Canção do exílio em versos (tortos/retos) sem rima

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Minha terra tinha palmeiras — hoje cortadas
Sob seu túmulo a canção fúnebre da terra
Ararinha azul já se foi, a asa branca ninguém sabe onde está
O canto dos passarinhos é elétrico, chamando para uma prisão outros bichos de pena(s)
As estrelas do céu não se veem — o céu é iluminado demais no chão
Flores de plástico em cada casa há em vários vasos — seu perfume inodoro só não é pior do que o que se vende em frascos caros
Que vida há nos bosques ou florestas? Curupira não cumpre seu serviço
Amores não há nesta terra — só glorificação da guerra (nova religião nacional)

À noite crianças choram, os braços cortados
Choram, ainda, as mulheres; corações esmagados
À noite, o único prazer que se tem é sozinho
E o grito de ascenção é, às vezes, uma canção muda

Minha terra tem primores
Invisíveis pra muitos, eu sei
Em outro lugar encontraria alguns deles, mas prefiro os de cá
Só, o dia vira noite
Mas prazeres noturnos podem ser só da metade de um par
Minha terra — é, ainda tem palmeiras
Enquanto a serra e o fogo não as levar
Enquanto isso, ao longe um pássaro invisível canta

Não permita o tempo que eu morra
Sem alterar estes versos
Sem que desfrute os primores
Que ainda existem por aqui
Sem que converse à sombra de palmeiras
Com amigos ou comigo mesmo
Ao som de, talvez, um sabiá

Palavras Perdidas (Achadas)Onde histórias criam vida. Descubra agora