Segundo tempo

Capítulo 59

— Amor, tá ocupado? — Uma batida rápida na porta e a voz de Jungkook fizeram Yoongi desviar a atenção do notebook equilibrado no colo. Esticando os braços acima da cabeça e após um longo bocejo, o produtor abriu um sorriso, dizendo:

— Para você? Nunca.

— Por favor, não pare de flertar comigo assim mesmo quando a gente tiver oitenta anos e nenhum dente na boca — Jungkook pediu, entrando no quarto do casal só de meias e se jogando na cama com um murmúrio satisfeito. — Tenho certeza que ainda vou sentir o estômago embrulhando mesmo depois de tanto tempo.

— Seu desejo é uma ordem. Mas preciso fazer a observação óbvia de que teremos todos os dentes na boca, obrigado. Estou trabalhando igual um cachorro para ter a segurança de que quando envelhecer vou poder bancar o implante dentário mais moderno e caro que existir.

— E eu achando que era pra pagar a faculdade dos nossos filhos. Que feio, Min Yoongi. — Jungkook levantou, sentando na cama com braços cruzados e uma careta de reprovação fofa. — O que vale mais para você? Comer churrasco aos oitenta ou a educação dos nossos filhos que serão o futuro da nação?

— Preciso mesmo responder? — Jungkook gargalhou com a resposta, engatinhando pela cama e tirando o notebook do colo do noivo para ocupar o espaço. Yoongi o recebeu de bom grado (porque é claro que a atenção do noivo era infinitas vezes mais bem-vinda do que fazer hora extra trabalhando em uma sample), deixando um beijinho na nuca do atleta e trazendo as costas de Jungkook até seu peito, as mãos passando por debaixo dos braços e apoiando na barriga firme. — As crianças já estão dormindo?

— Até parece. A gente tava vendo um filme, aí o Tae disse que tava chato, levantou e foi para o quarto. A Rin o seguiu depois de um tempo, ignorando minha chantagem sobre não ser justo eu assistir o filme sozinho, até porque a ideia foi deles. Será que eles não me amam mais?

— Claro que amam, meu amor. Você é mais do que os filmes chatos que escolhe.

— Ya! — Jungkook tentou levantar para lançar um olhar irritado ao noivo, mas Yoongi o prendeu com os braços. Insatisfeito, deixou um tapa na perna do produtor. — Os filmes que eu escolho não são chatos! Eu até escolhi uma animação dessa vez!

Yoongi riu com as reclamações, beijando as bochechas, a nuca e o cabelo de Jungkook para distraí-lo. Não que o gosto cinematográfico de Jungkook fosse chato de verdade, mas muitas vezes ele tinha uma curiosidade peculiar para filmes. Yoongi nunca ia se esquecer de quando ainda estavam saindo escondido dos amigos e o mais novo o levou para um cinema nos confins da cidade para assistir um filme completamente sem pé nem cabeça, muito antigo e sem áudio. Ele resistiu bravamente aos primeiros trinta minutos, mas acabou cochilando durante o final e só acordou quando as luzes do cinema estavam acesas e Jungkook o sacudia com um sorriso brincalhão no rosto. Morrendo de vergonha, Yoongi inventou que tinha dormido pouco naquela noite, porém meses mais tarde, quando já tinham muita intimidade, o Min revelou que tinha achado o filme um saco. E, desde então, Jungkook batia o pé defendendo o próprio gosto e dizendo que só relevava a falta de cultura do noivo porque ele era bonitinho.

— Você queria me falar alguma coisa? — Yoongi perguntou, porque sabia que quando Jungkook chegava daquele jeito, perguntando se o Min estava ocupado e batendo na porta, era porque queria conversar. Se ele simplesmente estivesse entediado ou com saudades, chegava fazendo estardalhaço, abrindo a porta cantando, fazendo cafuné em Yoongi e beijando-o em lugares agradáveis até Yoongi largar o notebook por conta própria e dedicar atenção completa ao Jeon.

— Uhum. Um convite.

— Uma festa? Alguém do time tá fazendo aniversário?

— Não, não, é algo mais... Sério, eu acho.