Agosto
Ele tinha conseguido, é claro que ele tinha conseguido. Ele tinha lançado uma música enfim. O que me intrigava era a letra que a Laura insistia em dizer que era pra mim. Ele sempre disse que ia de fato escrever uma música pra mim, mas eu não sei se pode ser essa.
"É claro que é pra, você. Pra Camila que não é, ela é loira. A outra, lá ridícula, Sarah, também não é morena....ele fala 'te liguei pra falar de ontem a noite, morena' que foi o que ele fez logo depois que ele notou que você tinha ido embora, vocês tinham que conversar sobre as paradas e você vazou"
"Não tinha mais o que conversar" resmungo.
"Ah você complica muito sua vida, é só falar que tá afim dele e dar uns beijos. Tá mais do que na cara que ele te quer também"
"Ele tava saindo com outra, Laura"
"Ah, amiga, detalhes...meros detalhes"
Reviro os olhos pra ela, duvido que essa música é pra mim, ele já deve ter pulado pra próxima garota, a tal da Sarah nunca mais postou foto com ele.
"Mas aí, ele canta bem hein?" Laura diz quebrando o silêncio
"É, eu sei.."
Com as semanas passando decidi ir visitar tia Regina mais vezes, não queria me distanciar dela novamente, e ela era a única que estava sempre em casa. Às vezes passávamos nossas tardes cozinhando e falando de coisas aleatórias, poucas vezes ela tocava no assunto do Victor, por isso eu suspeitava cada vez mais que ele estava distante até da família, eu nunca tinha visto ele como uma pessoa que fosse mudar tanto por causa de fama.
+
Ele voltou a me ligar e eu mesmo chateada o atendia e a gente conversava horas sobre o trabalho dele e o quanto ele sonhava em fazer shows por aí. Ele não tocava no assunto de garotas, ele não falou uma vez sequer da Sarah, eu sei que nenhum de nós falamos isso em voz alta, mas eu sabia que estávamos nos distanciando, por mais que quiséssemos adiar. A vida talvez queria isso da gente.
Num dia que ele me ligou eu tomei coragem e falei "Eu acho que não somos mais os mesmos"
"Mas é claro que não, somos adultos agora" ele ri.
"Não, você não entendeu. A nossa amizade"
"Não começa, Evie" ele fala sério e troca de assunto. Por mais que ele ignorasse esse fato o que foi acontecendo é que ele não tinha mais tempo pra me fazer ligações, e nem pra atender as minhas, por mais que me doesse eu me encontrava toda sexta e sábado indo pra balada com a Camila, bebendo muito até esquecer meu nome e algumas vezes mandar mensagens pela caixa postal dele dizendo o quando eu o odiava por ele ter me abandonado.
Um dia, enquanto eu me arrumava pro serviço, alguém batia na porta desesperadamente, quando abro minha mãe está lá, chorando como se não houvesse amanhã. É errado eu não querer nem saber o motivo do choro dela? Mas eu sei que ela vai falar.
"Oi filha" ela diz de um jeito calmo.
"Oi" falo fria.
"Eu posso entrar?" Ela pergunta mas não espera minha resposta e entra.
"Já entrou né" resmungo e fecho a porta.
Ela chorava muito enquanto me contava sobre sua doença, e sua baixa imunidade, eu sabia bem o que ela queria, a mulher que nunca me deu um abraço acolhedor quando eu precisei agora precisava da minha ajuda. Interessante as voltas que o mundo dá.