3 - CONFIANÇA E DISPOSIÇÃO

20 3 0
                                    

ㅡ DOUTORA ENDERS? ㅡ PERGUNTO ENCARANDO-A, surpresa.
          

Lenta e precisamente, ela ergue a cabeça. Então, abre um sorriso diferente de todos os outros sorrisos que eu já vira antes. Chega até ser cruel, quase assustador.
          

ㅡ Olá, Estrangeira. ㅡ Ela fecha o livro, tirando os óculos retangulares.
          

ㅡ O quê...
          

ㅡ Deve estar se perguntando ㅡ Ela se levanta, colocando o livro em cima de uma mesa redonda, ao lado de uma outra jaula ㅡ, o que está fazendo aí  suponho.
          

Confirmo com um aceno de cabeça.
          

Ela abre outro sorriso, que me deixa inquieta.
          

ㅡ Você está onde deveria estar há muito tempo, minha querida ㅡ ela diz, passando a mão sobre as teclas de um computador.
          

O quê?
          

ㅡ Você quer dizer presa em uma jaula? ㅡ pergunto, arqueando a sobrancelha.
          

ㅡ Exatamente. ㅡ Doutora Wancer cruza as mãos na frente do corpo, ainda com o sorriso aberto no rosto. ㅡ Você aprende rápido, Estrangeira.
          

ㅡ Mas por quê? ㅡ me aproximo das grades, agarrando-me à elas com firmeza. ㅡ Por quê?
          

ㅡ Não precisamos mais de você.
          

ㅡ VOCÊ! ㅡ exclamo, unindo as sobrancelhas. ㅡ Você não precisa de mim ㅡ corrijo-a, agora entendendo tudo.
          

ㅡ Você era o futuro.
          

ㅡ Você estava me usando ㅡ sussurro, tentando acreditar no que acabei de processar.
          

ㅡ Mas é claro ㅡ Doutora Wancer fala, caminhando em minha direção.
          

ㅡ Não posso acreditar... Eu confiava em você.
          

ㅡ É, sei perfeitamente bem. E é justamente a sua confiança que me fez seguir em frente, conseguir o que eu tanto ansiava por alcançar.
          

ㅡ Sempre confiei em você ㅡ digo, completamente desapontada. ㅡ Sempre estive à sua disposição.
          

ㅡ Estou ciente de tudo isso e muito mais.
          

Dou um murro nas grades, rangendo os dentes.
          

ㅡ Fique furiosa o quanto quiser, Estrangeira. ㅡ Ela está a mais ou menos uns dois passos de distância de mim. ㅡ Sabe perfeitamente bem que não tenho medo de você.
          

ㅡ Tenho consciência disso...
          

ㅡ Estána hora de virar o jogo. Agora, a cobaia aqui, é você.
          

Como se eu já não tivesse notado, penso, apertando as grades com força o suficiente para os meus dedos irem do branco para o roxo.
          

ㅡ A sua espécie resolveu ficar desta vez ㅡ ela une as sobrancelhas, com desgosto ㅡ, não é mesmo?
         

ㅡ Aquelas coisas não são minha espécie!
         

ㅡ É o que você pensa... Eles se curam, se regeneram, são ágeis e possuem força sobre-humana... assim como você. Sequer envelhecem!
         

ㅡ Não deveria ter aprisionado um deles. Foi um erro. Devia ter matado ele há muitos anos.
          

ㅡ Exatamente. Mas não foi isso o que eu quis fazer, como você bem sabe.
          

ㅡ Você é uma marginal ㅡ murmuro, tentando me controlar.
          

Estou fazendo o possível para não quebrar essas grades e ir até ela e matá-la, rasgar sua carne com as unhas e os dentes, esmurrá-la completamente, desmembrá-la membro por membro, arrancar a pele dos ossos... Faria o possível e o impossível para vê-la morta imediatamente. Não hesitaria nem por um segundo em fazer isso. Teria um enorme prazer em matá-la. Uma dádiva e tanto.
          

Eu nunca fui tratada como um todo, eu era um ser totalmente a parte, e só agora paro para notar isso.
          

Eu vou matá-la.
          

Garanto que vou.
         

ㅡ Tire-me daqui ㅡ digo, encarando-a friamente.
         

ㅡ Acha que sou idiota? ㅡ Ela se vira, na direção da porta. ㅡ Não sou burra o suficiente para deixar você sair. Não agora que você sabe o motivo de estar aqui.
          

ㅡ Eu era a cobaia imperatriz... fui tão arrogante a ponto de não ter
notado.
          

ㅡ Isso mesmo, Estrangeira. Você era a Cobaia das Cobaias. Devia se sentir honrada.
          

ㅡ Em matar você, claro que sim. Seria uma honra matá-la, Wancer.
          

ㅡ Até imagino, se bem a conheço, Estrangeira. ㅡ Ela ri, sarcasticamente.
          

ㅡ Vou acabar com todos vocês. Garanto a você que farei isso.
          

ㅡ Ah, Estrangeira... destemida, porém ingênua.
          

Grito, um grito entrecortado, portanto furioso.
          

Eu vou matá-la.
          

Não é uma ameaça.
          

É uma promessa.

HINDLANCE - A SENHORA DO DESTINO Onde histórias criam vida. Descubra agora