minha cama e vejo se meu despertador está programado para me acordar, aproveito e vejo as horas: meia noite e dez. Preciso dormir.

...

Acordo de madruga, quando um vento insistente gela meu rosto. Pisco meus olhos algumas vezes pois estavam um pouco embaçados.

Olho em direção a janela francesa, a passagem do vento. Meu respiração para, meu sangue congela e meu coração dispara. Alguém está parado ali, bem em frente à janela do meu quarto, virado para mim. Minha boca e minha garganta estão secas e não consigo me mexer, o medo está espalhado pelo meu corpo me fazendo ficar anestesiada, dormente, sem reação.

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Olá, leitores.
Essa história já foi publicada há 3 anos. Contudo, somente 3 capítulos foram publicados. Por algum motivo não consigo continuar a escrever naquele projeto por isso comecei este. Quero muito continuar a escrever e espero muito que gostem.

Não se esqueçam de comentar e votar.
Beijos!!!!

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