1980

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Já se passou mais de 2 meses após aquele acidente. Eu finalmente juntei coragem o suficiente para ir para o hospital.

O hospital ficava 3 quadras á frente de minha casa, eu poderia ir lá sozinho.

Eu pedi aos meus pais, então eu fui.

Enquanto eu ia ao hospital, eu pensava no quão horrível foi aquele acidente, e como eu poderia ter morrido -assim como todos eles- naquele dia.

Eu cheguei no hospital. O guarda me parou, falando que eu não poderia entrar sem supervisão de um adulto.

"Ei, garoto!", disse o seu guarda, "Você só pode entrar sob a supervisão de um adulto!".

"Senhor,", eu disse, "eu só quero ir visitar meus amigos, sofremos um acidente. Só quero ver como eles estão".

O guarda entendeu e me seguiu até o balcão, onde eu perguntei a sala.

"Com licença", eu disse, "eu gostaria de saber a sala da Monique, Marcos e Gabriel".

"E você seria...?", ela disse com um olhar suspeito em mim.

"Eu sou um dos amigos deles. Eu estava lá quando aconteceu", eu respondi.

"Ok, eu confio em você", ela falou. "Sala 106".

Eu fui até a sala 106, onde o guarda parou e disse:

"Você pode ir, eu vou ficar lá embaixo. Só não faça nada errado".

"Tá certo, senhor", eu disse, entrando na sala.

Quando eu entrei, lá estava-

Gabriel, com sua perna enfaixada,

Monique, com um curativo gigante no olho,

e Marcos, com seu rosto enfaixado, apenas com um buraco para seu nariz, para poder respirar, e outro no seu olho, para poder ver.


O gesso de Gabriel estava pingando um pouco de sangue na ponta, o curativo de Monique estava vermelho e o gesso de Marcos estava completamente vermelho.

Eles estavam rindo, e depois eu vi, que ali estava Ricardo.

Quando eu entrei todos pararam de falar e rir, e olharam para mim.

"O-Oi, pessoal...", eu disse, com vergonha.

Teve um minuto de silêncio.

"Roger?", disse Gabriel. "Por que você veio?"

"Eu tava preocupado com vocês...", eu disse.

"E você ia nos deixar lá para morrer, não ia?", disse Monique, com raiva.

"Olha pessoal, me desculpa", eu falei. "Era uma situação tensa, e eu não sabia o que fazer".

Teve mais um minuto de silêncio.

"Eu te entendo, garoto", disse Ricardo.

Nós ficamos conversando e rindo por uma hora, mais ou menos.

Estou feliz que está tudo bem.


Uma hora depois, eu me despedi e fui para casa.

Eu cheguei lá, falei que estava tudo bem e que comprei um brinquedo e uma coleira para o Black.

"Nós vamos lá ver eles, certo, filho?", disse a minha mãe.

"Tudo bem", eu disse.

"Se cuida, campeão!", disse o meu pai.

Quando eles saíram, dei comida para o Black e o seu brinquedo.

Ele AMOU o seu brinquedo! Ficou brincando pra lá e pra cá, mordendo, eu jogando e ele indo atrás...

. . .

O Black era...

a única coisa que me deixava com vontade de viver.

O jeito que ele corria...

brincava...

ele era um cachorro tão feliz...

ele gostava de mim, e eu gostava dele...

mal eu sabia, que 6 anos depois...

ele não estaria mais comigo...

. . .

Chupa-Cu  -  Goianinha EditionOnde histórias criam vida. Descubra agora