Goodbye Dreamland

1K 116 60
                                    

Eu quero a verdade que só me é dada através do seu oposto, de sua inverdade. E não aguento o cotidiano. Deve ser por isso que escrevo.

Clarice Lispector

📜

Estranhamente, o Sol daquela manhã não a incomodou. Talvez pelo fato de ter sido fisicamente destruída -do jeito bom- pela mulher que dormia nua ao seu lado ou se seu psicológico pouco a pouco se lembrava do fato de que elas estariam num avião voltando para a realidade em poucas horas.

Suspirou ainda na cama. Fechou os olhos e puxou o lençol mais pra cima, cogitando fingir que nada estava acontecendo e voltar a dormir. O que chegou a fazer por menos de 30 minutos até ouvir Chaeyoung acordando num sobressalto, reclamando algo sobre estar muito atrasada, amaldiçoado o próprio corpo por não ter levantando no horário certo.

Em pouco tempo, as panquecas estranhas feitas com o resto de massa e o restante da comida que sobrara daqueles dias estavam postos na mesa e uma Lalisa já pronta para ir embora sentava à sua cadeira, ao lado de uma Rosé afobada. Enquanto ela se sentia numa espécie de frenesi e melancolia, a outra morena parecia com pressa, querendo sair dali logo.

Lisa não sabia dizer se a outra também sentia alívio por voltar para casa. Quer dizer, o que viveram ali realmente não mudou nada na vida da outra? Ela realmente não sentiu nada? Ela não gostou do que viveram ali? Tudo continuaria do mesmo jeito quando voltassem? Bem, para ela a resposta era simples, apesar do 'nós' daquela noite ressoar incessantemente em sua cabeça.

Não.

Já estava decidida e absolutamente nada mudaria sua decisão. Assim que retornassem, conversaria com Rosé e pediria um tempo da amizade das duas. Era o melhor para ambas.

Lalisa se conhecia e, por isso, sabia que não conseguiria agir normalmente depois da mudança de ambiente. Era melhor que passassem um tempo longe, colocando a cabeça no lugar e repensando em tudo. Fora que precisava de uma certa folga de tudo e todos para colocar suas ideias em ordem e escrever seu livro, afinal, aquele era o principal motivo por estar ali.

Principal motivo esse que não conseguiu bloquear qualquer -ou nenhuma- tentativa de não desenvolver sentimentos pela outra. A vida era um inferno mesmo.

Sem perceber, terminou de comer e tirou um tempo para refletir sobre si mesma e tudo o que passou naquela casa. Sentia um frio na barriga, uma ansiedade e insegurança que nunca teve em sua vida inteira, nem mesmo quando era a única da sala que não entendia nada do que a professora falava, era algo novo e de algum jeito sabia que sim.

Olhou para o prato vazio e brincou com o garfo que ainda segurava, empurrando alguma migalha que sobrara. Talvez fosse só isso mesmo. Talvez ela fosse apenas uma idiota que não pensou em tudo antes de fazer toda aquela merda. Talvez tudo aquilo fosse um sonho e ela acordaria no dia seguinte apenas para ouvir o celular tocando com uma Roseanne puta da vida por ela ter queimado uma de suas panelas favoritas enquanto fingia que tentava cozinhar. Realmente desejava que a realidade fosse aquela.

Mas e se fosse?

Estaria disposta a aceitar que todos aqueles sentimentos confusos eram inventados? Frutos da imaginação de uma autora fracassada? Tudo que vivera com Rosé naquele lugar era mentira? Só um sonho?

Não era possível. Simplesmente não era.

Ainda sentia os toques em sua pele. Ainda era vívido e fresco o caminho de beijos que a outra traçou, antes de selar a noite passada com o sexo mais profundo que já tivera na vida. Parecia uma coisa de outro mundo, algo além. Por mais que aceitasse que talvez estivesse ficando louca, quase pôde sentir a atmosfera. Tudo era palpável. E o modo como se abraçaram e dormiram depois...

Written Weekend (Chaelisa)Onde histórias criam vida. Descubra agora