6 - SALA BRANCA

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PORÉM, NÃO IREI DEIXAR QUE ela faça isso. Vou matá-la... rasgar sua garganta com minhas unhas e meus dentes... despedaçá-la completamente... arrancar a pele dos ossos...


Sempre acreditei nela, e agora ela vem e faz isso comigo... um erro imperdoável...



Como ela pôde fazer isso comigo durante todos esses anos, eu não tenho a mínima ideia, mas vou descobrir, descobrir toda a verdade. Por outro lado, tenho a sensação de que ela esconde mais do que minha verdadeira origem, ela esconde algo a mais. Tenho certeza.



Eu e Jensen atravessamos a rua, sem dizer nada. Levamos quase cerca de um minuto inteiro para atravessá-la. Jensen é cauteloso, age naturalmente, como se nada de ruim tivesse acontecido. Sei que ele tem medo, mas não demonstra, ele finge ser o que não é. Com o corpo ereto, os braços caídos ao lado do corpo e a cabeça erguida, ele caminha solenemente pela rua vazia, que não tem quase ninguém mais. Mas vejo que seus olhos refletem um brilho onde há uma dúvida incômoda. Ele hesita sobre algo que não tenho a mínima ideia do que é, possivelmente. Assim como ele, Enders também hesitava dessa forma, ela também tinha essa sombra de dúvida refletida no olhar.



Doutora Enders e eu éramos muito próximas. Meio que como mãe e filha, na verdade; sempre fomos muito íntimas. Quando ainda era criança, eu caia e me machucava, e era ela que estava lá para me ajudar, me consolar.  Se eu estava triste, ela fazia o possível para me ver sorrindo mais uma vez, é compartilhava comigo uma alegria maternal, totalmente insubstituível. Eu amava isso, a amava.



Mas com o tempo, ela começou a me levar para uma sala branca, toda fechada, a qual descobri, mais tarde, que se chamava câmara. E nessa sala, foi onde ela começou a me treinar, a dizer que o mundo era grande e poderia me derrubar facilmente, assim como eu tropeçava com facilidade nas próprias pernas e caia de cara no chão; mas em todas às vezes que eu caia, ela estava lá para me levantar e me fazer seguir em frente, nunca deixou eu desistir.



O tempo foi passando mais depressa, é a rotina de treinamentos foi aumentando, é junto com a rotina, foi a impaciência de Enders, que também foi aumentando. Passei então a ser torturada fisicamente, porque, segundo Enders, eu ainda era insuficiente, eu precisava de algo para me motivar, por isso resolveram me torturar; e foi nesse tempo que Enders descobriu que podia me regenerar, quando quebrei o braço em um acidente de carro e tive que amputá-lo, e foi a própria Enders que retirou meu braço, que se tornará inválido, porém, em menos de uma hora, ele havia renascido, um novo braço estava no lugar do antigo. O fato de eu me curar, ela sabia desde que eu era pequena, desde o momento em que peguei um bisturi e, sem querer, cortei meu braço com ele, e então, em menos de alguns segundos, o corte se cicatrizou.




Enders dizia a mim que eu era especial, e que nenhuma outra criança ou outra pessoa qualquer poderia saber de como eu era realmente, ou então o que eu era, caso contrário, eu iria ser excluída do restante da humanidade, as pessoas iriam me abandonar. Aí temi todas as pessoas que não fossem da Enders Corporation, não confiei em ninguém; e foi assim que aprendi a viver: não confiando em ninguém. Se eu não quisesse desmoronar na vida, era só não confiar em ninguém, pelo menos eu acreditava que isso somente aqui fora, no mundo, mas hoje percebi que eu estava enganada durante todo esse tempo. Quem eu realmente não deveria confiar estava comigo durante toda a minha vida, é eu nunca enxerguei isso, estava absolutamente cega. Mas agora... agora eu consigo enxergar a vida como realmente é.



Certamente, não vou me deixar enganar por mais nada.



ㅡ Para aonde estamos indo? ㅡ pergunto a Jensen.



ㅡ Para fora da cidade.



ㅡ Fora da cidade?



Jensen balança a cabeça, confirmando.



ㅡ Aonde exatamente?



ㅡ Você vai ver, Ang.



ㅡ Meu nome não é Ang!



ㅡ Ang é melhor do que Estrangeira.



ㅡ Idiota.



ㅡ Ah, admita, é um nome bonitinho.



Reviro os olhos, engolindo a raiva e a vontade de esmurrá-lo.



Jensen vira a esquina, seguindo na direção de um restaurante.



ㅡ Ei!



ㅡ O quê? ㅡ ele se vira para me encarar, com uma expressão de intensa confusão.



ㅡ O que você está fazendo?



ㅡ Eu quero comer! ㅡ Jensen faz uma cara de quem é inocente.




ㅡ Não é hora para você comer, seu imbecil!



ㅡ E desde quando você sabe a hora que eu devo comer?



ㅡ Temos coisas mais importantes a fazer do que comer, retardado.



ㅡ Ô bonitinha, desculpa, mas você tem coisas importantes para fazer, não eu.



ㅡ O que quer dizer com isso?



ㅡ Eu só estou ajudando você. Posso abrir mão disso a qualquer momento, caso você não saiba.



ㅡ Obrigada por lembrar.



ㅡ Disponha.



Jensen ri, entrando no restaurante. Eu sigo logo atrás dele, mesmo não sabendo por que estou entrando com ele no restaurante.



ㅡ Você vai se acostumar ㅡ ele diz, descontraidamente.



ㅡ Com o quê?



ㅡ Com a minha vida, óbvio.



ㅡ Do que você está falando?



ㅡ Você...



ㅡ Você não acha que eu vou viver com você, acha? Isso está fora de cogitação.



ㅡ Meu bem, é o que você acha.



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⏰ Última atualização: Feb 04, 2020 ⏰

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