Eu tenho tanto medo de ser eu. Sou tão perigoso. Me deram um nome e me alienaram de mim.
-Clarice Lispector
📜
Assim que a última frase foi dita por Roseanne, o tempo pareceu parar. Rosé, ainda sentada, com o mesmo olhar inquisidor e o rosto vermelho de raiva (e tesão), emanava uma energia que Lalisa nunca sentira vinda dela. Esta, em contrapartida, continuava em pé, com a toalha envolvendo o corpo, sentindo a adrenalina ainda em suas veias, estranhamente tornando o prazer que sentia anteriormente mais intenso, mesmo que combinado com o medo e desespero da situação. Se perguntou se era tão suja e masoquista por isso, aumentando a onda de sentimentos ruins vinda se dentro de si.
Parecia que o mundo inteiro tinha parado apenas para ver o desenrolar daquele momento e mesmo sabendo que uma hora teria que enfrentar isso, Lisa não estava nem perto de estar preparada para tal.
"Eu estou esperando, Lalisa."
Lalisa. É...
Mas não foi seu nome inteiro saindo da boca de Roseanne que a assustou. Nada poderia ser comparado à sua voz no momento. Rosé raramente ficava brava, tão positiva que era, mas quando o fazia, ela poderia matar qualquer um de medo simplesmente com sua voz.
O que antes era doce e amável passou a ser denso e salgado, azedo, como se desprezasse e ao mesmo tempo não, tudo que acontecia ali. O corpo todo da mais nova se arrepiou e instintivamente seus olhos se apertaram, a ponta dos dedos brancas pela força que fazia ao apertar o ponto onde segurava a única coisa que cobria seu corpo vergonhosamente nu.
"ANDE, LALISA." A mais velha, abruptamente, se levantou da cama, assustando a outra que deixou a toalha cair. Uma vontade imensa de chorar lhe atingiu, mas não sabia se era de medo, vergonha ou negligência.
Ainda que estivesse puta da vida e esperando sua resposta, é claro que Chaeyoung a não deixaria assim. Alcançou o lençol da cama e jogou para Lalisa, que ainda não tinha levantado o rosto vermelho para encará-la, lutando contra o bolo em sua garganta.
"Você pode, POR FAVOR, me explicar o que está acontecendo?" Decidiu se controlar, depois que viu como a outra estava. Sabia como ela era sensível, mesmo que mostrasse totalmente o contrário disso.
Mas não podia assegurar que ficaria calma por muito mais tempo.
A mais nova abria e fechava a boca tentando responder, mas nada saía.
Era quase como uma crise de ansiedade ao lidar com o novo; você quer falar, mas algo parece segurar sua garganta, prendendo qualquer coisa dentro do seu próprio corpo, fazendo você se afogar pouco a pouco nas próprias dúvidas, tristezas, e qualquer outro tipo de sentimento que deveria ser colocado para fora.
Lalisa odiava com todas as suas forças quando isso acontecia.
Era fraca até para lidar consigo mesma, por que deveria ter alguém realmente bom na vida?
Bons minutos depois, conseguiu fazer com que um som mínimo saísse de si, mas tinha que se forçar mais.
"Lalisa..."
"EU NÃO SEI!" Explodiu, finalmente conseguindo olhar nos olhos castanhos, mais escuros por conta de tudo que escondia, assim como Lisa.
"Como não sabe? FOI A ÚNICA COISA QUE EU TE PEDI, PORRA!"
E foi aí que Lalisa tirou qualquer resquício de 'pode ser só um sonho' de dentro de si.
Porra.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Written Weekend (Chaelisa)
RomanceLalisa Manoban é uma escritora fracassada que precisa lançar um livro totalmente diferente do que escreve para salvar sua carreira e não imagina que Park Chaeyoung, sua amiga de longa data e uma renomada advogada seria sua salvação.