O caminho das flores

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Londres, 1821.

A sala da residência Blair, em Grosvenor Square, já não estava repleta de risos e conversas variadas com vozes femininas há alguns anos. Com os casamentos das filhas, a mesa do jantar se tornou gradativamente vazia, restando a Robert Blair, barão Sedwick, fazer suas refeições sozinho.

A situação financeira já havia melhorado, e ele contratou alguns criados para limpeza, mas eles não ficavam na casa. Preferia que a arrumação fosse feita de forma periódica – Robert usava poucos aposentos: apenas o escritório, a sala de jantar, a cozinha e o quarto. Ficava mais tranquilo para ele cuidar de tudo.

Apenas um jardineiro vinha com mais regularidade, a fim de manter as flores do jardim nos fundos sempre bonitas e com as pétalas brilhantes.

As filhas haviam construído suas próprias vidas: Anthea, marquesa de Penwith, vivia em St. Ives ao lado do marido e dos filhos: além de Portia e Magnus, ela tinha outra criança, Jasper, que todos diziam ser o futuro barão.

Theresa e Bradford, os barões Walton, decidiram se mudar para Luton, na residência de campo da família. Não os animavam mais o bulício da cidade grande, e queriam um espaço grande para cuidar de Gloria, Bruce e o filho mais novo, James.

Saffron, viscondessa Aylesbury, dividia-se entre Londres e Yorkshire, onde dizia ser mais tranquilo para escrever. Só não havia se mudado definitivamente para Carrick Cottage porque Martin estava a um passo de se tornar o novo Ministro do Interior. Entretanto, ela preferia o campo para cuidar dos filhos Michael e Peter.

Robert estava acostumado. A casa ficava cheia no Natal, mas suas filhas tinham as próprias vidas e estavam encaminhadas: os maridos as amavam, as crianças eram lindas e quanto menos visitas se faziam à sua casa, era porque o casamento ia bem.

O matrimônio de Tempest Gray, a inquieta duquesa de Huntington, caminhava com perfeição, mas ela era a exceção à regra de Robert: a jovem era quem mais visitava o barão. Na verdade, os dois costumavam trocar visitas regularmente, e Robert era testemunha de como a jovem era feliz no casamento com Dimitri – ou Snake, como a jovem sempre chamava quando ficava possessa com alguma coisa.

- Hoje é meu dia de tomar um chá contigo, meu tio!

Tempest surgiu na casa, com o ar impaciente que lhe era peculiar, e se refletia até mesmo em suas roupas, sempre longe da moda reinante: o vestido estampado em verde, rosa e marrom, tinha babados na manga e na barra da saia, um cinto marrom de couro que marcava a cintura e gola masculina. Com os cabelos dispostos numa trança que ficava nas costas, seus únicos adornos eram o brinco de pérolas da tia-avó e o anel dourado na mão esquerda.

Não parecia uma duquesa, e mal se importava com luxo e fausto. Ao perceber que a jovem estava com botas de montaria por baixo do vestido, Robert concluiu que...

- Vieste a cavalo de novo? Meu Deus, a carruagem dos Bates é belíssima, não precisava-

- Vir de carruagem me entedia, tio! Já basta ir assim aos eventos na corte, principalmente agora que George é rei e Dimitri tem que estar agarrado a ele porque virou conselheiro!

- E as crianças, como estão?

- Hoje ficaram com Dimitri, George quer que brinquem no palácio. Pior decisão que tomei foi colocá-lo como padrinho de Lilly e Archie.

- As crianças estão encaminhadas, Ellie.

- Foi o que Dimitri disse, mas sabes que sou desconfiada. No fim, ele sempre diz, daquele jeito de romanichal mandão dele, que eu devo ouvir o meu mush.

Robert percebeu o sorriso sonhador da filha. Estava feliz e leve, finalmente.

- Só não quero que quebrem nenhum vaso, como da última vez que levaram as espadinhas de madeira.

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