Capítulo 46

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Eu vou voltar para Seul. — Sua mãe repetiu pela, segundo suas contas, quarta vez.

Jeon Minyoung era a pessoa mais insistente e teimosa que Jungkook conhecia — assumia ter puxado boa parte desses traços de personalidade da mulher —, por isso, quando seu celular começou a tocar naquela manhã de sábado e o jogador leu o nome no identificador de chamadas, suspirou previamente exausto com a provável discussão que a ligação iria engatilhar. E, sinceramente, Jungkook amava sua mãe. Amava muito mesmo. Era a mulher mais forte e batalhadora que conhecia. Era o seu maior exemplo, o seu maior alicerce. Afinal, ser abandonada por um homem pelo qual estava apaixonada e balancear sua formação e carreira com a criação de uma criança, sozinha, conseguindo construir tanto uma estabilidade profissional e financeira excepcional como formar um jovem cheio de caráter, bondoso e honesto não era algo tão fácil. Nunca foi, mas ela tinha conseguido sem reclamar ou lamentar por um segundo que fosse.

Jungkook a admirava mais do que poderia colocar em palavras, mas, naquela manhã — aquela manhã na qual ainda estava encolhido debaixo das suas cobertas e protegido pela escuridão que as cortinas fechadas proporcionavam —, só queria que a mulher o deixasse sozinho. Era só isso o que ele precisava: ficar sozinho, no silêncio. Por essa razão (e também porque Hoseok tinha sugerido), deixou Hyerin na casa do Jung na noite passada, onde ela dormiu e passaria o dia, silenciou todos os grupos em que estava incluído e bloqueou alguns contatos que poderiam tentar contatá-lo. Não desligou o celular porque algo poderia acontecer com Hyerin e Hoseok ligar, ou talvez Yoongi... Não, ele não vai ligar. Não vai pedir para você voltar. Você o ouviu, alto e claro.

De qualquer forma, percebeu seu maior deslize quando o celular começou a vibrar na mesa de cabeceira e a foto da sua mãe com um sorriso pequeno, bochecha grudada no rostinho gordinho de Hyerin com apenas um aninho, brilhou na tela.

Desde o vazamento do vídeo, vinha se comunicando com a mãe por mensagens, mas, assim como os demais, não tinha muito o que ela pudesse fazer além de oferecer consolo e conselhos — e, no caso de Minyoung, esses sempre eram diretos e sucintos. Não fique se lamentando, não abaixe a cabeça, não se arrependa. Arrependimento, ela dizia, é para as pessoas que não sabem pelo quê, por quem, estão se impondo. Se você se arrepende, com exceção das ocasiões em que suas ações machucam boas pessoas, é porque não estava sendo sincero para começo de história. Não há pelo que se arrepender, Jungkook-ah, ela tinha dito na primeira vez que conversaram sobre a situação, ser quem você é não é uma ofensa para absolutamente ninguém. E você não precisa provar isso para ninguém, além de si mesmo.

Jungkook não se arrependia. Não se arrependia de ter amparado seu namorado, de ter desafiado a direção do seu time, de ter dito a Yoongi que o amava. Estava sendo mais do que sincero em todas os momentos, estava dando tudo o que ele era. Ser quem ele era não era errado, mas também não significava que era uma coisa boa. E Jungkook só estava cansado. Só queria ficar no silêncio por algumas horas, para tentar achar um motivo novamente.

Eomma, eu já disse que não precisa. — Suspirou, puxando um pouco mais as cobertas sobre seu corpo encolhido, uma vez que o frio do ar condicionado estava se tornando incômodo. No entanto, não conseguiu reunir forças para levantar e desligá-lo. — A mesma ajuda que você me oferece de Busan, é a que ofereceria se estivesse aqui. Além disso, a tia Jiyoung precisa de você.

Minyoung estava na cidade natal dos Jeon desde o começo da semana. Ela tinha ido para passar o fim de semana, visitar os irmãos e descansar um pouco da agitação da sua vida na capital, mas acabou resolvendo ficar mais alguns dias porque a tia-avó de Jungkook estava se recuperando de uma cirurgia e não tinha quem ficasse constantemente a auxiliando. Como a Jeon estava de férias do trabalho, ficaria para ajudar.

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