Eu achava que o aviso da minha mãe sobre os homens não incluía o Victor e nunca ia incluir e nele eu confiava de olhos fechados, depois daquele dia meu pai voltou mais umas três vezes, em espaços de tempo curtos, em uma delas ele tentou me levar junto com ele, nesse dia se não fosse nosso vizinho, seu Zeca, ele teria me levado embora e eu não sei o que teria acontecido. Eu passei a ter medo de tudo, eu andava na rua com medo dele aparecer e me forçar a ir com ele, eu não dormia com medo dele entrar na nossa casa. Foi aí que eu adquiri a tão temida síndrome do pânico, eu não sabia o que era, muito menos minha mãe tinha paciência pra lidar com os sintomas.
A tia Regina marcou psicólogo um dia e me levou, sem a minha mãe saber, quando a tia Regina tentou conversar com ela sobre ela disse que era besteira, que passaria, às eu ficava com raiva da minha mãe por não se importar comigo, mas ela era minha mãe.
Depois de algum tempo de tratamento eu melhorei, até a minha mãe descobrir e falar pra tia Regina que ela estava gastando dinheiro atoa, que ela preferia que ela não pagasse mais nada pra mim. Minha mãe era tão egoísta, mas eu ainda era muito nova pra entender isso.
"Sinto muito, querida" Tia Regina fala ao me ver chorar pela milésima vez "Você ainda vai pra escola?" Balanço a cabeça sinalizando que sim "Vou te levar, vamos só pegar o Victor e o Felipe" Me agarro na minha mochila tentando controlar minha raiva, eu estava com raiva da minha mãe e com o passar do tempo eu não sentia mais tanta culpa por esse sentimento.
No dia do meu aniversário de 15 anos, a tia Regina fez uma festa surpresa pra mim, eu nunca tinha visto minha mãe tão arrumada e carinhosa comigo. Eu não conseguia parar de chorar por estar vendo que aquela festa era toda pra mim.
"Tá bom, você vai pisar no meu pé?" Victor fala segurando minha mão
"Eu não sei" dou uma risada nervosa "Eu não sei dançar"
"Ótimo, eu falei pra minha mãe que eu ia passar vergonha" ele murmura
"Vergonha nenhuma, você é o príncipe dela, tem que dançar" Tia Regina entra na sala ouvindo nossa conversa
"Mãe...mas eu acho que.."
"Acha nada, Victor, bora que já tá na hora" ela sai nos empurrando, descemos a escada e me deparo com os convidados nos encarando.
"Ok..." Victor fala pegando as minhas mãos tremendo de nervosismo
Ele coloca a mão na minha cintura e eu copio ele, logo uma música meio lenta começa a tocar e começamos a nos mexer pra lá e pra cá, eu tinha certeza que nós estávamos errando tudo mas eu não prestava atenção mais nisso enquanto ele sorria pra mim.
"Pelo menos você não pisou no meu pé ainda" ele brinca
"Nem vou"
"Você merece isso e tudo mais, sabia?" Ele fala e eu sinto um frio da barriga que eu nunca tinha sentido na vida.
"Eu não sei nem como eu vou agradecer sua mãe por isso"
"Ela faz isso porquê te ama"
"Eu sei"
"E eu também te amo, você é a melhor amiga que alguém poderia ter" ele sorri pra mim e eu fico hipnotizada, será que é normal sentir essas coisas quando seu melhor amigo fala com você? Acho que sim né.
"Eu também te amo, Victor" ele aperta minha mão e continuamos dançando
Aquele dia foi o melhor dia da minha vida e o dia que eu ganhei o meu primeiro beijo. E se vocês estão pensando que foi com o Victor, estão certos. Depois da minha festa e muito choros, principalmente da tia Regina que fez um discurso dizendo que não conseguia segurar a emoção ao ver o quanto estou crescendo rápido e que ela tinha muito orgulho de mim, minha mãe não quis falar nada, mas eu optei por não ligar pra isso pra não estragar esse dia. O tio Beto me deu um anel de 15 anos mais lindo do mundo e eu não consegui conter as lágrimas ao ver ele colocando o anel no meu dedo.