O vento que te trouxe

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A moça que o encarava com sentimentos opostos – nervosismo e confiança – parecia ligeiramente mais velha do que as outras candidatas, o que tranquilizou Robert.

Pelo menos sua sobrinha pararia de suspeitar que todas as moças em busca daquele emprego queriam na verdade era casar com o patrão.

- Boa tarde, senhor? É aqui que fica o escritório de Blair? – ela disse, uma voz fina e animada, com um sorriso incerto. – Vi o aviso de emprego no jornal e tenho interesse na vaga.

- Boa tarde... Sim, é aqui mesmo, senhora-

- Senhorita – corrigiu rapidamente. – Srta. Blake.

- Senhorita Blake, peço desculpas. Eu sou Robert Blair, barão Sedwick.

Athena levou a mão livre, enluvada, aos lábios, em choque:

- Meu Deus, desculpa, milorde, eu não deveria tê-lo chamado de senhor-

- Não te preocupais, a informação sobre meu título não se encontrava no aviso, o equívoco é compreensível. Pode entrar, por favor.

Abriu espaço para que a candidata entrasse no escritório, que não era grande: uma sala com dois ambientes, separados por um arco que indicava onde o cliente poderia sentar e esperar, num sofá marrom antigo, mas confortável; e a mesa do advogado, composta por uma cadeira e o gabinete, ambos de madeira antiga e bem talhada. A estante do fundo tinha alguns livros relacionados a leis, filosofia e Direito Romano, e ao lado da mesa, uma pilha de papéis que carecia de alguma organização.

Athena logo percebeu do que o barão necessitava, só de olhar para o papel.

E foi isso que Tempest Gray percebeu, assim que se aproximou da candidata, quando viu a moça olhando com atenção para os documentos. "Ao contrário de todas as outras moças, que mudaram o comportamento assim que reconheceram o barão, ela sequer havia associado o nome ao homem à sua frente. E ela percebeu logo o que interessava no escritório. Gostei dela."

Era uma moça modesta, com o vestido verde-musgo de corte simples, mangas longas até os pulsos e gola alta, cobrindo todo o colo. Os cabelos bastante crespos num coque apertado, como se ela soubesse que as convenções exigiam dela tal penteado para que fosse vista como uma candidata ideal para o papel. Entretanto, Tempest intuiu que a donzela à sua frente queria se fazer bem mais velha do que a idade real: sem maquiagem e com o mesmo tom negro de pele que o dela, poderia passar por sua irmã primogênita. "Não deve ter mais que trinta anos, suponho", concluiu sua análise antes de cumprimentá-la:

- Olá, Srta...

- Blake... Athena Blake.

- Muito prazer! Tempest Gray, filha de Lorde Sedwick. Estou acompanhando as entrevistas para ajudar na escolha da nova secretária.

Tempest não tinha costume de se apresentar como duquesa, mesmo após dois anos de casada. E para evitar confusões, sempre falava de si como filha de Robert. Ninguém precisava saber a real natureza do parentesco dos dois.

Athena não parecia surpresa com a revelação sobre a filiação.

- Prazer em conhecê-la, milady. – respirou fundo. Aquela entrevista parecia mais complexa do que ela poderia imaginar.

- Então, Srta. Blake... – Robert sentou-se à sua frente, iniciando as perguntas. – Qual a sua experiência como secretária, ou assistente?

- Eu sempre trabalhei como dama de companhia, cuidadora de idosos, mas o meu pai era advogado. Nós não morávamos aqui em Londres, e sim em Liverpool, e ele não era rico. Vivíamos bem, eu, ele e minha mãe. Cresci em torno dos livros dele e dos casos com os quais ele trabalhava. Então, acabei "herdando" o gosto de meu pai pelo entendimento das leis. Posso não ter experiência cuidando de um escritório como milorde procura, mas conheço o trabalho que realizais, e posso arrumar todos os documentos, papeis e anotações que fazeis da maneira mais prática e mais hábil que puder. Caso por caso.

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