4 - CARNIFICINA

21 3 0
                                    

ㅡ VOCÊ VAI SE ARREPENDER ㅡ DIGO, olhando-a de relance.

Doutora Enders para na entrada da porta do laboratório.

ㅡ Você ainda não entendeu, Estrangeira ㅡ ela fala, com uma pontada de ironia na voz. ㅡ Eu já me arrependi ao ter deixado você viva, para ser franca.

ㅡ Eu vou matar você.

Lenta e perigosamente, ela se vira para me encarar.

ㅡ Você não se cansa de repetir isso, não? ㅡ E vai embora, me deixando sozinha aqui.

Não irei mudar o que penso. Eu vou matá-la, nem que isso seja a última coisa que eu faça.


Sento-me, e fico pensando em como sair daqui, e matá-la, até que, do nada, caio no sono.


Estridentes...


Estridentes e apavorados, os gritos me  acordam. Estão próximos. Pessoas correm de um lado para outro, percebo isso pela força que os pés batem no chão. Parece ser uma perseguição.


ㅡ É tarde demais ㅡ ouço alguém dizer, do outro lado da porta. A voz soa preocupada. ㅡ Ela nos colocou em perigo!


ㅡ Deve haver alguma forma! ㅡ exclama uma outra voz, também preocupada.


ㅡ O engraçado é que ela fugiu e nos deixou aqui para morrer, depois de tudo o que fizemos por ela, aquela marginal!


ㅡ Se eu sobreviver a isso, juro que vou atrás dela ㅡ fala a primeira voz, com um tom de repulsa. ㅡ Vou arrancar a cabeça dela do corpo!


ㅡ Não será preciso que o Diabo venha buscá-la, eu mesmo irei queimá-la viva nas labaredas do Inferno!


Os dois homens, donos das vozes, estão nervosos e furiosos, noto pelo tom como falam.


Não citaram nomes, mas sei que estão falando da Doutora Enders. Óbvio.


Eu não sou a única "pessoa" a ter raiva dela... a odiá-la.


As vozes silenciaram-se.


Não há mais nenhum outro som ou barulho qualquer por perto. Os gritos cederam também.


Suponho que os dois homens estejam mortos.


Um silêncio fúnebre reina por toda a corporação.


É como se aqui sempre fosse assim, quase como um cemitério, na verdade.


Fico completamente desperta quando ouço o barulho enlouquecedor de tiros de um fuzil vindos do corredor que leva ao norte, alguém grita, e um som seco retumba pelas paredes, fazendo eco em meus ouvidos, por pouco não estourando meus tímpanos.


Como se eu não estivesse aqui, ele entra e vai até um computador do outro lado do laboratório, sem se dar ao trabalho de olhar na minha direção. Está portando um fuzil; era ele quem estava atirando no corredor. Sua personalidade é cativante; pelo jeito como entrou, completamente despreocupado, parece ser arrogante, do tipo que se faz de durão e tenta não mostrar seu lado sensível para não se magoar tanto, do tipo que têm muitos problemas mas não gosta de demonstrar. Conheço esse tipo de pessoa. Paul era assim, até morrer, por outro lado.


ㅡ Quero que venha comigo ㅡ ele diz, determinadamente sem olhar para mim. Além de arrogante é ignorante. ㅡ Mas não faça nada idiota.


HINDLANCE - A SENHORA DO DESTINO Onde histórias criam vida. Descubra agora