「 02 」

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☽• Peter •☾

Quando May deixou a casa - após conferir mais de duas vezes se todas as portas e janelas estavam trancadas - Peter a observou sair pelas frestas das madeiras da janela da sala, a mulher se virou para encarar a casa uma última vez, antes de seguir pelo caminho ao qual deveria seguir para ir ao centro da alcateia. Peter se moveu no sofá e jogou mais alguns pedaços de madeira na lareira, a última coisa que queria era congelar dentro daquela casa a noite inteira, se ajeitou e cobriu o próprio corpo com a coberta que, normalmente, somente May a utilizava, ainda não passava das três da tarde mas o jovem Parker já se sentia estranhamente cansado, talvez um descanso não viesse a ser tão ruim naquele momento.

— Tia May, eu quero minha mãe — Sussurrou Peter com a voz tremula, segurava a mão de sua tia com força enquanto caminhavam em direção a casa dela com seu conservis, Ben.

— Peter já conversamos sobre isso... — May parou de caminhar pela neve, se abaixou ao nível de seu sobrinho, um triste sorriso dançou por seus lábios vermelhos por conta do frio que os rodeava. Arrumou o moletom vermelho com o desenho de uma aranha em preto no centro que a criança usava, arrumando o gorro em sua cabeça — Seus pais... Eles sofreram um acidente... — A Parker se calou ao ver a face de Peter se contorcer e seus olhos começarem a se encherem de lágrimas. May conseguia imaginar a dor que o sobrinho estava sentindo, desejando ter alguém de volta desesperadamente em sua vida. Puxou a criança para um abraço apertado e respirou fundo. Seria um longo inverno.

Peter foi retirado de seu sono por barulhos contra a madeira da casa, o fogo na lareira mal se mantinha aceso naquele momento o que deixou a casa um pouco mais fria do que a algum tempo atrás, empurrou o cobertor para longe de seu corpo e pôs os pés cobertos por meias no chão e começou a caminhar pela casa, arrepios percorreram seu corpo a cada passo que dava mais a dentro da casa. A primeira coisa a tomar seus sentidos veio a ser o cheiro forte de sangue na porta que dava para o lado de trás da casa e um cheiro desconhecido de pinheiros e canela, um tremor estranhamente prazeroso percorreu o corpo do ômega ao chegar a cozinha, uma de suas mãos alcançou a maçaneta da porta e - por um momento - a voz de May lhe alertando para deixar a casa trancada lhe veio a mente, recolheu sua mão de imediato e franziu o cenho, mas poderia ser algum lobo machucado e se fosse o alfa não ficaria nada feliz em saber que Peter deixou o lobo para morrer em sua porta, balançou a cabeça e segurou a maçaneta fria entre seus dedos quentes e destrancou a porta antes de abri-la. Não havia ninguém ali, ninguém vivo pelo menos, seus olhos castanhos se moveram para baixo e o pavor se estampou em sua face por longos segundos, um coelho branco morto estava ali a sua frente, o animal claramente era gordo e parecia ter sido alimentado por algum tempo, o sangue escorria pela escadaria de madeira e se mesclava com a terra e neve logo que as tocava após o último degrau. Mais uma vez, o rapaz olhou para os lados de forma apreensiva, ninguém, nem mesmo pegadas haviam sido deixadas para trás além do cheiro de pinheiros, canela e mais algo que ele não conseguiu identificar a principio, Peter não sabia o que fazer naquele momento, nunca havia visto nada como aquilo e não fazia ideia de como reagir, sentia seu lado ômega impressionado e em completo deleite com o gesto e Peter se sentiu ainda mais confuso com a mistura de sentimentos que lhe consumia. Então. Fez a única coisa que todos os seus sentimentos concordavam, pegou o coelho pelas orelhas e o trouxe para dentro, trancando a porta de volta logo em seguida. Colocou o animal sobre a pia e o encarou por mais alguns longos segundos. Perguntaria a sua tia o que aquilo significava logo que ela voltasse a casa.

☽• May •☾

Estava mais do que acostumada com todos os olhares direcionados a ela, havia tido anos daquilo e sinceramente, já não lhe incomodavam como antes. Se sentou em uma das cadeiras mais afastadas dos alfas e dos outros betas como ela, todas aquelas pessoas a incomodavam e irritavam, mas May era inteligente o suficiente para calar a boca sobre eles e continuar com sua vida. Muitos daqueles lobos - no passado - a chamaram de estúpida por escolher se mudar com o sobrinho ômega para a área mais afastada da alcateia, mas May sabia muito bem que sua escolha havia sido a mais inteligente, não se abandonava a família não importa o que ruim aconteça.

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