Capítulo Seis

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Alexander Dubois provou o segundo prato da noite, o bacalhau gratinado ao molho de ostras, e desejou veementemente que o tempo passasse mais rápido, levando-o logo para o fim daquele jantar de comemoração. Ah! Comemorar meu noivado? Aquele anel no dedo de Estela Deschamps era sua prisão, como poderia comemorar aquilo?

Por alguns instantes, invejou o irmão mais velho, que largara tudo e vivia intensamente sem se preocupar com as amarras sociais. O Conde Dubois fingia não saber que o filho largara os estudos, mantendo-o o mais longe possível, e seu irmão continuava fingindo acreditar estar enganando o pai quando apenas vivia livremente. Era um jogo. Win-win, como os ingleses diziam.

Já Alexander, ao invés da liberdade, perdera a juventude estudando medicina e estava preso à uma frágil garota. Estela Deschamps era bonita, mas parecia prestes a ter um colapso a qualquer momento, como se respirar dentro de seu corset fosse demais – talvez aquela fosse consequência dos medicamentos que prescrevera a ela.

Duas pílulas. Duas vezes ao dia. Era tudo o que precisava.

Largou o garfo por alguns instantes e buscou a mão enluvada da noiva. Sentia sua garganta fechada, uma coceira incômoda irritando-o, porém se forçou a falar:

— Está tudo bem, querida?
— Claro, meu amor. É tão bom estar aqui com você. — Estela sorriu.

— É a primeira vez que a escuto me chamar de “meu amor”. — Alexander ergueu uma sobrancelha e Estela olhou para baixo, o rosto adquirindo um tom forte de vermelho.

— É mesmo? Acredito que posso chamá-lo assim agora, não é?

— É claro, querida. Suas palavras enchem meu coração de emoção.

Alexander não se surpreendeu quando, neste momento, seu irmão mais velho se pronunciou, erguendo o copo de vinho ao alto:

– Viva ao casal mais bonito de Saint Tropez!

Afobada, a Sra. Deschamps ergueu o copo logo em seguida, acotovelando de leve o marido para que este fizesse o mesmo. O ex-Xerife largou a ponta de seu bigode e ergueu a bela taça de cristal, brindando com todos os convidados da mesa o mais lindo casal que aquela cidade francesa já havia visto.

E, quando o Conde Dubois levou a taça aos lábios, Alexander sorriu de canto em contentamento, afinal, ele também receitava os medicamentos do pai.

Duas pílulas. Duas vezes ao dia.
Era tudo o que precisava.

[387 palavras]

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