MEUS OLHOS VÃO SE ABRINDO aos poucos, e quando estão quase abertos, vejo uma luz forte, fechando-os imediatamente em seguida. Um claro lampejo ocupa minha mente por alguns segundos, não demora muito e passa. A vertigem, felizmente, sumiu.
Aperto as pálpebras sobre os olhos, respirando com regularidade, finalmente. Minha cabeça parou de doer, agora só dói quando eu a toco ou faço qualquer movimento idiota.
Sinto que estou deitada em uma superfície áspera e dura, completamente desconfortável.Abro os olhos, agora permitindo que eles se acostumem à luz, que vai deixando de ser intensa à medida que eles se acostumam à claridade.
A temperatura é neutra, nem fria nem quente.O ar é puro, não está abafado como antes.
Concentro-me apenas na minha respiração, antes de reparar onde estou exatamente.
É o laboratório de experimentos da Becker Corporation. É aqui onde eles usam o meu sangue em cobaias, onde fazem experiências extraordinárias, onde muitas vidas deixam de existir e outras vivem eternamente. Obtiveram grande sucesso ao usarem meu sangue em cobaias doentes: elas se curam respectivamente, como se nunca tivessem adoecido antes. Em cobaias saudáveis, o nível de resistência aumenta; as cobaias ficam mais ágeis, mais fortes, e podem se regenerar, curando-se completamente; a cada membro que perdem, ganham um novo no lugar.Estrangeira.
É assim como eles me chamam. Tenho trinta e cinco anos.
O que eu sou?
Eu não sei.
De onde vim?
Também não sei.
A única coisa que sei é que sou uma arma, não uma arma humana, muito menos uma máquina.
Além de arma, sou uma espécie de avanço para a cura iminente de doenças, para o aperfeiçoamento humano, a busca pelo novo.
Eu sou o futuro, como a Doutora Wancer me denomina. Ela acha que sou a ajuda, outros me temem, acreditam que sou um perigo. Enquanto ela acredita que sou a "salvação", outros afirmam que sou a "destruição", da humanidade.
Eles me acharam dentro de uma cápsula negra que revestia todo o meu corpo. Iam me matar, mas ao descobrirem a vinda de mais como eu ㅡ que estavam vindo para iniciar a maior guerra de todos os tempos, a Grande Guerra, como a nomearam, resolveram poupar a minha vida, me treinar.Fui treinada desde criança. E foi assim que me encontraram: ainda criança.
Treinada para matar.
Treinada a matar sem piedade.
Eles me usam, simplesmente me usam como uma arma. Foi para isso que eles me treinaram: para ser uma arma do governo alemão.
Estavam me preparando para A Grande Guerra, a guerra que traria todos à ruína.
Ainda era pequena quando descobri que eu podia me regenerar, curar um corte ou outro dano qualquer em meu corpo, o tempo foi me mostrando habilidades incríveis que eu tinha e não sabia usar; mas me treinaram, me ensinaram... E eu pensei que faziam isso para me ajudar no controle emocional, ou algo assim. Mas não era bem isso: estavam me tornando em uma arma. Hoje, sou propriedade particular do governo alemão.
ㅡ Existem outros como você ㅡ me disseram. E então, me treinaram. Escolheram os melhores professores, os melhores mestres, para criar algo maior e mais poderoso do que todos eles juntos. Eles queriam a mim para destruir os outros.
Sendo propriedade do governo, eles têm total controle sobre mim. Eu não poço fugir, nem nada parecido. A minha vida, insignificante a mim, sempre está em risco.
Eles ainda me querem, e pelo que sei, não vão me deixar partir tão cedo.
Só não tentei fugir ainda, porque devo minha vida à Doutora Wancer. Não posso deixar sua honra de lado, depois de tudo o que ela fez por mim. Eu confio nela mais do que em qualquer outra pessoa aqui. Ela é como uma mãe para mim, literalmente.Mas o fato de estar dentro de uma das jaulas das cobaias para experimentos, me incomoda, nunca estive aqui antes, jamais fui presa. Sequer tenho noção de qual dia é hoje, não sei por quanto tempo estive apagada.
Antes de acordar no quarto sujo e mal-iluminando, lembro-me de estar no campo de batalha do exército alemão contra o exército russo, quando um dardo tranquilizante foi atirado em meu pescoço, derrubando-me no mesmo instante, e quando recobro a consciência, estava completamente nua, amordaçada em uma cadeira, naquele recinto. E depois me apagaram de novo, e agora, estranhamente, acordo dentro de uma das jaulas das cobaias do laboratório da Becker Corporation.
Ainda não entendo por que estou aqui, por que me prenderam em uma jaula.
Doutora Becker não permitiria isso. Nunca. Se ela me visse aqui, seria capaz de matar quem me aprisionou, não tenho dúvidas a respeito disso.
Mas o que não consigo entender é o fato de eu ter acordado naquele lugar é agora estar aqui.Inacreditável.
Ouço um bip. Uma mensagem caiu em um dos computadores perto da jaula da qual estou aprisionada. Daqui, dá pra ver absolutamente tudo o que está na tela dele.
Lenta e delicadamente, tento me levantar. Meus joelhos tremem, minhas pernas bambeiam, mas depois de um segundo, consigo me recompor, equilibrando-me com mais facilidade.
A minha pele está marcada, cortada onde a mordaça me prendia. Nos pulsos, posso ver os meus ossos, que estão aparecendo nitidamente. É uma visão nauseante, mas isso não me impede de saber a verdade. De saber o que está havendo de fato.
Faço uma careta de desgosto.É inaceitável. Tenho que saber a verdade.
Não podem ter me aprisionado aqui sem algum motivo específico.
Treinada para matar.Treinada para matar, e presa em uma jaula por quem me treinou. Não faz sentido.
Os meus pulsos começam a arder mais uma vez. Olho para eles.
Respiro fundo, aliviada.
Está cicatrizando, felizmente. O que não entendo é por que demorou tanto. Era pra ter cicatrizado basicamente depois de alguns minutos, no máximo cinco minutos. É o suficiente. Mas, agora, demorou. Muito.
ㅡAlgo a incomoda?
A voz, fria e ao mesmo tempo calma, porém familiar, atrai a minha atenção para um dos cantos do laboratório.
Sentada em uma cadeira giratória, lendo tranquilamente um grande volume, está a Doutora Diana Enders.
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HINDLANCE - A SENHORA DO DESTINO
Ciencia FicciónHindlance - A Senhora do Destino Distribuído em PDF Número de Páginas: 60 páginas Tempo de Leitura: 45 minutos Sinopse: Estrangeira. É assim como eles me chamam. Meu nome, é Raven Alexander. Tenho trinta e cinco anos. O que eu sou? Eu não sei. De...