1980

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Estávamos brincando com o Black numa parte do salão.

Meus pais nos deram 20 reais para poder comprar alguma coisa numa loja. Nós fomos até a loja de brinquedos para comprar alguma coisa para o Black.

Achamos vários brinquedinhos, mas o que mais chamou a atenção foi um macaco de pelúcia.

O macaco era 10 reais, então ainda podíamos comprar mais alguma coisa.

Ficamos procurando um brinquedo e não achamos nenhum legal.

"Vocês acharam alguma coisa?", eu perguntei.

"Nada...", disse Marcos.

"Eu achei um brinquedo, mas é 20 reais, teríamos que gastar tudo", disse Monique.

"Não tem nada interessante aqui", disse Gabriel.

Nós estávamos saindo com o macaco quando eu lembrei:

"Espera, podemos comprar uma coleira!", eu exclamei.

Voltamos para loja e fomos ver se havia coleiras.

"Eu acho que aqui eles não vendem coleiras...", disse Gabriel.

Eu fui perguntar ao senhor que trabalhava lá.

"Senhor, por acaso aqui tem coleiras para cachorro?", eu perguntei.

"Não, mas um pouco mais fundo nessa rua tem um Pet Shop. Eles com certeza tem oquê querem", disse o dono da loja.

Saimos da loja e seguimos a rua até o Pet Shop.

Entramos na loja e fomos ver as coleiras.

"Olha essa coleira preta!", disse Monique, mostrando uma coleira preta com caveiras.

"Eu por mim que essa coleira vai se camuflar no Black!", eu disse.

"Se liga nessa!", disse Gabriel, mostrando uma coleira com uma textura de camuflagem.

"Que massa!", eu disse.

Fomos ver o preço e era 15 reais.

5 reais acima do que havíamos.

Ficamos tristes por não poder comprar aquele.

"Achei esse de 10 reais!", disse Marcos, apontando para uma coleira azul de bolinhas brancas.

"Sério? Azul com bolinhas?", disse Monique.

"É melhor do que uma coleira rosa", eu disse, olhando para uma fileira cheia de coleiras rosas com corações.

Nós demos uma risadinha.

"Ta certo, vamos pegar esse então", aceitou Monique.

Fomos até o caixa, pagamos e fomos voltar para a casa.

Nós estávamos na metade da calçada daquela rua quando...

aquilo aconteceu...



Um carro desgovernado foi derrapando até o encostamento, batendo em outro carro, batendo em um caminhão que estava parado na nossa frente.

Eram estilhaços de metal, portas, pedaços de vidro... 

Tudo estava voando para tudo quando é lado.


Uma porta acertou Gabriel na perna, um caco de vidro entrou no olho de Monique, e um pneu estourou e voou, acertando a cara do Marcos.

No meio de todo esse caos, eu me abaixei até todo aquele caos acabar.

Graças a Deus, nenhuma coisa me acertou. Quando eu levantei, tudo estava em silêncio.

Eu fui correr para longe e ficar num lugar seguro, até que a Monique segurou minha perna.

Ela não falou nada, mas me deu um olhar triste e raivoso ao mesmo tempo. Seu olho estava encharcado de sangue, com o sangue se espalhando no chão e escorrendo até meus pés.

Um homem, que logo depois descobri que seu nome era Ricardo, e que seria meu professor no 7° ano, veio para ajudar os outros.

"Menino, pegue isso e coloque no olho desta garota", ele disse com um tom calmo, me dando um bandage e uma toalha molhada. "Enquanto isso, eu estanco o sangramento dos outros", ele disse.

Enquanto eu colocava o bandage no olho de Monique, eu pensava no quão calmo ele parecia enquanto falava aquilo.

Eu coloquei o bandage e fui ajudar Ricardo.

"Me escute, garoto. Eu preciso que você pegue isso", ele disse enquanto tirava seu cinto e dava para mim. Ele ajustava sua calça para não deixar cair. "Sei que pode parecer estranho, mas preciso que você aperte esse cinto o mais forte possível, um pouco mais abaixo do ombro desse garoto".

Eu fiz oquê ele disse, enquanto ele limpava o sangue do rosto de Marcos, totalmente desfigurado.

Fomos ver o Gabriel.

Sua perna estava apenas pendurada por seu osso e seu tendão.

Ricardo pegou seu cinto e apertou na cintura de Gabriel com força.

"Você pode ir pra casa, garoto, eu cuido daqui em diante", ele disse.

Eu simplesmente sai correndo de lá, chorando, traumatizado e quase vomitando.

Eu cheguei lá e expliquei oquê aconteceu.

Eles já estão no hospital, mas não quero ir lá para ver o rosto deles, dizendo-

"Porquê? Porquê você começou a correr? Se não fosse por aquele moço, você teria nos deixado lá para morrer, não é?"

Esse pensamento ainda me assombra.

Chupa-Cu  -  Goianinha EditionOnde histórias criam vida. Descubra agora