— Ela só vai me mostrar onde é o banheiro. — Eu minto, antes de Babi vir me questionar e falar na minha cabeça. Ela esgueira os olhos, desconfiada, mas depois dá de ombros. Quando chego no quarto, Carol tenta limpar o rosto, mas não consegue; as lágrimas continuam a escorrer.
— Vem cá... — Pego sua mão e a guio até a cama. Coloco ela na minha frente, depois a aconchego melhor. Não faço a mínima ideia do que estou fazendo, mas só quero acalmá-la, dizer do quanto é forte e vai superar tudo isso um dia.
De repente, quero ser o talismã dela. Quero ser o cara que a salva, o cara que ela sabe que vai estar ali ao lado dela independente de tudo. Quero roubá-la e nunca mais devolvê-la, guardá-la num potinho e proteger de todo o mal.
Meu coração se despedaça quando ela continua chorando, mordendo os lábios para evitar soluços e agarrando minha camiseta como se eu fosse algum tipo de salvação. Ela aperta os olhos com força, como se quisesse bloquear alguma imagem... e eu já não aguento mais.
— Ei, ei. — Enfio meus dedos em seu cabelo e dou um beijo perto da pintinha acima de seus olhos. — Quer me contar? O que aconteceu? — Sei que é uma pergunta arriscada, mas, às vezes, tudo que precisamos fazer é contar à alguém. Tirar essa frustração da gente.
Esse peso morto que a assombra por todos os dias de sua vida. Carol respira fundo e abre os olhos, expressando a mais pura agonia nas íris claras e pesadas. Eu a aperto mais, como um lembrete de que estou aqui. De que vou ouvi-la se ela precisar, por mais doloroso e difícil que contar isso seja.
Então ela conta. Sua voz sai rouca, quase irreconhecível, mas Carol me conta. Me esforço para parecer que estou lutando do lado dela, mas a verdade é que... Dizer que estou amedrontado é pouco. Foi horrível. Foi o tipo de coisa que nenhum ser humano faria. O que aconteceu... O que ela viu... Foi desumano.
— Acho que teria sido muito menos doloroso se eu não tivesse visto a cena. Mas estava ali, na minha frente. E saiu sangue. — Ela chora, desesperadamente. — Saiu muito sangue, Arthur. Ver alguém tirando a vida de outra pessoa de uma forma tão desumana é... — Carol balança a cabeça. — Não tem uma palavra que descreva isso.
Ela chora mais. Por horas, talvez. Mas eu só a abraço, ouvindo cada soluço atingir meu coração como uma facada. Quando acho que ela já dormiu, faço menção de sair da cama, mas ela pega meu pulso.
— Fica? — Ela diz, com os olhos brilhando. — Por favor?
E eu não sei nem por quê ainda estou levantado. Volto pra cama de novo e, dessa vez, ela me abraça de frente, deixando o rosto encostado no meu peito. Eu enrolo algumas mechas de seu cabelo enquanto ouço sua respiração e respiro seu cheiro de framboesa...
Com certeza, isso aqui é mil vezes melhor do que transar alguém.
Dou um beijo no topo do emaranhado de seus cabelos, depois pego sua mão e beijo a palma dela. Não sei porque gosto tanto de fazer isso em Carol, mas de certa forma, é pra mostrar que ela é uma espécie de tesouro precioso pra mim.
— Claro, o quanto você quiser. — Eu digo. Eu a vejo sorrindo contra meu peito, e dou outro sorriso descontraído. Sinto meu peito quente, quase implodindo.
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maratona 4/5
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Talisman | Volsher. [Concluída]
RomantizmCarolina acaba de perder a mãe. Com seus traumas passados sobre o terrível acidente envolvendo aquilo que achava ser sua família, ela se vê obrigada a mudar-se para a casa da tia, onde conhece sua prima e seus amigos. Carol não fala - pelo menos, at...