Caindo Como As Estrelas

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"Eu juro por Deus, eu posso ver quatro crianças e noites sem dormir.

Nós teremos uma agarrada em cada joelho,

você e eu".

O amor a escapa. Escorre por entre as viscosidades da sua pele e vaza pelos poros, fugindo de si mesma. Ela nunca sabe ao certo como agarrá-lo. É como se já tivesse tido o suficiente da vida. Quando não deveria ser impostos limites para a felicidade. Está derrubando um a um, como quem não admite surpresas e está à espera de um desastre.

Poderia se considerar um bom soldado no caos, definitivamente.

Havia passado por mais perdas e traumas que a maioria das pessoas costumavam passar. Era uma sobrevivente e com esta bagagem nas costas, tornou-se sombria e sinuosa por dentro. Assim como a tempestade que afugentava a população de Seattle em suas casas ou ao menos deveria. Algumas árvores tinham caído do lado de fora, impedindo que pudessem sair de casa ou qualquer outra pessoa entrar. Encontravam-se presos e ela, inquieta, sem sono. O pager tocava sem parar e precisou avisar a Bailey que não poderia dirigir-se ao hospital mesmo que quisesse.

Já passava das duas horas da manhã. Havia entregado a Andrew um cobertor e travesseiro, tentando deixá-lo confortável o máximo possível. Fazia bastante frio devido a queda de energia que impede que os aquecedores funcionem. Checava as crianças a cada hora e todos os três dormiam profundamente. Resolveu então descer, preparar um chá, mesmo que não suportasse o gosto de qualquer um deles. Era somente uma última tentativa desesperada de dormir.

Agora ela vestia somente uma camisola confortável, colocando por cima um casaco moletom que havia "roubado" de Alex, desde a época que ele morava ali.

Desceu as escadas e deparou-se com Andrew deitado no sofá encarando o teto.

– Está sem sono também? – ela perguntou.

– Acordei com o chamado do pager e várias ligações da chefe Bailey e desde então não consigo dormir. A emergência deve estar uma loucura.

– Sim. – suspirou, indo até a cozinha.

– Pensei que o Dr. Alex já tivesse assumido como chefe interino.

– E assumiu. Mas você conhece a Bailey. Espiritualmente ela está acima de qualquer um naquele hospital. Então sempre será a chefe, até mesmo quando não ser.

– É um fato. – ele sorriu.

– Quer chá? É de camomila.

– Vou recusar, obrigado. Não sou muito fã de chá. – fez uma careta, levantando-se.

– Eu também não.

– E por que vai tomar?

– É um ato de desespero. – fez uma pausa. – Preciso dormir.

Andrew apoiou-se na bancada, observando-a sorrateiramente.

Ela vestia um moletom azul-escuro que alcançava a metade de suas coxas e que claramente não era dela. Um pouco abaixo da barra do casaco, notou que ela usava uma camisola branca e tinha nos pés uma pantufa de panda. Isso o fez sorrir. O cabelo estava preso em um coque frouxo que deixava escapar algumas mechas que moldavam seu rosto. Meredith estava concentrada no preparo do chá, enchendo a chaleira de água e abrindo algumas gavetas do armário. Parecia ainda menor naquelas roupas informais, diferentemente da visão majestosa que ela sempre carregava nos corredores do hospital.

Absurdamente linda, pensou.

– Você não se cansa? – ela franziu o cenho, finalmente encontrando a caixinha do chá.

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