Como Salvar Uma Vida

431 36 33
                                    

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.


n/a: os parágrafos em itálico são flashbacks.


"Em algum lugar no meio dessa amargura

Eu teria ficado com você a noite toda,

Se eu soubesse como salvar uma vida.".


Ponto de vista – Andrew.


Entorpecido.

Uma hora atrás estava deixando a casa dela. Amava sua profissão, mas no instante que seu telefone tocara, soube que seria difícil partir. Deixar aquela cena surda de filme antigo quase em preto e branco e ao mesmo tempo tão colorida no sofá da sala. Preto e branco porque a sensação que corria junto do sangue em suas veias era de que aquilo lhe era comum, mesmo não o sendo. Nunca fora o esposo de alguém ou sequer tinha pensado acerca da ideia de ser pai um dia. Sua definição de família resumia-se a Carina e velhos almoços ao som da valsa vienense mais adoravelmente brega dos Deluca's nas ruas íngremes de Bérgamo. Lembranças saudosas e muito distantes de sua realidade. E colorida, porque lá estava ela, os cabelos loiros espalhados no sofá, encolhida e com Zola sobre seu colo. Roncava, ora baixinho, ora fazendo-o sorrir, admirado por um som tão grave sair de alguém tão pequeno. Ellis dormia profundamente em seu peito, agarrada ao seu pescoço e embora sempre estivesse em contato com crianças na pediatria, área a qual estava totalmente inclinado a se especializar, desconfiava que nenhum cheirinho de bebê pudesse lhe trazer paz como aquele. Uma miscelânea de lavanda e nova vida. Bailey era folgado e espaçoso como ele, espalhava-se em toda a extensão do sofá, os pés repousados em suas pernas. Tudo parecia certo e ir embora da tardis particular que construíram nas últimas horas era o mesmo que cometer uma loucura desvairada. Protegeu aos quatro do frio, ajeitando os cobertores e criou um pequeno ninho de almofadas para que a caçula não caísse. Vidas dependiam dele lá fora, então deixando sobre a fronte da mulher do vestido azul que havia ressignificado sua visão de amor em tão pouco tempo, um beijo. Estava irremediavelmente apaixonado por Meredith Grey e tudo que lhe dizia respeito. E, nunca teve um sentimento que desejasse longevidade até conhecê-la.

Agora encontrava-se com um gosto metálico na boca, misturando-se ao sangue em demasia. O asfalto molhado encharcando suas roupas convergindo com o calor que acossava seu corpo pela adrenalina corrente. Seus olhos estavam atentos ao entorno, notou que havia sido arremessado aos escombros de uma loja de artigos infantis que provavelmente desabara durante a tempestade. O que restara da vitrine fazia seu sangue jorrar e se não fosse pela dor dos estilhaçados dilacerando a pele, perfurando-a principalmente na região dos braços e face, iria gargalhar pela ironia da ocasião. Uma variedade assustadora de brinquedos. Ursos de pelúcia, unicórnios, dinossauros, carrinhos, bonecas etc. As crianças fariam a festa e caso conseguisse sair vivo dessa, presentearia os três em agradecimento por confortá-lo, indiretamente, em meio a dor.

My ClarityOnde histórias criam vida. Descubra agora