5º CAPÍTULO

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(Domingo)

Passado mais uma noite, pela manhã estava cansado com olheiras e um semblante deplorável, parecia um zumbi, eu estava tão assustador que a minha própria mãe ao me ver deu um grito aterrorizante de medo. Todos os domingos nós íamos à igreja e eu teria que me arrumar, lavar aquela cara feita de mau humor e tristeza, então fui para o banheiro tomar banho e escovar os dentes e quando terminei eu voltei para o meu quarto com a toalha amarrada em minha cintura, vesti a minha roupa social, penteei o meu cabelo e quando me virei para andar em direção a porta, vi a bolinha de algodão que havia deixado em cima da cômoda ao lado da cama e logo surgiu uma ideia, então peguei a bolinha de algodão envolvi num pequeno papel e pus dentro do meu bolso direito e desci para tomar café da manhã, ao terminar, nós pegamos as nossas coisas e fomos para a igreja, chegando lá, a dona Lauren estava esperando a mamãe com a Ally, ela olhou pra mim com cara de brava e eu fiquei realmente assustado, tinha medo do que ela poderia fazer, a última vez que a Ally tinha sentido raiva de alguém foi no jardim de infância com uma garota que ela não gostava, simplesmente porque a garota havia tombado nela sem querer, por isso a Ally derramou de propósito um pote inteirinho de cola na cadeira da garota e cortou o caderninho de leitura dela, a menina acabou sentando na cola e quando a garota contou para a professora o que havia acontecido e o que tinham feito com seu caderninho de leitura, a Ally mentiu dizendo que viu um garoto de 5 anos chamado Dimmy fazer tudo aquilo, ela me dizia que o Dimmy era um menino muito bobão e muito traquino.
"Eu não tô nem aí pra ele, bem que ele mereceu, pra ver se ele aprende a ser mais esperto!" Ela afirmou. E foi assim que ela acabou com a roupa de uma garota, com o livrinho de leitura dela e colocou um garoto de suspensão sem ele ter feito nada, tudo isso com apenas 5 anos de idade... Esse era um dos motivos por eu estar com medo dela, me aproximei e ela virou o rosto pro lado contrário de onde eu estava, então comecei a falar com ela:

— Ally, eu quero te pedir desculpas por ter sido um idiota ontem, por não ter dado a mínima pra você, por não querer brincar com você e eu amo brincar, principalmente com você, me desculpa mesmo e se você não quiser me perdoar tudo bem, eu sei o quanto você está aborrecida comigo e eu não a julgo porque eu também ficaria... Você é minha melhor amiga e apesar dos seus defeitos eu te amo muito e...

(ela me interrompeu)

— Que defeitos? Eu sou perfeita, garoto! — falou, jogando seus longos e negros cabelos para trás das suas costas

Retruquei:

— Tá bom, senhora perfeição...

— Obrigado! — retrucou.

Então falei mais uma vez:

— Me perdoa, Ally?

Ela me abraçou

— Tudo bem, vamos esquecer isso, bobão...

Dei um pequeno sorriso.

Fizemos as pazes e sem perceber os nossos pais já haviam entrado na igreja e o culto já estava começando, então entramos e procuramos um lugar pra sentar e assistimos ao culto, cantamos, lemos a bíblia, e fizemos outras coisas mais, foi muito bom. Ao terminar o culto andamos até a porta da igreja e nos olhamos com rostinhos tristes, aquele era o último dia da Ally na cidade e ela iria embora, e antes que ela partisse nos abraçamos e nos despedimos, eu conseguia ver os olhos da Ally cheios de lágrimas e ela nunca chorava, queria dar a ela algo que fizesse lembrar de mim, eu sabia que ela voltaria para o México naquele dia então eu dei algo meio nojento pra ela, mas não tinha outra coisa que me representasse tanto naqueles dias quanto os algodões que eu usava no meu nariz, pus a bolinha na palma da minha mão e direcionei a ela.

— O que é isso? — ela perguntou não entendendo nada.

— É só uma coisinha, na verdade, uma das bolinhas de algodão que eu usei pra estancar o sangue no meu nariz, você sempre me via com elas, então resolvi guardar uma pra te dar, pra você lembrar de mim.

— Ah que fofo! Vou guardar com todo carinho. — ela disse extremamente feliz com aquilo, sem sentir nojo.

Ela guardou a bolinha no bolso direito e tirou algo do bolso esquerdo, pelo visto não era só eu que tinha pensado em dar uma lembrancinha.

Então ela falou:

— Eu sei que isso aqui é mais nojento ainda do que o algodãozinho que você me deu, você nem percebeu isso em mim durante esses dias porque eu não te mostrei, mas antes de vir para cá eu machuquei o meu joelho na minha casa lá no México. É uma longa história, e resumindo,eu caí e ralei o joelho, foi um ferimento leve mas eu tive que usar band-aids durante esses dias, a ferida já está cicatrizando e acho que não vou precisar usar mais, eu ia jogar fora e eu estava com muita raiva de você ontem, mas acabei esquecendo, e hoje pela manhã quando lembrei desse curativo eu pensei em usá-lo contra você, só por raiva, eu tinha um plano, mas aí você me pediu perdão e agora eu quero te dar ele pra você lembrar de mim.

Foi um pouco nojento, mas eram as únicas coisas que nos faziam lembrar um do outro e acabou se tornando algo fofo.

— Muito obrigado por me dar o band-aid e por não colocar o plano em prática. Eu vou grudar ele em algum lugar e guardar ele com todo carinho.

Nos abraçamos novamente e damos as mãos, depois, esperamos a mamãe e a tia Lauren acabarem de se abraçar, elas choravam muito, afinal, havia um bom tempo que não se viam, e teriam que se separar mais uma vez... A cena era bonita e triste ao mesmo tempo, era uma explosão de sentimentos. Quando acabaram, a tia Lauren chamou a Ally para ir embora enquanto enxugava as lágrimas. Dizem que quem ama também tem que deixar partir e uma das coisas que eu nunca imaginei foi ter que soltar a mão da Ally mais uma vez, mas eu soltei e ela se foi, enquanto eu via ela andando e olhando para trás, com uma mão ela segurava a mão de sua mãe e com a outra ela fazia gesto de adeus e eu retribuí, mas eu nunca soube lidar com despedidas.

A Garota dos Meus Sonhos [EM MANUTENÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora