Amava tanto a chuva, que esperava os trovões

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Ela adorava quando sentia aquele cheiro inquestionável de chuva iminente.

Sentia um frio na espinha quando fechava os olhos e sentia as pretas gotinhas frescas no braço formando uma pulseira invisível e inestimável.

Levantava a cabeça e sorria com vontade de rodopiar.

E às vezes, de repente, se deixava levar pelos pensamentos internos. Assim, sem perceber, de uma hora para outro ela era um círculo, um redemoinho pequeno dançando abaixo das nuvens cor de chumbo.

Gritava por dentro, feliz — nem sabia o porquê.

Quando cercada de amigas, bradava efusivamente, sem medo. Perdia até o fôlego e a voz e a compostura e o medo e o raciocínio e a noção de tempo e mais e mais coisas que caberiam num et cetera.

Depois, se cansava. Diminuía o ritmo. Parava. Contemplar era o que restava (e era essa mesmo a melhor parte).

Não queria mais ser chuva, só a dama de companhia dela. Só a admiradora nada secreta.

Animada, deixava os olhos bem abertos, pois gostava dos relâmpagos.

Contava os segundos, ansiosa.

Um...

Dois...

Três...

Calculava distâncias.

Quatro...

Cinco...

Amava tanto a chuva, que esperava os trovões.

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⏰ Última atualização: Jul 12, 2024 ⏰

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