Capítulo 33

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Um sorriso contente e surpreso começou a abrir caminho no rosto de Yoongi, mas foi interrompido subitamente quando seus olhos pequenos notaram a tala que imobilizada completamente o braço direito de seu pai.

— O que o senhor andou aprontando? — Foi seu cumprimento ao mais velho, que estava bem acomodado no sofá da sala. Min Kiyoung ficou de pé com uma leve careta de desconforto e abriu um grande sorriso para o único filho.

— Cadê a educação que eu e sua mãe lhe demos, moleque? — Embora sua fala parecesse uma bronca, o brilho nos olhos denunciava que ele não estava realmente irritado com os modos do filho. E Yoongi, que detestou por tanto tempo ser chamado de "moleque", agora recebia o apelido com tranquilidade e reconhecia o tom carinhoso que a palavra carregava.

A vida era assim mesmo, Yoongi pensava. Quando estava no auge dos seus dezoito anos e a pressão na própria casa era insuportável, os dois pais questionando o tempo todo qual curso ele faria, o que ele queria ser da vida, sentia vontade de fugir e largar tudo para trás apenas para não precisa lidar com o pai chamando-o de moleque a cada frase que era direcionada a si. Chegou a arrumar um emprego de meio período como entregador, tudo para ver se o velho parava de pegar no seu pé e o respeitava como o homem que estava se tornando (mas que, na época, achava que já era). A tática não foi das melhores: acabou se envolvendo em um acidente, precisou largar o emprego e ganhou um belo machucado no ombro que, mesmo depois de tantos anos, ainda incomodava e doía no inverno.

Os anos se passaram, Yoongi entrou e se formou na faculdade, arrumou vários empregos até se mudar para Seul e chegar onde estava. Não era mais um jovem adulto, era um adulto completo com um filho pequeno para cuidar e, sendo bem sincero, muita das dúvidas que tinha aos dezoito, permanecia agora aos vinte e sete. Dúvidas sobre a vida, sobre o sentido de tudo, questões existenciais que provavelmente não diziam a respeito da fase da adolescência, mas da própria formação do ser humano. Com o tempo e a distância, Yoongi aprendeu a gostar do apelido moleque, assim como agora valorizava tantas características do pai que, na adolescência, considerava um pé no saco. Talvez o verdadeiro pé no saco fosse ele, ou o período da adolescência em si, nunca saberia. Já tinha passado, de qualquer forma, e agora guardava com carinho na memória os desentendimentos que não lhe afetavam mais.

Vovô!!! — O grito animado de Taeshin começou no corredor dos quartos e terminou quando este correu por todo o caminho até alcançar as pernas do Min mais velho na sala. Yoongi até que tentou avisar sobre tomar cuidado com o braço machucado de Kiyoung, mas este demonstrou que ainda estava completamente em forma ao erguer o único neto com um braço só.

— Ya, o que vocês estão dando para essa criança comer? — Kiyoung perguntou, um sorriso enorme de avô babão nos lábios. — Taeshin-ah, você está enorme! Tenho certeza que vai ter o dobro do tamanho do nanico do seu pai, quando chegar na adolescência.

— Vai começar o desrespeito — resmungou Yoongi, ignorando a gargalhada que seu pai e Seokjin soltaram com seu mal humor. Resolveu escapar da zoação indo para a cozinha, tinha chá quentinho no fogão e sabia que seu pai gostaria de uma xícara.

Na cozinha, mandou mensagem para Namjoon, avisando-o que não precisava mais se incomodar com o almoço. Com o pai em casa, o músico preferiu não encher o apartamento de gente, ciente que o Min mais velho não se sentia completamente confortável. O amigo, por sua vez, desculpou-se pela demora, alegando estar com problemas técnicos em casa (o cano da pia tinha estourado e estava desde cedo assistindo tutoriais no Youtube, sobre como consertar para evitar que o apartamento alagasse), e pediu que o hyung avisasse ao seu namorado que mais tarde passava para vê-lo. Rindo da confusão do outro, o mais velho voltou para o cômodo onde sua família estava.

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