Capítulo 4: A melhor mordida é aquela que se compartilha

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"Tchau, meu bichinho. Boa aula. Espero você em casa. Te amo!" Abracei Jorginho em frente ao portão da escola.

"Também." Ele me soltou apressando e se misturou à multidão de uniforme.

"Cuidado para atravessar a rua." Aumentei o tom de voz.

Ele acenou sem se virar e entrou pela porta de aço no fim do corredor.

"Não acredito! Você vai mesmo deixá-lo voltar sozinho?" Ouvi uma voz feminina atrás de mim.

Virei-me e encontrei uma outra mãe que deixava o filho sonolento na escola.

Virei-me e encontrei uma outra mãe que deixava o filho sonolento na escola.

"Oi! Bom dia...er...Suzana?" Apertei os olhos.

"Quase, Suzen!" A morena simpática de cabelos pretos e lisos sorriu "Eu sei...não é um nome comum." Ela piscou.

"A minha memória não é muito boa para nomes, desculpe! Então, Suzen, pois é..." Respirei fundo. "Já está na hora, em Vitória o Jorginho já voltava sozinho prá casa, mas levou um tempinho para se adaptar aqui. Agora acho que ele está pronto."

"Que coragem!" Suzen apertou os lábios, balançando levemente a cabeça. "Eu não deixo o Felipe voltar sozinho, já posso vê-lo perdido no ônibus errado, no outro canto da cidade. Por Deus!" Uniu as mãos em oração. "Fico mais tranquila se o irmão vier buscar."

"Claro, com ônibus fica mais complicado. A chance de se perder é maior. Eu entendo, mas nós moramos pertinho, três quarteirões da escola." Apontei para a rua de cima. "Eu só tenho medo pelos carros. O trânsito aqui é bem pior que em Vitória!"

"Tá certo. Hmmm, Adriana, né?"

Assenti.

"Quem sabe um dia eu tenha a sua coragem. Um ótimo dia para você!" Ela acenou.

"Para você também, Suzen!" Retribuí com um sorriso.


Voltei para casa.

Lavei a louça do café.

Preparei um bolo e, enquantoele assava, respondi alguns e-mails de trabalho.

O interfone tocou na hora que eu tirei o bolo do forno. Quase derrubei a forma. Preciso me acostumar com esses barulhos!

"Dona Adriana, o seu Cristófe tá aqui embaixo."

"Pode mandar subir, seu José. Obrigada."

Chequei a mesa, o café quentinho, duas xícaras, pratinhos de sobremesa, garfos, faca para o bolo. Corri para a cozinha. Cutuquei as laterais do bolo com uma faca sem ponta, chacoalhei um pouco. Coloquei um prato em cima da forma e virei de uma vez, as mãos protegidas sob o pano de prato dobrado. Ufa, nenhum acidente! Coloquei o bolo no centro da mesa. Tudo pronto. Cadê o Cris?

Vi pelo olho mágico ele se aproximar da porta. Abri de uma vez e nos abraçamos.

"Saudades de você!" Puxei-o para dentro e tranquei a porta. "Hoje eu fiz bolo de maçã!"

"Você adora coisas de maçã. Deve ser por causa das tortas da dona Elisângela."

"Sabe que eu não tinha reparado. Deve ser mesmo. Saudades da vovó Lili!"

"Como ela está?" Cris me encarou, com uma leve ruga na testa.

"Bem..." Sorri. "Mas bem velhinha. Mas faz tempo que ela não faz mais tortas. Vou vê-la nas férias."

"Que bom! Diga que eu mando lembranças!" Um leve sorriso brotou em seu rosto.

"Claro, digo sim. Ela vai ficar feliz. Ela te adora, você sabe disso!"  Acomodei-me na mesa. "A quem mais ela daria uma receita secreta de família?"

Alma Nua - amostrinhaOnde histórias criam vida. Descubra agora