Recess

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Sentada em minha cama, enquanto a música da Melanie Martinez toca no spotify, fico pensando em como me perdi tanto à ponto de não me reconhecer mais. Nem sei por onde começar, muito menos como dar um fim nisso. É verdade, sou fraca!

Não sei se toco os sentimentos das pessoas com as minhas palavras, ou com as coisas que passo no meu dia a dia, mas é tudo tão difícil que sinto a necessidade de contar para as pessoas como sou confusa e insegura. A depressão vez ou outra me deixa de lado e uma alegria, e sede de viver dominam minha mente, mas quando estou no auge da alegria, isso tudo acaba e a angustia me invade. Fico pensando em quantas pessoas me feriram e em quantas eu feri. Não é fácil carregar culpa em nossas costas, pesa demais, ainda mais quando você sabe que magoou a pessoa que você tanto amava. O quê dizer? Perdão? Mas este pedido jamais terá uma resposta sincera, não? Assim como a fantasia de um amor tranquilo e verdadeiro. Nada dura para sempre, não? Nada!

2 ANOS DEPOIS:

A saudade amenizou um pouco, mas ainda não esqueci ela e os momentos que passamos juntas. Ainda posso ouvir sua voz sussurrando baixinho em meu ouvido: - " Eu te amo, Ariela!", ainda posso sentir a sensação de escutar aquela frase, aquecia meu coração e arrepiava os pêlos do meu corpo. Como podemos perder isso, Lili? Como podemos ter nos perdido tanto?

Hoje começo o estágio na escola como professora de língua portuguesa, não era a escola que eu sonhava dar aulas, mas era um belo começo. Você se orgulharia de mim, sua menina cresceu tanto. Queria tanto que você pudesse compartilhar esse momento comigo. Queria tanto chegar em casa e ouvir você dizer: - "Já chegou, amor?", são só sonhos, não? Sonhos que não poderemos realizar porque você descobriu que eu nunca fui importante para você. Ah, se eu pudesse voltar no tempo, teria feito tudo ao contrário, você estaria aqui, meu amor.

- Bom, sua carga horária está aqui! - A diretora da escola me entrega uma folha de papel com todas as salas que eu daria minhas aulas. - Espero que eles sejam bonzinhos com você! - Ela sorri gentilmente.

- Oh! Lógico que serão! Farei o meu melhor para que todos se sintam confortáveis comigo.

- Não tenho dúvidas, Ariela! Você foi muito bem recomendada!

- Obrigada pela oportunidade!

- Que isso! Eu quem agradeço!

- É sério, Mariana, se você não tivesse me escolhido, nem sei o que seria de mim... - Sorrio.

- Ari, pode ficar tranquila, você será uma ótima professora por mérito próprio. Agora vamos conhecer os professores, eles estão super curiosos para saber quem é a novata que trabalhará com a Liliane! - Sorri, apesar do nome mexer comigo.

Entramos na sala e fui apresentada aos professores. Liliane não estava na sala, Mariana disse que ela não viria hoje, pois seu filho ficara doente.

- Enfim! Sejam bonzinhos com ela! Pedro!!! Sem piadinhas! - Repreendeu Mariana.

Pedro era um dos professores da escola, aparentava ter seus 30 e poucos anos.

- Que isso, Mary? Assim a Ariela vai pensar que sou o comediante da turma.

- E não é? Hã-rã! Até parece que ela não será sua próxima vítima, não?

- Meu Deus, para de fazer a minha caveira para a nova professora! - Todos riram. Senti-me em casa.

- Lógico que ela não fará, só está me alertando dos seus comentários sarcásticos, se assim podemos dizer!? - Tentei ser intimidadora, mas falhei miseravelmente.

- Essa é das minhas! - Ele gargalhou.

- Bom, te deixo aos cuidados da nossa querida Esthéla, mas amanhã você ficará com a Liliane, que é a professora que irá te auxiliar durante alguns meses, até você pegar a prática.

- Perfeito! - Sorri.

Conversei com os professores, na esperança de me enturmar e conhecê-los melhor. Eu havia sido tão bem recebida e acolhida por todos. Eles pareciam serem tão unidos e eram mais que colegas de trabalho, eram amigos, aquilo era encantador.

Pedro aproximou-se de mim como quem quisesse puxar mais assunto, para me conhecer melhor.

- Sabe, a Liliane não será tão boa assim...

- Como assim? - Perguntei confusa.

- Você deveria ter escolhido História, não Letras.

- Eu deveria ter escolhido aquilo que me fizesse feliz, logo, Letras.

- "Afiadinha" você!

- Perdão, não quis ser grossa, só quis dizer que amo a minha profissão. Amo o que estudo e quero muito passar o meu conhecimento para outras pessoas.

- Eu sei, calma! Só estava mexendo com você.

- Então, como ela é?

- Ela quem?

- Liliane...

- Ela é incrível, de uma simpatia e presença! Todos gostam muito dela.

- Então tirei a sorte grande?

- Sua sorte é bem pequena, na verdade!

- Como assim? - Perguntei confusa, não sabia se aquilo era uma ironia ou ele realmente estava falando sério.

- Ela é bem baixinha.

- Oh, meu Deus! - Gargalhei. - Você não para nunca de fazer piadas?

- Só quando me dizem que o socialismo é melhor que o comunismo, aí eu paro de fazer piadas.

- Nem me olhe assim, sou a favor do comunismo!

- Eu sabia que você era uma boa menina! - Ele diz com um sorriso no rosto, o que me fez revirar os olhos.

O sinal tocou, interrompendo qualquer prorrogação de conversar que teríamos.

- Bem, acho que está na minha hora, nos vemos no intervalo?

- Claro, Ariela!

Sorri para ele e saí da sala dos professores em direção a minha turma. Todos foram muito gentis, consegui me enturmar com eles e conhecê-los melhor.

Eu tinha fé que esse ano seria o melhor para mim, para as mudanças que eu queria fazer em minha vida.

OutroraOnde histórias criam vida. Descubra agora