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o carnavalesco prelúdio para a fatalidade havia acabado de começar. quem diria que eu não estava amaldiçoada por uma fada..

abro os olhos e pequenos martelos arrebatam o arrependimento acerca de todas as decisões ruins tomadas ao longo desse tempo. há uma cobra dentro de mim me ditando o que eu posso ou não fazer, mas minghao sempre me alertou que elas nem sempre se importam com o contexto. um bote é só um bote e a letargia causada pelo veneno deixaria alguém como eu sob efeito de um delírio mais do que infinito, só que não existe lei e muito menos um trânsito que me impeça de comê-la de dentro pra fora rasgando a sua armadura escamosa e revestindo o meu pescoço com um novo colar à ser cobiçado pela minha auto imagem. tudo se assemelha ao inferno. o calor, a ambientação, a penumbra cega e as decisões tomadas de esguelha por entre brechas na constituição fajuta.

é um belo dia, afinal de contas. e eu preciso de um espelho e uma tesoura, porque eu necessito aprender a deixar todas as feridas abertas na minha pele mais aparentes do que as internas sangrando & sangrando & sangrando pouco a pouco num ritmo assassino. eu preciso sentir o gosto e a sensação e a liberdade, mas eu não sou nenhum pavão de ilha paradisíaca com essa postura digna de uma pena tão incrustada à qualquer um que me toque que facilmente seria reconhecida como uma bela característica que nunca ousou me deixar por inteiro. eu me pergunto se sobreviveria na selva tão facilmente quanto sobrevivo ao inferno queimando meus pulmões e enchendo-os de fuligem humana caso não houvesse uma grade entre a maluquice que é apenas pensar em convidar todos os meus alter egos para dividirem a mesma cela que eu.

somos inegavelmente diferentes, mas o demônio que cobre a pulsação do meu sangue com as próprias mãos tem chifres tão grandes quanto os de um desses bichos sujos e cheios de carrapatos por aí no mundo.

eu sinto o dilacerar quando se mexe dentro de mim como um pesadelo minuto após minuto infinitamente nesse paradoxo, e não há tesoura, foice e muito menos linha de costura para cosir um paralelo mecânico e farmacêutico entre as linhas possíveis que eu dito para que minghao ultrapasse ou não. acho que esquecemos quem realmente manda aqui sabe? sabe que eu só vou arrancar a máscara afim de deixá-la cair sob meus pés quando você me certificar de que a partir desse momento o deus do inferno assumirá um trono diferente.

nem toda a sabedoria do mundo com todas as convicções possíveis e notáveis se manipulam com a mesma destreza em que eu desamparo os esparadrapos do meu frágil corpo em eterna decomposição.

a fúria desperta e eu imploro para que ela continue me assombrando, porque a dor ainda que milenar, me pertence a mais tempo que a minha liberdade propriamente dita.

eu arranco os rebites da minha boca.

boas moças retornam ao lar, mas eu não sei quem eu me tornei ao longo desse processo mortífero.

os espelhos debaixo da minha pele se camuflam com os que minghao prostrou há milênios em tal aposento.

eu arranco a máscara e já não mais reconheço as feições do diabo atrás de mim; porque ele está na minha frente. dentro de mim. sorrindo com a minha boca  acima da superfície, me perseguindo & sufocando minha respiração.

a bifurcação na língua, os pregos envolta da boca e a clarividência da pele quebradiça provocada pela falta de sol é dada pelas pontas mais escuras possíveis da masmorra que se destroem na minha frente. toco com a única mão possível a íris avermelhada que vocifera por atenção.

