Presente de Natal

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Os dedos cobertos pelo tecido macio da luva corriam pelas páginas suavemente. Ten leu, como se fosse pela primeira vez, a história de crianças que, em sua ingenuidade, personificaram sentimentos em suas imaginações. Era uma história colorida e divertida, e poderia ser lida em cerca de quinze minutos, trinta quem sabe, se o leitor ficasse admirando os detalhes gráficos.

Ele admitiu para si mesmo que boa parte de sua inspiração veio de 'O Pequeno Príncipe', seu livro favorito. Mas no começo não quis admitir em voz alta, acreditando que Taeyong não levasse literatura infantil à sério. Claro que ele se enganou, e no fim foi o próprio Taeyong que pontuou a sensação de familiaridade com a obra, apesar de cada detalhe da história deles ter sua própria identidade.

Eles levariam algumas cópias de todas as histórias para o hospital universitário, para onde boa parte dos projetos era voltado. A ala infantil estaria lotada, não fosse por cada projeto ter uma hora marcada para ser colocado em prática.

Enquanto estudantes de Teatro e Biologia saiam da ala, o grupo de Artes e Literatura entrava carregando pequenas caixas. Havia uma sala recreativa para as crianças internadas ou acompanhando pacientes, com brinquedos, puffs e uma estante esquecida em um canto. Ten viu dois garotos sujando as mãos de tinta e prensando-as contra folhas de papel, e inevitavelmente sorriu para eles.

Outras crianças foram levadas para a sala, suas expressões variadas. Eles não eram o primeiro grupo de universitários a romper com a rotina delas naquele dia, mas ainda era cedo e elas não estavam cansadas de gente estranha exigindo seu tempo, então não foi difícil de ganhar sua atenção.

- Oi! - Sooyoung acenou para todos, animada - Somos estudantes de Literatura e Artes e hoje viemos aqui para dar um presente pra vocês!

- Presente?! - as crianças se animaram, tentando se aproximar das caixas.

Uma garota de cerca de sete anos perguntou, puxando a manga do suéter de Sooyoung:

- Unnie, o que é? O que é?

- Quem aqui gosta de ler quadrinhos? - Ten perguntou, recebendo um grito animado como resposta. O seu coração passou a bater menos rápido, mas ele ainda estava nervoso com a reação dos pequenos.

As caixas foram abertas e os livretos revelados. Logo todas as crianças estavam espalhadas pela sala, em quase absoluto silêncio. As que ainda não tinham aprendido a ler apontavam para as figuras e mostravam para as outras, as que estavam aprendendo a ler balbuciavam as palavras devagar, concentradas, e as mais velhas liam para os pequenos ou sozinhas.

Ten estava concentrado em cada reação que sua história recebesse, então levou um susto quando Taeyong tocou seu ombro.

- Pode respirar agora. Eles estão gostando.

- Tem certeza?

Taeyong riu baixinho e disse:

- Por que não pergunta a eles?

Eles se aproximaram da primeira criança que tinha a sua história em mãos, cercada de outras, que ouviam atentamente enquanto ela lia e mostrava os desenhos.

- "Eles corriam pela areia, fugindo da água fria da maré alta. O medo do menino disse: 'vocês não deviam brincar na praia em um dia frio', mas a coragem da menina falou: 'vocês podem até pular nas poças deixadas pela maré alta, vai ser divertido'. O medo: 'Podem ter caranguejos escondidos nessas poças'."

Ten e Taeyong se olharam, o mesmo pensamento provavelmente circulava em suas mentes. A criança sempre apontava quem estava falando o quê, e depois mostrava a imagem para as outras. Era engraçado quando ela dizia: "o medo falou", ou "a coragem respondeu". E, antes que eles se dessem conta, estavam sentados ouvindo ela também.

Did You Know? - TaeTen -Onde histórias criam vida. Descubra agora