5 ANOS DEPOIS.
— Se doer, eu juro que te mato, Arthur. — Carol ameaça. Dou risada. Com certeza não vai doer quase nada, considerando a tatuagem minúscula que ela escolheu fazer. Já fiz a mesma, e comparada às outras que tenho no corpo, a sensação não é nada.
— Olha aqui, eu já passei mais de sete horas fazendo as minhas. Fica tranquila, afinal, olha o tamanho disso... — Eu digo, encarando as letrinhas que serão pintadas em seu pescoço. Ela respira fundo, um pouco nervosa. Pego sua mão enquanto o cara prepara.
Dou um beijinho dedo por dedo nela, carinhosamente, demorando os lábios na nossa aliança. Ela sorri, e depois continua com sua expressão preocupada. Eu a convenci de fazer tatuagem. Se eu perguntasse à ela cinco atrás, ela não me responderia, porque provavelmente não falaria.
Tudo bem, comigo ela falava, mas se fosse responder, tenho certeza que me chamaria de louco, como no dia em que ficamos na biblioteca até ela fechar.
Carol estende o pescoço, segurando minha mão com mais força. Assim que o cara começa o processo em uma espécie de agulha semelhante a uma caneta, Carol estremece.
— Paixão, se você se mexer, vai piorar. — Eu digo.
— Não dá! Parece uma... — Ela faz uma careta. — Sei lá, uma formiguinha me picando.
— Calma, ele já fez a primeira letra. — Dou risada, a deixando mais nervosa ainda.
No final das contas, a palavra Blossed escrita em seu pescoço ficou melhor que no meu. É como se a tatuagem tivesse se encaixado perfeitamente em seu pescoço macio. Ela entra dentro de casa com o maior entusiasmo, indo até o quarto e se colocando na frente do espelho.
— Meu deus, ficou perfeito mesmo. — Encaro seu pescoço, com as letrinhas meio avermelhadas.
— Ficou mesmo? Achei que ia morrer. — Diz ela.
— Ficou perfeita, como você. — Digo, envolvendo seu corpo de costas para mim, dando um beijinho em sua orelha. Ela sorri, colocando a mão em meu pescoço e o estendendo na visão do espelho para analisar as duas tatuagens iguais.
Ela sorri e beija minha bochecha, depois meu nariz, e, por fim, minha testa.
Depois vai pra cama, ao lado de sua estante de livros. Algumas coisas nunca mudam. Carol conheceu seu lado espontâneo, o lado em que ela pode ser ela mesma comigo e com as pessoas. Mas os livros continuaram com ela. A timidez também.
Sua mania de colocar o feijão por baixo do arroz nunca mudou. Eu já falei pra ela que é algo totalmente ridículo, porque o feijão é líquido e é bem mais distribuído quando é jogado por cima, mas ela sempre diz que prefere assim.
A mania de bagunçar meu cabelo por horas de manhã, todos os dias, quando acordamos. É um dos meus momentos favoritos, claro. Ela também tem a mania de esticar os pés no porta-luvas do carro, o que é a coisa mais linda e gostosa do mundo de se ver.
E de molhar a pasta de dente na escova antes de começar a escová-la na boca. Tudo bem, parece normal para a maioria das pessoas, mas não era algo que eu fazia com frequência.
Também tem a mania de ficar colocando música quando vai cozinhar, que são poucas vezes, porque tudo é eu que faço nessa casa.
Eu também tenho minhas manias, mas pra mim não são muito explícitas. Nós de vez em quando brigamos, mas quem disse que eu consigo ficar brigado? Se a culpa foi minha ou não, dane-se, eu assumo o erro, não quero saber... nós sempre nos resolvemos no final.
Minha mãe passou a morar com minhas tias e Bárbara e Victor se casaram e tiveram Thurzin, a quem chamo de Arthur Jr., e a quem temos que ficar cuidando todo o domingo. Eu e Carol também queremos ter uma miniatura nossa pela casa, mas ela disse para esperarmos um pouco, e é claro que eu vou esperar.
— No que está pensando? — Carol pergunta, abaixando seu livro e me encarando. Eu coloco o dedo em seus lábios, os delineando, e ela sorri.
— Estou pensando em como você se tornou o amor da minha vida. — Eu digo. Ela sorri e dá uma livrada na minha testa.
— Como assim, eu me tornei? Sempre fui. — Ela se gaba, dando risada. Caio na gargalhada junto, concordando. Meu pai ficaria muito feliz se soubesse do quanto sou feliz hoje, e que a única garota que ele conheceu realmente foi a quem eu passei o resto da minha vida.
Na verdade, ele não só ficaria, como deve estar.
END.
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Talisman | Volsher. [Concluída]
RomansaCarolina acaba de perder a mãe. Com seus traumas passados sobre o terrível acidente envolvendo aquilo que achava ser sua família, ela se vê obrigada a mudar-se para a casa da tia, onde conhece sua prima e seus amigos. Carol não fala - pelo menos, at...