[DEGUSTAÇÃO] Casablanca

•~Capítulo Dezoito~•

— Será cerca de nove horas de viagem, se o trânsito contribuir. — Ele diz enquanto dirige a certa velocidade, aparentemente lá fora parece bem quente, um dia bonito de sol, eu me pego apreciando certas paisagens e arquiteturas, há uma mistura no novo e antigo em Casablanca. — Não é como o deserto do Saara, lá tem um oásis fantástico, os berberes tem acampamentos a céu aberto que podem se assemelhar a hotéis.

Ele não exigia um diálogo, ia descrevendo sobre as cidades pelas quais passávamos, e eu me sentia bem em ouvir sua voz empolgada, podia apreciar com gosto tudo que me dizia, sobre todas as cidades de Casablanca.

Zoraide havia separado alguns lanches para nós, pois acredito que já sabia, que seria longo nosso trajeto, aposto que deve estar orando para Alá agora mesmo, para que eu retorne grávida, assim ela se livra de suas malditas obrigações.

Faz cerca de duas horas que seguimos viagem, vez ou outra conversando amenidades, às vezes ficando em silêncio, mas em momento nenhum senti desconforto ou tensão entre nós. Zahi parece ser especialista em deixar o ambiente amigável.

— Você costuma ir com muita frequência ao deserto? — Pergunto enquanto mordo com gosto um pedaço de hambúrguer que ele comprou. Eu realmente não esperava, mas o gesto mexeu comigo.

Às vezes, eu não sei o que pensar sobre ele, me deixa confusa. Agora está relaxado, sorrindo, me contando sobre o deserto e de quando vinha com seu pai e irmão mais velho e é tão espontâneo, que me questiono sobre sua postura.

Mastigo a batata frita, tomando o cuidado de não suar com ketchup o vestido que Zoraide escolheu para mim. Queria ver a cara dela, se me visse comendo algo totalmente fora do cardápio árabe. Devoro contente, por estar comendo o alimento dos deuses. Existe algo melhor? Desconheço.

Zahi parece apreciar o jeito como eu como, por vezes o pego me observando e sorrindo com satisfação evidente.

— Ele também era jovem, acho que é uma espécie de maldição. — Meu corpo fica inteiramente arrepiado e sinto vontade de vomitar todo milkshake de chocolate que ingeri. Ri depois de dizer que a família é amaldiçoada.

— Eles não iam ao médico? — Ele me olha de lado e ri novamente, seu jeito despojado me faz querer ri junto, mesmo ainda estando desconfiada.

— Duvido muito. — Afasto o copo grande do milkshake.

— Você precisa ir, vai que seja genético, ou algo assim. — Segura a minha mão, meus dedos um pouco sujos com ketchup, lambe eles e esqueço como se respira, acompanhando o movimento de sua língua sobre o meu dedo, sem desviar os olhos da estrada que muda a cada quilômetro.

— Não se preocupe comigo. — Diz soltando minha mão, mesmo estado com o ar ligado eu sinto minhas pernas suando um pouco e meu corpo quente, como se eu estivesse tomando banho de sol.