Eu odeio você. - Billie Eilish

Capítulo 2

O jantar havia sido estranho. Billie e eu não trocamos uma palavra sequer, ao contrário dos nossos pais. Eles conversaram durante todo o jantar. Dei a desculpa que precisava treinar mais tarde e mal comi, indo rápido de volta para o quarto. James parecia ter se dado bem com Billie, já que conversavam animadamente. Ele até havia a convidado para a festa, mas não fiquei para ouvir a resposta. Eu havia me trocado e voltado para o estúdio, que ficava ao lado da área da piscina.

-Você vem Lana? – James disse ao abrir a porta do estúdio. Suspirei e neguei com a cabeça, interrompendo o movimento que eu estava prestes a fazer.

-Ela precisa treinar. – Minha mãe apareceu atrás dele, dando-lhe um peteleco na orelha. – Sua irmã precisa se concentrar... Sai... – Pude ver a irritação no rosto de James, que respirou fundo e se virou para ela.

-Ela é uma adolescente. – Marisa cruzou os braços e mediu meu irmão com o olhar, ela transparecia a irritação em sua feição. – Você a trata como se fosse uma prisioneira, uma boneca da sua casinha de brinquedo...

-Sua irmã tem um futuro brilhante... – Rosnou, dando um passo em direção à James. Seu rosto estava arqueado, dando-lhe uma postura imponente. – E para isso, ela precisa treinar duro, se esforçar...

-É, mas ela pode muito bem se divertir... – Ele cruzou os braços e cerrou os olhos, mantendo a postura desafiadora.

-Ela não é igual a você, que não liga para o futuro... – Eu podia vê-la tremendo. Minha mãe era extremamente controladora e James gostava de vê-la no limite.

-Tudo bem James... – Me aproximei, vendo-o desviar o olhar rapidamente. – Não se preocupe comigo...

-Até quando você vai deixar essa maluca controlar sua vida? – Desviei o olhar para o chão, sem conseguir sustenta-lo. – Faz o que você quiser... – Voltei a olha-lo, mas ele já estava longe. Havia atravessado o jardim em direção à porta da sala.

-Volte do início e repita as sequencias com graciosidade... Você sabe que para atingir a perfeição...

-Você precisa de pratica... – Completei sua frase

-Do início... Vou ficar olhando... – Assenti, vendo-a fechar a porta de vidro e voltar para dentro da casa.

No começo do ano, Justin, amigo de James, dava uma festa lendária. Todos ansiavam o dia da festa de boas-vindas. Kath sempre ia e me tentava à ir, mas minha mãe nunca me deixou sair e ficar até tarde. Ela dizia que eu precisava dormir e descansar, em partes não era mentira. O Ballet demandava muito esforço e dedicação, assim como as atividades acadêmicas que ela me aconselhou a pegar, mas confesso que nessa em especifico eu estava tentada a ir.

Me sentei nos bancos entre os armários do vestiário feminino. O dia havia amanhecido rápido demais. Passei a mão por minha nuca, tentando amenizar a tensão em meu corpo, e tirei o tênis convencional, eu precisaria troca-lo pelo de corrida. Fechei os olhos com força ao sentir meu pé arder. Respirei fundo, voltando a abrir os olhos, observando os hematomas e machucados, resultado da noite anterior. Lágrimas se formaram involuntariamente em meus olhos, mas não ousaram a cair. Puxei minha bolsa do chão e tirei de lá o spray que eu costumava passar, quando isso acontecia. Os machucados eram mais frequentes do que eu desejava. Eram torturantes.

-Nossa... Que horror... – A voz ecoou pelo vestiário vazio. Olhei por cima do ombro, tentando decifrar de quem era a voz. Uma surpresa me tomou, era Billie. Ela estava escorada em um dos armários com os braços cruzados.