Longe dos Olhos

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*Frase da imagem: "Arrependimento encharca as pétalas brancas entre nós; mesmo que transparente, ainda está presente; pelo menos não machuca quando não se pode ver." - Jonghyun (Diphylleia Grayi).

N/a: gostaria de avisar que esse pode ser o capítulo mais triste da história. As últimas atts foram um combo de capítulos tristes, eu sei, por isso vou postar esse apenas quando o último estiver encaminhado para poupar sofrimento prolongado. Boa leitura!

O que inicialmente pareceu um resfriado inofensivo resultou em pneumonia severa. Por já ter danificado seus pulmões quando se afogou e na época em que fumava, era na verdade um milagre Taeyong não ter caído morto depois de se deixar ser apanhado por rajadas de vento invernal durante a madrugada.

Por duas semanas, ele ficou internado, passando seus dias entre os cuidados médicos, observar a neve aumentar e diminuir pelo vidro da janela e dormir interminavelmente.

Durante esse tempo, os únicos amigos com quem ele pôde manter contato foram Johnny e Doyoung, já que a família de Taeyong conhecia apenas eles. Johnny o visitava todos os dias, e Doyoung aparecia quando podia, já que tinha agora que dividir seu tempo entre os estudos, um estágio e o namoro. Ele pediu que não contassem para mais ninguém que estava internado, principalmente Ten. Eles relutantemente concordaram.

Por algum motivo, sua mãe nunca chegou a atravessar a porta. Taeyong pôde apenas ouvir discussões em tom acalorado no corredor. Ele compreendeu que sua avó havia, através da sua irmã, descoberto muitas coisas encobertas por seus pais. Como o incidente durante o ensino médio, ele ter se mudado para o dormitório da faculdade por ordem dos pais e a vez em que foi parar no hospital e levou um tapa de sua mãe.

Seu pai apareceu uma única vez, para avisá-lo de que uma caixa com todos os seus pertences que ficaram na casa deles estava agora em seu novo quarto, então ele não precisaria aparecer por lá e piorar os nervos de sua mãe.

Ele voltaria a viver com a sua vó, e um quarto com tudo o que ele tinha já o esperava na casa dela para ser ocupado assim que ele recebesse alta do hospital. A quantia mensal que ele recebia dos pais, criticada por sua vó como sendo muito pouca, também não seria mais necessária. Ele a ouviu dizer à sua mãe: "até meus funcionários de meio período recebem mais do que isso". Taeyong supôs que voltaria a trabalhar na confeitaria, e a sombra de um sorriso surgiu em seu rosto antes que ele voltasse a dormir.

Aquele par de pai e mãe compraram a solidão a que estavam fadados agora, e sua reação fria à esse último incidente só serviu para desgastar a pouca empatia que seus filhos tinham por eles. Taeyong e sua irmã tinham a oferecer a essas pessoas apenas pena.

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Chuva e ventos ferozes mantiveram-se perseverantes nos dias seguintes ao Natal, e isso afetava o humor das pessoas dentro da enorme casa. Cada integrante da família, aos poucos, decidiu se isolar para um dos muitos cômodos. Os filhos em seus quartos, o pai no escritório e a mãe na biblioteca. E assim se desenrolavam os dias, preenchidos do silêncio rondando pelos corredores, quebrado apenas pelas batidas do vento nas janelas e o barulho branco constante da chuva.

Depois de três dias, o som de instrumentos passou a espantar o silêncio, alcançando boa parte da casa e durando horas e horas.

O quarto de Ten estava interditado, podia-se dizer. A um canto, tubos de tinta em tons pastel estavam jogados indolentemente, alguns até abertos. Roupas ocupavam espaço no chão com panos manchados de tinta, já indistinguíveis uns dos outros. Uma lata de refrigerante foi largada em uma bandeja ao lado de uma xícara com café frio no fundo, esquecidas no criado mudo. Carvão e folhas de papel cobriam a escrivaninha e, próximo à janela, o papel de parede tinha sido arruinado por respingos de tinta.

Did You Know? - TaeTen -Onde histórias criam vida. Descubra agora