Psicopata?

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   No dia seguinte acordei cedo, tomei café e saí, não queria me atrasar, eu gostava do que fazia, lutei muito para me formar e chegar onde cheguei. Mas Liliane era o meu combustível, eu acordava mais animada por saber que ela iria e poderíamos nos ver. Era empolgante.

— Bom dia! — Digo ao entrar na sala dos professores.

   Liliane olhou-me e sorriu, o que me deixou um tanto quanto confusa, afinal, ela só sorria para mim quando expressava algum sentimento, mas descartei a hipótese de que poderia ter brigado com o marido.

— Bom dia, Ariela! — Disse Pedro eufórico ao me ver, o que fez Liliane revirar os olhos.

— Bom dia, querido! Como está?

— Melhor agora que minha professora favorita chegou! — Sorriu.

— Olha como é safado! Diz isso para todas. — Disse ironizando.

— Todas as comunistas dessa escola!

— Então isso vale para Liliane? Ela é comunista, não é, Lili? — Disse sorrindo, mas pude ver que ela não havia gostado. Pareceu-me haver uma estranha relação entre os dois.

— Não faça isso! Liliane já deu em cima de mim milhares de vezes e eu sempre disse não. Não é por ela ser casada, mas sim por ela sempre falar da vida íntima dela, sabe? Acho desnecessário.

— Nem tudo ela fala, meu caro!

— Claro que ela fala! Ela teve um amante que a destruiu. Ela o amava muito!

  Olhei para Liliane, ela estava destruída com o conteúdo do caderno de chamadas. Enquanto Pedro falava, memórias de nossa história começaram a rondar minha mente. Eu olhava pala Liliane e lembrava dos beijos, abraços, noites de amor. Lembrava do carinho, da ingenuidade de ambas, apesar dela ter tido vários amantes antes, éramos singulares, pois éramos o primeiro amor feminino na vida de ambas.

— Mas ele era psicopata... — Quando Pedro terminou a frase eu o olhei e não pude conter o riso.

— Era o quê?

— Psicopata! — Gargalhei alto e Liliane parecia estar desconfortável com a minha amizade repetida com Pedro. — Por quê está rindo?

— Por que não faz sentido! Ela deu um motivo plausível para tal loucura?

— Disse que ele a perseguia. — A campainha tocou e o assunto havia acabado ali.

  Liliane pegou suas coisas e saiu brava, comecei a rir e ela ficou mais brava ainda com a situação.

— Do que você está rindo, Ariela?

— Por você ter dito a todos que sou psicopata...

— Como assim? — Perguntou surpresa.

— Acabo de escutar que sou psicopata, mas claro, Pedro acha que teu amante era homem, mas nem desconfia que na verdade sou eu.

— Cale a boca! Por favor! Estamos no meu trabalho!

— Estamos no nosso trabalho! E não me mande calar a boca! Estão todos pensando que sou psicopata? O que você anda falando de mim? Falou que eu te perseguia? Meu Deus, Liliane, você não tem limites. — Quando estava prestes a sair, Liliane me puxa para dentro de uma sala, quando fiquei frente a ela, nossos lábios quase se tocaram e ela deu um passo para trás.

— Desculpa! Mas foi o que achei... Você me magoou, Ariela, nada do que eu disser ou fizer, irá chegar aos pés do que você fez. Fui humilhada! Perdi emprego! O que você perdeu? — Ela perguntou.

— Perdi você... — Ela olhou-me nos olhos e abaixou a cabeça.

— Não faça isso! Não irei cair na sua lábia.

— Não é lábia, é a verdade! Perdi o amor da minha vida... Isso jamais poderá ser comparado a um emprego ou bens materiais. Perdi você, que é a única pessoa com quem eu realmente me importo nessa vida. Perdi você, meu amor.

  Liliane sabia que eu estava sendo sincera com ela, jamais mentiria para ela. Meu coração era dela e o dela era meu. Não podíamos ficar separadas, pois nosso amor era mais forte que tudo isso.

— Precisamos ir. — Ela disse. — Fique longe do Pedro!

— Só pelo fato de você estar dando em cima dele?

— Não! Você é minha!

   Liliane saiu da sala, deixando ali uma Ariela confusa, como sempre. Ela tinha o dom de me deixar fora de mim, gelada, trêmula e muito excitada. Ela era assim, era o furacão da minha vida, mas também o grande amor que eu estava disposta a ter para sempre ao meu lado. Afinal, as grandes histórias de amor começam assim: com dificuldades, mas logo tudo se ajeita.

  Sai da sala e entrei na nossa sala de aula, um tanto quando desconcertada, mas segui com o plano de aula. Troquei alguns olhares com Liliane, olhares que fazia tempos que não trocávamos, era pouco, mas era único e eu sabia que aquilo era o início de nosso recomeço.

    "Amar você não foi uma escolha, foi uma decisão, pois jamais irei esquecer-me o dia em que a vi pela primeira vez. Você estava lá, mais ninguém e quando Deus põe as pessoas em nosso caminho é por um motivo que só ele sabe. Se fossemos só mais uma daquelas histórias impossíveis, não estaríamos aqui, uma pensando na outra como fazemos diariamente. Ninguém pode tirar você da minha mente e ninguém pode me tirar da tua mente. Amor, querida, foi quando nos conhecemos."

OutroraOnde histórias criam vida. Descubra agora