-De qualquer forma, esses sonhos parecem sugerir que se mude da floresta e volte pra casa? - o psicólogo me olhou.
-É. E quando chego lá, é como se minha mãe tenta-se me dizer alguma coisa - lutei para responder. - Mas eu não entendo o que.
-Bom, nós já falamos sobre a menina ruiva, mas agora há um detalhe novo, o regador - ele fez uma longa pausa. - Por que acha que carregava ele com você?
-Eu não sei - pensei. - Não consigo me lembrar.
-Talvez quisesse apagar o fogo do deque onde estava sua mãe.
-É - cobri as mãos com o casaco. - Assim que minha mãe ficou doente, ela disse que sempre estaria presente. Podia ser como um gato perdido ou o som de um vento, mas seria sempre ela. Ela sempre nos protegeu. Mas... - fiz uma pausa ainda maior que a do Dr - Mas na noite do incêndio, eu não pude protegê-la.
-Esperta - ele disse me surpreendendo.
-Se sou mesmo, por que não lembro o que aconteceu naquela noite?
-Tá bom. Vou dizer o que eu penso - ele se ajeitou na cadeira. - Nós sobrevivemos através de lembranças, mas, às vezes, sobrevivemos pelo esquecimento. Você perdeu sua mãe em um incêndio trágico. Sua vida mudou por causa de quê? Uma válvula de combustível quebrada? Talvez não seja tão ruim esquecer.
-Mas e o meu sonho? -perguntei.
-É só um sonho. Vai descobrir o que é, ou não. É assim que funciona. É um processo Anna. Faz quanto tempo? Dez meses? E você já esta praticamente bem. Mas não vai chagar lá se ficar em um lugar como este.
-Já pode me dar alta? – perguntei com esperança.
-O que mais espera de mim? Vá para casa. Namore alguém, se meta em encrenca. Termine o que começou.
-Pode deixar - Sai correndo pelos corredores do hospital até chegar ao meu quarto.
Recolhi tudo, fotos, roupas e posters. Em menos de alguns minutos minha mala estava pronta. Então olhei pela janela e vi meu pai estacionando o carro. Mas quando virei em direção à porta tive uma surpresa.
-Bela jovem Anna. Indo pro seu lar, doce lar - disse minha vizinha de quarto louca. - E eu vou ficar sozinha.
-Eu tenho que ir - falei. Mas antes que consegui desviar, ela pegou meus pulsos, onde havia cicatrizes de cortes profundos.
-Tinha tanto sangue lá, não é, Anna? - ela fez uma pequena pausa. - Acha mesmo que curaram você?
-Vem. Deixa a menina arrumar suas coisas - disse a enfermeira me ajudando. - Já falamos para você não andar por aqui.
-Eles não me curaram - ela disse caminhando de volta a seu quarto. - Pra quem eu vou contar minhas histórias?
Desci as escadas. O céu lá fora estava lindo. Vi meu pai parado no final das escadas e corri a seu encontro. O abracei e entramos no carro.
-Tenho uma surpresa pra você - ele falou quando já estávamos muito longe do hospital - Olha no porta-luvas.
-Me diga que é um cheeseburger.
-Não exatamente - ele disse rindo. Então abri o porta-luvas e peguei um livro que estava lá dentro.
-Você terminou! – falei surpresa.
-Olha dentro.
"Para minhas filhas Anna e Piper"
-Obrigada, pai
-De nada.
-Ficou bom?
-Não sei, mas tenho certeza que você vai me dizer. Aqui tem uma coisa que é boa - ele tirou uma caixinha do banco de trás.
-Legal - havia vários biscoitos dentro. – Valeu.
-Foi a Rachel que fez. Ela vinha junto hoje, mas eu disse que queria você só pra mim - fez uma longa pausa, como eu não respondi ele continuou. - Ela tem sido ótima, Anna. Sério, tem mesmo. E eu não sei o que seria de mim...
-Pai. Eu estou aqui com você - interrompi.
-... Sem ela – ele terminou.
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O Mistério das Duas Irmãs
Misterio / SuspensoAnna, uma garota traumatizada por causa de um incêndio acidental que causou a morte de sua mãe, depois de algum tempo se tratando psicologicamente, a menina decide voltar para a casa e enfrentar os seus demônios, já que não lembra do que aconteceu n...