Distance

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Amor será dar de presente ao outro a própria solidão? Pois é a última coisa que se pode dar de si.

-Clarice Lispector

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Seria mentira se alguém dissesse que tudo estava bem.

Desde a última vez que se viram, dias passaram. Depois semanas. E por fim, meses. 3 meses, pra ser mais exato. E Lalisa cumpriu sua palavra, assim como Rosé, depois de cair a ficha de que aquilo realmente não era só uma birra ou brincadeira. Os dias no escritório de Roseanne passavam em completa monotonia sem as ligações repentinas de uma louca pedindo pra mandar entregaram comida na casa dela, ou simplesmente conversar enquanto escrevia um livro ou ela revisava um documento.

Sua rotina se tornara insuportavelmente vazia e chata sem a companhia de Lalisa. Era de casa pro escritório e do escritório para casa, ligações de trabalho e documentos enormes no meio disso. Não sorria mais como antes, já que toda a alegria de sua vida parecia ter dado um tempo junto com aquela mulher. Olheiras enfeitavam seu rosto bonito pelas noites sem dormir segurando o celular e pensando em ligar para Lisa, perguntar se estava tudo bem e quase implorando para marcarem de novo aquela dia especial que sempre tiveram. Estava até mesmo mais magra, seu apetite sumira, o que é uma coisa extremamente rara para ela. Sem contar uma dor insuportável no peito, como se algo estivesse lhe faltando.

Lalisa não estava muito diferente. Ela, que já não comia tanto, literalmente parara de tomar café da manhã ou qualquer tipo de lanche da tarde. Não podia arriscar acabar com o dinheiro que ainda tinha na conta antes de ter certeza que sairia uma obra boa do notebook apoiado em suas coxas magras mais de 12 horas por dia. Almoço e jantar meia boca era a única coisa que tinha há pouco menos de 2 meses.

Sobre o livro... Tinha conseguido extrair algumas coisas e começado a escrever. Na realidade, estava quase chegando ao fim. Pra ser mais precisa ainda, só faltava o fim. Entregou o que tinha nas mãos de Sana ao final do prazo de 30 dias e chorou por um tempo maior para pensar nesse pequeno grande detalhe. É claro que a mulher acabou cedendo. Mas sempre que pegava no trabalho para desenvolver um final decente, sua mente se tornava um completo branco e não tinha mais nenhuma ideia para isso. O que só atrasava mais a sua vida.

Pode-se dizer que basicamente não teve contato com ninguém nos últimos meses, dando a desculpa de estar atolada quando na verdade só andava pela casa, escrevia e pensava no rumo que sua vida tomara. Fora os surtos que tinha na frente do espelho do banheiro. E foi justamente no meio de um desses que olhou para a tesoura em cima da pia, depois para o seu cabelo... E deletou a ideia de sua cabeça.

Pelo menos até abrir a primeira gaveta e se deparar com uma caixa de tinta preta, então deu no que deu.

Agora, uma Lisa magra, com cabelos curtinhos e pretos relaxava -à medida do possível- em seu sofá com as pernas cruzadas, olhando para o teto manchado, enquanto mantinha um pirulito na boca e pensava num final plausível para seu livro, mantendo em mente que seu novo prazo acabaria em pouco tempo e não teria mais como chorar para Minatozaki.

Suspirou alto e deixou uma mão escorregar pelo sofá e chegar ao chão depois de deitar, colocando o notebook na mesa de centro. Em pouquíssimo tempo sentiu um monte de pelos se esfregando nela enquanto ronronava, o que a fez sorrir.

"Oi, Lily" a filhote se jogou no chão e olhou para os olhos castanhos como se entendesse tudo que a nova dona sentia. E Lisa não duvidava disso. "Você tá com fome, menina?" A gatinha miou, então tomou isso como um sim. Levantou do sofá e foi até o pequeno pacote da ração mais barata que encontrou, abrindo-o e colocando numa tigela de sopa que separara para o animal.

Written Weekend (Chaelisa)Onde histórias criam vida. Descubra agora