09 – CHAMA DA GLÓRIA
“Baleado numa chama de glória, leve-me agora mas saiba a verdade.
Estou caindo numa chama de glória. Senhor, nunca saquei primeiro, mas já feri primeiro.” Blaze of Glory – Jon Bon Jovi
Havia mais de treze horas que estávamos sem notícias sobre o estado de saúde do Ric, e estávamos necessitando urgentemente que algum funcionário se solidarizasse conosco. Nós estávamos no hospital desde que ele foi baleado no estômago e perdeu a consciência, e a única vez que o médico se pronunciou foi para nos informar que a bala havia perfurado seu pulmão e estava alojada em sua coluna vertebral. Quando perguntamos se ele ficaria bem, o médico disse que havia apenas uma pequena chance de que ele se recuperasse. Nós nos abraçamos e choramos, e até agora estávamos esperando notícias. Eu estada encostada no ombro do Cadú e o Tim estava ao meu lado oposto, segurando minha mão. Nenhum de nós tinha vontade de comer, beber, ir ao banheiro e nem falar. Meu celular vibrava constantemente, mas eu não queria ver quem era, porque me sentiria na obrigação de falar com a pessoa que ligava ou responder cada sms que recebi, e eu não queria fazer nenhuma dessas coisas. Eu só queria ficar ali, aguardando notícias do Ric, esperando ele sair da UTI rindo, dizendo que foi só um susto e que já estava bem. Então o médico apontou no começo do corredor onde estávamos esperando. Ele andava vagarosamente, empurrando um pé pra frente do outro como se estivesse com preguiça de andar. Ele colocou a mão na nuca e tirou sua toca, e pelo olhar dele eu soube. Eu não queria olhar para eles quando eles ouvissem as notícias. Eu tentei me levantar, mas o Tim me puxou de volta. E então o médico disse:
- Ele está estável. – Meu Deus, eu ouvi direito? Ele está estável! Es-tá-vel!– Só que há um porém: ele precisará ficar uns dias em observação, pois a bala danificou sua coluna e provavelmente ele não voltará mais a andar.
- Me desculpe, mas pode repetir? – eu disse, me recusando a entender.
- Infelizmente a bala atingiu uma parte crítica da coluna, e existe uma grande probabilidade de ele não voltar mais a andar. – ele disse, paciente. Mas essa paciência dele estava me irritando.
- Como assim ele não voltará a andar? Deve ter algum tratamento que ele possa fazer. Não tem nenhuma alternativa, nenhum estudo em andamento?
- Infelizmente esse é um dos poucos casos de paralisia irreversível. – E minhas lágrimas começaram a rolar. Imagens do dia em que eu conheci o Ric passaram na minha cabeça, então vi cenas dele cantando, dele pulando pra cima e pra baixo com sua guitarra, dele correndo pelo palco, dele andando até uma garota para paquerá-la, dele correndo atrás de mim segurando algum inseto para me assustar, dele correndo das fãs que sempre o perseguiam... e uma tristeza profunda me visitou. Eu comecei a soluçar desesperadamente, enquanto uma chuva de lágrimas corria pelo meu rosto. O Cadú me abraçou e desmoronou em choro, também. O Tim levantou e começou a esmurrar as paredes, e depois as atingiu com pontapés. O doutor deu meia volta e começou a se distanciar, mas eu perguntei:
- Doutor, ele está consciente?
- Não, ele não ficará consciente por um bom tempo. Pelo menos hoje é garantido que ele não acorde.
- Mas podemos ficar com ele, doutor?
- Quando ele for transferido para o quarto, sim. Mas isso só será feito amanhã. Eu os aconselho a irem para casa. Não há nada que possam fazer aqui.
Quando chegamos em casa, eu fui até o quarto do Ric, sentei em sua cama e recomecei a chorar, inconformada com aquela situação. Eu estava morrendo de pena dele, com meu coração doendo por saber o quanto ele sofreria. Eu olhei a bagunça dele ao redor e decidi arrumá-la, pois os pais dele estavam vindo para Nova York e nós fazíamos questão de que eles se hospedassem conosco. Depois de arrumar tudo, fui até o meu quarto tomar banho e passei mais uma hora chorando compulsivamente. Quando eu saí, fui até a cozinha para comer alguma coisa, pois nem lembrava qual tinha sido minha última refeição. Encontrei a Bia e o Tim sentados um ao lado do outro, tomando chá.
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Rock & Pie - Sexo, Amor e Rock and Roll (DEGUSTAÇÃO)
Romance"VIVIANNE SANTINNI SE CONSIDERA UMA GAROTA DE SORTE. ALÉM DE ELA TER SIDO ESCOLHIDA PARA SUBSTITUIR O BAIXISTA DA BANDA ROCK & PIE, QUE JÁ É RELATIVAMENTE CONHECIDA EM SUA CIDADE NATAL, ELA AINDA GANHA A OPORTUNIDADE DE DIVIDIR OS VOCAIS DA BANDA. E...