Robert Blair andava de um lado a outro do jardim de inverno, buscando alguma maneira de se comunicar com a sobrinha e o genro, ou com os empregados, com alguém.
- Ellie! Dimitri! Estamos presos! Basil! – respirou fundo. - A casa é repleta de janelas, e este é o único lugar onde não tem uma para batermos no vidro...
- Parece até que todos saíram e se esqueceram de nós por aqui – suspirou Athena, tentando procurar alguma brecha na parede de madeira para os dois escaparem do lugar.
O barão olhou para cima, e percebeu as janelas do segundo andar. Deu um pulo e levantou os braços, como se estivesse tentando chamar a atenção de quem estivesse passando.
Entretanto, sua secretária não acreditava que aquilo daria certo.
- Milorde, é melhor algo menos sutil... – Athena buscou no canteiro de flores alguma pedrinha para jogar no vidro da janela.
- Srta. Blake, tens certeza disso?
- Só assim para chamar a atenção! – arremessou com toda a força que conseguiu, mas a pedrinha sequer quebrou o vidro – criou apenas uma ligeira rachadura, que nem os dois presos conseguiam ver.
A jovem suspirou, resignada.
- Não acredito que ficaremos presos... Ainda sobrou algum biscoito? Porque se ficaremos aqui até o duque e a duquesa se recordarem de que nos convidaram para o jardim de inverno, precisaremos racionar comida.
- O chá logo esfriará... – ponderou Robert, sentando-se no chão, perto da parede de madeira, ao lado da porta.
- Finjamos que é água...
- Será deveras difícil essa mentira, Srta. Blake, mas juro que tentarei.
Foi a vez de Athena caminhar de um lado a outro do jardim de inverno, gritando "lady Huntington! Lorde Huntington! Alguém aí fora?" sem sucesso. Aquilo não poderia estar acontecendo com ela: presa num lugar daqueles com seu patrão, e correndo risco de passar a noite toda ali, ao ar livre.
- Ao menos poderemos observar as estrelas em toda a sua glória... – comentou Robert, num tom de resignação.
Athena se aproximou, sentando-se ao lado do advogado, também olhando o céu.
- Queria fazer isso no conforto do meu lar, e não sentada no chão, começando a sentir os efeitos da privação da fome.
Ela ouviu um riso frouxo ao seu lado.
- Oras, estamos bem alimentados por biscoitos e chá frio!
- O seu otimismo é contagiante, lorde Sedwick!
Robert sorriu abertamente, e Athena percebeu a tranquilidade e leveza de sua expressão, jogando livremente a cabeça para trás, sem se preocupar com nada. Repentinamente, a secretária teve vontade de confirmar se aqueles cabelos loiro-cinzentos eram tão macios quanto ela imaginava.
"Jesus amado, pare de pensar nisso!"
- Ou sou otimista ou choro pela situação adversa, Srta. Blake! A propósito, algo que nunca passei na vida, e para lhe ser sincero, já estive preso em outros lugares menores e menos aceitáveis.
A jovem arregalou os olhos e pôs a mão na boca.
- Milorde foi preso??
- NÃO! – Robert apressou-se em responder. – Foram situações bastante específicas, se assim posso dizer.
Ele não diria à sua impressionável secretária – que julgava ser uma donzela – que esteve preso em armários junto com as amantes em momentos de luxúria, enquanto no quarto ao lado, sua falecida esposa cuidava das filhas. Jamais contaria algo assim a Athena, que sempre o observava com admiração contida e respeito – não imaginaria sua reação ao pensar em como ela o trataria caso soubesse de seu passado.
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Ficción histórica⚠️⚠️⚠️NÃO PLAGIE! Essa obra tem registro digital no Safe Creative: 2001192897575⚠️⚠️⚠️ --- Coleção As Quatro Estações [LIVRO 5] *Importante ter lido os outros livros para entender a história* O barão Sedwick era um proscrito na Londres do século XIX...