"é fazer ou morrer por mim"

e eu aceito de bom grado a coroa do inferno através da lupa que minghao acorrentrou ao meu pescoço.

porque eu sou temível, e não quero morrer.

labaredas sobrepujam a saliva da minha boca. eu aceito, aceito, aceito, aceito. tremendas camadas de pele vão se alastrando mais do que deveriam e eu me torno o primeiro casulo de seda humana à reinar o inferno.

borboletas batem asas por debaixo da minha pele.

minghao & eu unidos em um só, colocados de frente para a face ignóbil de uma nova rainha, e do mesmo jeito que não há súplicas, também não há expressão em dois rostos tão degradados com o tempo.

tudo voltou ao seu devido lugar.

agora, tente adivinhar a quantia de segundos em que sonhei com o momento de assumir a natureza em seu estado mais miserável.

e se você ainda acredita que consegue me manter numa jaula, peço para que experimente o gosto de estar no meu lugar no mínimo uma única vez sem que possa beijar meu corpo em troca de uma lufada de puro oxigênio.

beleza arquitetada pelos olhos do diabo. pelas mãos do diabo. pelos lábios saudosos e sangrentos da entidade medíocre que criou a fenda entre dois mundos.

ó miseráveis...

agora jaz desfalecido o imortal rei dos reis.

mortalmente imortal.

para sempre acorrentado em seus pecados.

somente a beleza é imortal.

somente a beleza.

// 𝖘𝖊𝖚𝖘 𝖔𝖚𝖙𝖔𝖓𝖆𝖎𝖘 𝖉𝖊𝖘𝖊𝖏𝖔𝖘 𝖉𝖊 𝖕𝖗𝖎𝖒𝖆𝖛𝖊𝖗𝖆 𝖙𝖗𝖔𝖚𝖝𝖊𝖗𝖆𝖒 𝖋𝖑𝖔𝖗𝖊𝖘 𝖔 𝖘𝖚𝖋𝖎𝖈𝖎𝖊𝖓𝖙𝖊 𝖕𝖆𝖗𝖆 𝖛𝖊𝖑𝖆𝖗 𝖒𝖊𝖙𝖆𝖉𝖊 𝖉𝖆 𝖍𝖚𝖒𝖆𝖓𝖎𝖉𝖆𝖉𝖊 𝖈𝖚𝖑𝖕𝖆𝖉𝖆 𝖕𝖔𝖗 𝖈𝖆𝖗𝖓𝖎𝖋𝖎𝖈𝖎𝖓𝖆𝖘 𝖕𝖗𝖊𝖒𝖊𝖉𝖎𝖙𝖆𝖉𝖆𝖘. 𝖆𝖔 𝖆𝖈𝖊𝖎𝖙𝖆𝖗 𝖆𝖘 𝖕𝖗𝖊𝖈𝖊𝖘 𝖖𝖚𝖊 𝖏𝖆𝖒𝖆𝖎𝖘 𝖓𝖊𝖌𝖆𝖗𝖆𝖒 𝖓𝖆𝖙𝖚𝖗𝖊𝖟𝖆 𝖒𝖆𝖑𝖎𝖌𝖓𝖆, 𝖘𝖎𝖓𝖙𝖔 𝖖𝖚𝖊 𝖕𝖔𝖉𝖊𝖗𝖎𝖆 𝖒𝖔𝖗𝖗𝖊𝖗 𝖕𝖔𝖗 𝖒𝖎𝖒 𝖒𝖊𝖘𝖒𝖆 𝖆𝖓𝖙𝖊𝖘 𝖉𝖊 𝖈𝖔𝖓𝖍𝖊𝖈𝖊𝖗 𝖆 𝖋𝖊𝖑𝖎𝖈𝖎𝖉𝖆𝖉𝖊, 𝖆𝖋𝖎𝖓𝖆𝖑 𝖉𝖊 𝖈𝖔𝖓𝖙𝖆𝖘, 𝖉𝖊𝖚𝖘 𝖋𝖊𝖟 𝖈𝖔𝖒 𝖖𝖚𝖊 𝖆 𝖉𝖔𝖗 𝖕𝖊𝖗𝖒𝖆𝖓𝖊𝖈𝖊𝖘𝖘𝖊 𝖉𝖚𝖗𝖆𝖓𝖙𝖊 𝖙𝖊𝖒𝖕𝖔 𝖉𝖊𝖒𝖆𝖎𝖘 𝖘𝖔𝖇 𝖆 𝖕𝖊𝖑𝖊 𝖉𝖔 𝖉𝖎𝖆𝖇𝖔 //

UNDER THE DEVILISH SKIN Onde histórias criam vida. Descubra agora