•~Capítulo Um~•

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Capítulo liberado em comemoração aos 3 mil seguidores! Oba! Rs

São Paulo - Capital - 24 de dezembro de 2017

Nesse momento as famílias brasileiras estão em suas casas celebrando com a família, cortando o peru, que não é tão bom, mas muitos fazem questão de pagar uma nota pra ter sobre a mesa, mas a reunião em si deve ser algo mágico, ter pai, mãe, irmãos e avos, tudo aquilo.

- Que besteira. - Levo comigo algumas coisas para uma ceia improvisada para comer em um leito de hospital junto com minha mãe, única pessoa que tenho na vida e que agora está lutando para continuar viva, já que tem cerca de dois anos que luta contra o câncer de mama.

Esse é o terceiro natal que passamos dentro do hospital, o anterior torcemos para ser o último, fizemos até planos de enfeitar toda casa com tudo que tínhamos direito, mas estamos aqui mais uma vez.

Pela manhã tinha vindo, ela ainda dormia, doutor Anderson me chamou até sua sala para conversar, assim que o vi soube que não era uma noticia boa, que iria me contar algo ruim em plena véspera de natal.

- Tem planos para hoje a noite Mali? - Ele acompanha minha mãe desde o início, acabei criando um vinculo com varias pessoas de dentro do hospital.

- Vou trazer algumas coisas pra comer junto com a minha mãe. - Aponta uma cadeira e me sento com receio, louca pra pedir para que vá direto ao ponto de uma vez.

- Se quiser pode cear junto com a equipe no refeitório, soube que vai ter até ponche. - Confidencia baixo, rimos. - Enfim, é só uma ideia.

- Quem sabe depois, também pode ser que tenha um belo espumante no apartamento dez. - Ele ri alto por alguns segundos. - Mas não era sobre ceia de natal que queria falar comigo, não é? - Ele se ajeita em sua cadeira, desvia o olhar e desfaz o sorriso.

- Também. - Encaro minhas unhas com o esmalte saindo, pois ainda não tive tempo para remover a tinta, indo tirando aos poucos, enquanto roía junto as unhas que me restavam. - Nunca te perguntei se tinha família aqui em São Paulo.

- Não tenho, somos só nós duas, minha mãe era filha única. - Foi o que me disse, nunca questionei sobre isso, não fazia sentido e sempre notei que ela ficava desconfortável ao falar da família.

- Entendo. - Se inclina sobre a mesa e apoia sobre ela os cotovelos, seus olhos castanhos bastante cansados pelos plantões e por toda carga emocional que o setor suga de pacientes e funcionários, a oncologia não é fácil, a coisa aparenta ser um caminho sem volta, muitos entram e não sai vivo, no entanto todos tem esperança.

- Eu não sou muito fã de rodeios doutor, isso me deixa mais ansiosa e depois acabo descontando na comida. - Ele não ri da minha piada infame, estou um pouco acima do peso, na verdade sempre fui mais cheia que as garotas da minha idade e a ditadura da moda não me aceitava, cansei de fazer dietas malucas e desmaiar de fome, aos treze anos precisei iniciar um tratamento psicológico por ter embarcado na onda de comer e vomitar.

Minha mãe sempre foi uma mãe perfeita e me apoiou nos momentos que mais precisei, o acompanhamento com psicólogo ainda continua e isso é o que mantém a minha sanidade, fazer parte de um grupo de apoio é bacana, mas as vezes me estresso com tudo isso, parece injusto e as vezes tenho certeza que devo ter levantado da cama do lado errado e isso me castigou pra vida inteira.

- Chegaram os novos exames da sua mãe. - Abre uma gaveta de sua mesa e os coloca sobre a mesa de ferro.
O hospital é publico e tem uma qualidade absurda, nunca imaginei que pudesse ter um atendimento de ponta naquele nível, infelizmente é bom até certo ponto, por que ainda não existe cura para certas doenças.

[DEGUSTAÇÃO] CasablancaOnde histórias criam vida. Descubra agora