"Não é normal, se fosse não estaríamos tão distantes. Ninguém sabe o que sentimos, somente nós. Um segredo dentro dos corredores desta escola. Um segredo que não gostaria de estar escondendo, já perdemos tanto tempo longe uma da outra, querida, o que mais temos à perder?"
- Bom dia! - Uma voz doce ecoou pela sala dos professores, uma voz que meus ouvidos fizeram minha mente reconhecer. - Sinto muito, o meu filho ficou doente, Mariana. Sabe que odeio faltar trabalho, mas era importante.
- Querida! Entendo perfeitamente. Venha conhecer a Ariela.
- Ariela?
- Sim! Algum problema?
- Nenhum, só lembrei de alguém, mas só foi uma lembrança boba...
Escutei os passos delas ecoarem da sala dos professores à cozinha, em uma repartição pequena.
- Ari, esta é a Liliane.
Meu coração acelerou tanto que pensei que iria infartar ali mesmo. Não sabia o que fazer, fiquei imóvel de costas para as duas, sem saber se ficava frente à frente com ela.
- Ari? - Mariana chamou mais uma vez, fazendo-me virar. Pude ver o semblante de Liliane mudar de um sorriso largo à uma expressão fechada e sem reação.
— Oi! É-É um prazer finalmente conhecê-la! — Estendi a mão para cumprimentá-la. — Liliane olhou-me profundamente, procurando uma explicação para aquilo, mas não poderia dar-lhe, não agora.
— O que você está fazendo aqui?
— Vocês se conhecem? — Perguntou Mariana.
— Nã-Não... Não, lógico que não! — Respondei tento obter uma concordância da parte de Liliane, diante minha mentira.
— É! Não nos conhecemos... — Liliane respondeu sorrindo falsamente...
— Minha nossa! Por um segundo pude jurar que conheciam-se e pior, achei que o clima havia ficado pesado entre vocês duas... — Mariana sorriu ao notar a tensão entre mim e Liliane.
— Impressão sua... Mas, é um prazer conhecê-la, Liliane! — Digo e estendendo minha mão novamente para um cumprimento cordial, o que faz Liliane olhar-me e, muito contra gosto, estender sua mão para cumprimentar-me também.
— Bem, já apresentadas! Agora, Liliane, você será a mentora da Ari no que ela precisar. Acredito que você tenha lido a orientação da secretaria de educação?!
— Li sim! Serei a mentora dela durante todo o ano letivo, certo?
— Certíssimo, querida! Agora, apresente seu trabalho e o que seus alunos aprenderam com você. Seja boazinha, como sempre! — Liliane sorri e concorda com a cabeça.
Mariana sai da cozinha nos deixando a sós.
— O que você pensa que está fazendo aqui? A medida protetiva deixou bem claro que você não poderia chegar perto de mim.
— Durante 4 meses cujos quais cumpri pacificamente. Não sei de onde saiu essa força, mas... Enfim... — Sorri sarcasticamente.
— Você não existe! Depois de tudo o que me fez acha que pode chegar aqui e me desestruturar como se nada tivesse acontecido? O que você quer de mim? Já não conseguiu o que queria?
— Eu desestruturo você?
— Vá se ferrar, Ariela!
— Na verdade, não consegui nada uma vez que o objetivo era ter você.
— Você não pode ter aquilo que nunca foi seu. — Ela diz em tom desafiador.
— Quem disse que você não é minha? — Sorri, o que a deixou lindamente brava e sem graça.
— Ah! Por favor! — Ela diz saindo apresada da cozinha, fui atrás dela sem a mesma perceber.
Liliane entra no banheiro dos professores, talvez para acalmar-se, o que não aconteceria, pois eu não ia deixar que isso acontecesse.
— Se você pensa que pode carregar uma farsa como desculpa para não dizer a verdade sobre seus sentimentos por mim, Liliane, saiba que está completamente enganada. — Liliane que refrescava seu rosto em uma das pias do banheiro virou-se, indignada.
— Você pensa que pode chegar aqui, apontar o dedo para mim como se fosse eu quem está ocupando seu espaço? Ariela, acabou! Nosso relacionamento acabou no momento em que você nos expôs naquele post ridículo...
— Que você tem que concordar que é verdadeiro, não? Por que você está mentindo sobre a verdade do conteúdo lá escrito, e você mais do que ninguém sabe que eu falei a verdade.
— E o que importa? Minha vida está arruinada. E meu marido me culpa todos os dias por ninguém contratá-lo.
— Liliane, convenhamos, ele é um bostal dos mais sujos! — Revirou os olhos e a olho. Liliane sorri enojada e mexe em seu cabelo.
— Bem, se você vai mesmo trabalhar aqui durante todo ano letivo, vamos dar um jeito de ficarmos afastadas e somente nos falarmos sobre assuntos profissionais.
— Prometo tentar!
— Você fará isso, Ariela, porque senão não teremos uma boa convivência e uma de nós duas terá que sair. Por favor, não force-me a sair do único emprego que me restou! — Aquelas palavras pesaram em minha consciência, fazendo-me repensar no porquê eu ainda procurava-a.
— Prometo que não farei nada para você. Nunca quis magoar você, meu... Liliane... Farei meu estágio e seguirei a deixando em paz. — Falei e saí do banheiro.
Pensava em continuar com meu plano, mas não queria insistir em algo que talvez não existisse mais no coração dela. Era inevitável ficar perto de Liliane sem querer beijá-la, abraçá-la e dizer que a amava, mas deveria controlar-me, afinal, eu estava lá pelas crianças e para reconquistar a confiança de Liliane mais uma vez. Não poderia deixá-la partir daquela forma novamente. Eu a queria e dessa vez não deixaria que seu marido atrapalhasse nosso amor.
Entramos na sala de aula e começamos a dar nossas aulas, pude vê-la sorrir lindamente para os alunos, como ela amava tudo aquilo, aquela atenção que ganhava deles. Senti uma pontada em meu coração, o medo voltara a rondar meus dias. Não imaginava minha vida sem ela, eu tinha que recuperar o amor de minha vida, e dessa vez, dar um final feliz a nossa história.